SILVANA MASCAGNA

Já que você não é homofóbico, não seja

Pois, então, jovem, talvez você não saiba, mas pessoas que não são homofóbicas não costumam se importar se um jogador do seu time deu um selinho num amigo.

Por Da Redação
Publicado em 21 de agosto de 2013 | 03:00
 
 
ACIR GALVÃO

Ei, você aí que não é homofóbico, tenho um pedido para fazer: não seja. Sim, porque já temos trabalho suficiente com os homofóbicos, sabe? Então, quando você diz que não é, mas age como um, você acaba sendo, entendeu?

Vou desenhar para você para ficar mais claro. Por exemplo, você disse: “Não somos homofóbicos, mas se ele quer fazer essas coisas, que vá para outro clube. Aqui, no Corinthians, não”. Você e seus amigos fizeram até faixas com os dizeres “Vai beijar a PQP, aqui é lugar de homem” e “Viado não” para protestar na frente do clube, não foi?

Pois, então, jovem – uma pena não saber seu nome; em todas as matérias que li a seu respeito, te identificavam apenas como “um dos torcedores” –, talvez você não saiba, mas pessoas que não são homofóbicas não costumam se importar se um jogador do seu time deu um selinho num amigo. Na verdade, os não homofóbicos não estão nem aí para saber com quem faz sexo o jogador do seu time. O que essas pessoas querem saber, isso sim, é se o jogador do seu time está desempenhando bem dentro do campo. E, nesse quesito, você há de concordar comigo: nós, corintianos, não podemos reclamar do Sheik, não é não?

Você até falou que não estavam ali para protestar “por causa do time, que está bem, mas por causa dessa palhaçada que ele fez”. Disse ainda que “isso (o selinho) não é atitude de um jogador do Corinthians, e o mínimo que queremos é que ele faça um pedido formal de desculpas”.

Perdão, fulano – espero que você não se ofenda por chamá-lo assim –, mas a impressão que se tem é que você não sabe o significado da palavra “homofobia”. Embora seja motivo de discussão entre teóricos, por utilizar o sufixo “fobia” – medo irracional – , o que não é da concordância de alguns teóricos, o importante é você saber que ele é empregado para designar o ódio aos homossexuais, geralmente, demonstrado através de violência física e/ou verbal.

Então, quando fala e escreve tudo aquilo, você pode ser definido como homofóbico, sim, fulano, sinto te informar. Talvez você acredite que homofóbico é somente aquele que mata ou fere homossexuais, mas não. Homofóbico é todo aquele que tem aversão, preconceito contra gays.

Veja o seu caso. O Sheik posta uma foto na internet em que dá um selinho no amigo. E você, junto com seus amigos, se dá ao trabalho de fazer faixas e ir até a sede do Corinthians para protestar. Não é estranho tanto empenho e esforço para um cara que se declara não homofóbico? Se não é homofobia, como classificar o seu incômodo – vamos dizer assim – com o beijinho de Sheik?
E, quando você diz “se ele quer fazer essas coisas, que vá para outro clube. Aqui, no Corinthians, não”, você está falando em nome de quem?

Sim, eu sei, que existem muitos de vocês – embora no protesto de segunda não chegassem a meia dúzia, né? – que, pelo simples fato de Sheik ter dado um beijinho no amigo, quer vê-lo longe, de preferência no São Paulo.

Mas você não pode falar em meu nome, nem do Casagrande, que achou o protesto de vocês uma grande bobagem, nem do Neto, nem de nenhum corintiano conhecedor da história do time.
Porque eu quero o Sheik no meu time para sempre, não é só pelo que tem apresentando como jogador, mas justamente pelo selinho.

Olha, fulano, eu tenho lado nessa questão. O mesmo que Sheik, aliás, que mesmo sabendo da polêmica que iria causar resolveu protestar contra esse “preconceito babaca”, contra o machismo no futebol. Porque Sheik mostrou que, além de bom atacante, é bom cidadão.

Mas sabe o que me deixa feliz nessa história toda? É que você não assumiu ser homofóbico não porque não seja, de fato. Mas porque você sabe que não pega bem nos dias de hoje bater no peito para demonstrar ódio aos homossexuais. Isso graças a centenas de pessoas que lutam todos os dias pelos direitos dos homossexuais e que querem ver a homofobia ainda virar crime neste país.

E, em tempo, quem nos deve desculpas é você, fulano, e seus amigos. A Fiel não merece homofóbicos, assumidos ou não.