SILVANA MASCAGNA

À mestra, com carinho

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2015 | 03:00
 
 
hélvio

“Abrão tinha três mulheres, traiu a principal com uma escrava e, assim que a escrava engravidou, expulsou-a de casa. isaac tinha dois filhos, sendo que um deles, às vésperas da morte do pai, o enganou, fingindo ser o outro irmão que, aliás, era o preferido. já jacó, por sua vez, gostava mais de josé, o caçula, que foi vendido pelos irmãos a um mercador. jesus era filho de uma virgem, nunca se casou e tinha uma história enrolada com madalena. daí os caras vêm falar de família normal. família que, por sinal, quer dizer, em latim, agrupamento de fâmulos, ou servos. ah, gente, vão se catar”.

O texto acima é de Noemi, do blog Quando Nada Está Acontecendo. Meu preferido. Vira e mexe vou lá dar uma espiadinha para me elevar. Noemi escreve sempre assim, em minúsculas, mas é maiúscula em conteúdo.

Como não parar para refletir com as palavras acima?

E como não se sentir mais inteligente diante de: “o a de aparecer é a potência transformada em ato. como com a manhã o amanhecer, com a noite o anoitecer, também é assim com o parecer que, acrescido do a, vem à luz. apareceremos!”.

Aprendo tanto com Noemi!!!!

O que encanta em Noemi é que ela fala sobre tudo, tudo mesmo. De poesia a coisas do dia a dia. Mas em tudo há um quê de filosofia. Em tudo há um toque de sofisticação. A sofisticação de quem tem domínio da escrita, de quem tem intimidade com as palavras, de quem tem amor pelos livros.
Às vezes choro com seus pequenos grandes textos: “é melhor: um abraço do que o amor; um sim do que a verdade; um papagaio do que a natureza; um olhar do que a honestidade; uma panela de arroz do que a solidariedade”.

Em outras rio: “você aí, que está lançando dois livros no próximo dia treze, a partir das dezenove e trinta, na amoreira, que fica na rua dos macunis, número quinhentos e dez, com leituras de trechos dos livros por várias pessoas que você admira: convença-se: o mundo continua o mesmo e tudo vai dar certo. são paulo não vai parar por sua causa”.

E na maioria, dou um sorriso e agradeço pela internet me proporcionar descobrir pessoas como Noemi: “a confusão pronominal do português é complicada, mas, por vezes, pode ser literariamente interessante. por exemplo: a mãe perguntou à filha se ela gostava dela. essa frase é ambígua e é preciso reformulá-la para que se conheça quem é ela e quem é dela. mas, num certo sentido, essa ambiguidade é boa e a frase pode ganhar com essa indecisão. se fosse eu, manteria desse jeito mesmo, porque, afinal, essa mãe não está entendendo nada”.

O blog tem poucas informações sobre ela, a não ser seu nome, sua profissão (professora), que já escreveu alguns livros e que mora em São Paulo. É claro que os posts vão dando dicas: de que ela tem uma filha, é corintiana (ueba!!!), que votou em Fernando Haddad...

Fiquei muito tempo tentando imaginar como Noemi seria: seu rosto, seu tipo físico, se era casada, viúva, jovem, meia-idade, se era gay...

Ouro dia, a vi no programa “Saia Justa”. Continuo sabendo pouco sobre Noemi, mas, pelo menos agora, tenho um rosto para associar às lindezuras postadas no blog.

Publicado em 9.1.2013