Inspira, expira. Abstrai. Deixa a mulher falar para sua professora de pilates: “Precisamos acabar com essa corja de corruptos. Não dá mais. Esse governo tem que cair!”, depois de combinarem de se encontrar na manifestação de domingo.
Isso, pegue o celular, finja que recebeu uma mensagem e que precisa fazer uma ligação, antes que tenha que responder à convocação da senhora que faz curso de culinária com você: “Vamos fazer um ‘esquenta’ em casa antes da manifestação de domingo. Você vem?”
Apague a resposta ao post do colega que diz no Face que estava “emocionado ao ver tantos lutando pelo Brasil hoje (referindo-se ao último domingo)”.
Não, por favor, não vá mandar sua vizinha calar a boca, mesmo que seja a 15ª vez que ela grita na janela: “a nossa bandeira jamais será vermelha”.
Guarde pra você as verdades que você queria escrever para a amiga da sua mãe, que posta a foto de um gigante se levantando entre prédios, com a legenda “o Brasil acordou” no Instagram.
Inspira, expira. Abstrai. Finja-se de morta, chega de tratá-los como ignorantes que não sabem o que dizem, o que fazem. Eles sabem.
Sabem que nem de longe o Brasil corre o risco de “se tornar comunista”, afinal, o comunismo nem existe mais. Só fazem porque esse discurso deu certo em 1964, então...
Não, eles sabem – e lastimam – que, se a Dilma cair, “quem assume” não é aquele que foi citado três vezes na Operação Lava Jato, que construiu um aeroporto na fazenda do tio, aquele que recebeu propina de Furnas, isso, ele mesmo, o senador Aécio Neves.
Sabem que se a Dilma cair, quem assume é o Michel Temer, e, se ele cair, é o Cunha. Sabem que Temer e Cunha não são pessoas ilibadas, muito pelo contrário, mas isso não tem a menor importância, já que o objetivo é colocar no poder o “corrupto de estimação” deles.
Eles têm toda a consciência de que tirar alguém legitimamente eleito do poder é golpe e usar as pedaladas como desculpa para impeachment é de um cinismo violento porque sabem que essa é uma prática comum entre os governantes.
Inspire, expire, abstraia. Muito bem!
Não, calma, não... você estava indo tão bem, não, pera, eu sei... é revoltante ouvir o cara falando que vai votar no Bolsonaro em 2018... É, “Bolsomito”, é duro... Ah, dane-se, mete bronca!
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