Um adolescente começa a gritar, exigindo que um homem saia do bonde, em que ambos e outras várias pessoas se encontram. “Seja deportado. Saia do bonde agora. Cara, eu vou destruí-lo. Volte para a África”, diz o jovem de boné, muito irritado.
O homem reage: “Quantos anos você tem? 18? 19? Estou aqui há mais tempo que você. Você é extremamente ignorante. Você não é muito inteligente. Sabia disso?”
O jovem não para de gritar as mesmas coisas, mas não há nenhuma reação dos outros passageiros. A não ser a de outro adolescente, que chega perto do que eles chamam de “imigrante” e diz calmamente “eu vou tirá-lo do bonde agora”. Neste momento, dois jovens se aproximam, e um deles atira um pouco de cerveja em direção ao homem. As pessoas no bonde finalmente começam a reagir, e os jovens descem do veículo. Uma mulher chama-os de “desgraça para o Reino Unido”.
Esse triste episódio aconteceu ontem em Manchester e foi registrado por mais de uma pessoa.
Na sexta-feira, em Londres, a portuguesa Fátima Lourenço foi atacada por um grupo de jovens, com idades entre os 18 e os 20 anos, que lhe cuspiram na cara e lhe agrediram na rua com uma bandeira inglesa. Conterrâneo de Fátima, Joe Barreto também foi vítima de um episódio de xenofobia, quando passageiros de um carro cuspiram nele e o insultaram, em Thetford, na região de Norfolk.</CS>
A sede da comunidade polonesa em Londres foi pintada com a inscrição “vão-se embora”. Os poloneses, aliás, estão sendo chamados de “praga” no Sul da Inglaterra, e um italiano perdeu um dente depois de brigar com um inglês, na capital da Inglaterra.
Há vários relatos nas redes sociais e, imagino, muitos outros fatos igualmente revoltantes acontecendo por lá e que nunca serão conhecidos. O que se sabe é que autoridades britânicas já admitem um aumento de mais de 50% nos registros de casos de xenofobia e racismo.
É o resultado mais imediato do Brexit, a saída do Reino Unido da Comunidade Europeia. E não faz nem uma semana que isso aconteceu.
Quando vejo tudo isso, só me vem uma coisa à cabeça: o Museu Britânico. Ali estão esculturas retiradas da frisa exterior do Partenon, em Atenas; uma das múmias egípcias mais estudadas, original de Tebas; uma das famosas esculturas de pedra conhecidas como Moai; a pedra com inscrições em três línguas, que foi a chave para decifrar os hieróglifos egípcios, entre centenas de outros tesouros. Não seria nada mau se os imigrantes, antes de fazerem suas malas, exigissem que o Reino Unido devolvesse a quem de direito tudo o que ROUBOU de vários países e que chama orgulhosamente de “britânico”.
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