Tostao

As coisas vão e voltam

Publicado em: Qua, 02/11/16 - 02h00

Será uma surpresa se Grêmio e Atlético não fizerem a final da Copa do Brasil. O Galo, no Independência, provavelmente contra o misto do Internacional, pode até perder por 1 a 0. Como o Cruzeiro teve algumas boas atuações fora de casa, contra fortes adversários, há uma esperança de que a equipe reverta o placar de 2 a 0 do Mineirão.

No primeiro jogo, o Cruzeiro não pressionou na marcação, como em outras partidas, e deixou o Grêmio fazer o que sabe melhor, trocar passes e ter o domínio da bola. O Grêmio jogou no mesmo estilo e com a mesma qualidade das melhores partidas sob o comando de Roger. Renato Gaúcho pegou o time pronto, mas que passava por um mau momento. Teve apenas que fazer alguns ajustes.

No primeiro gol do Grêmio, a troca de 24 passes e a finalização de Luan foram belíssimas. Fiquei dividido. Lamentei e aplaudi de pé.

Maicon raramente erra um passe. Ele, assim como Casemiro, titular da seleção, foram muito criticados no São Paulo, pela torcida e por parte da imprensa. Eram rotulados de lentos, por gostarem de trocar passes curtos e de ficarem com a bola. Era um período medíocre do futebol brasileiro, que começa a mudar. A função dos volantes era apenas marcar, trombar e tocar a bola para o lado. Paradoxalmente, foi a época dos supertécnicos.

Havia exceções. Luxemburgo gostava de escalar meias ofensivos para atuar como volantes, para melhorar o passe de trás, como fez com Rincón.

No programa Resenha, da ESPN Brasil, Luxemburgo criticou a obsessão dos técnicos de todo o mundo pelos treinamentos de dois toques em campos reduzidos. Penso da mesma forma e já escrevi sobre isso. É um ótimo treino, para melhorar a capacidade dos jogadores de trocar passes em pequenos espaços. Porém, essa excessiva prática, sem outros treinos complementares, diminui a lucidez de fazer as coisas certas, de saber o momento de dominar e passar ou de driblar, improvisar.

Vivemos a época da adoração ao passe, à posse de bola e ao jogo de dois toques, símbolos do futebol coletivo. Foi um avanço técnico. Isso se tornou uma referência na Europa há mais de dez anos e, recentemente, passou a ser importante no Brasil.

Por outro lado – há sempre um outro lado –, suspeito que na Europa, haverá, brevemente, um cansaço, um esgotamento desse estilo, de muita troca de passes. Assisto a vários jogos da Europa, e muitos costumam ser quase iguais, repetitivos, às vezes, chatos. Ainda bem que existem os craques para transgredir e inventar.

Poderemos chegar à situação em que as equipes sul-americanas, que tentam fazer o mesmo, atinjam o nível técnico atual da Europa, no momento em que os europeus estiverem em outro estágio, o de incentivar o drible e a improvisação, características do futebol da América do Sul. Estaremos atrás deles, e eles, atrás de nós. Isso já acontece, em parte, com a contratação, pelos europeus, de tantos meias e atacantes sul-americanos rápidos, dribladores e que gostam do confronto individual.

O futebol está globalizado. Temos que seguir o modelo das coisas boas de fora, mas a América do Sul e a Europa não podem perder suas particularidades. Temos que atingir o equilíbrio entre o talento individual e o coletivo, entre o drible e o passe, entre o programado e a improvisação. Mas cada um faz do seu jeito.

Decisões

Penso que o Cruzeiro, em vez do discurso e do comportamento tradicionais, de ter paciência para tentar fazer o primeiro gol e, depois, procurar o segundo e o terceiro, sem correr muitos riscos, deveria adotar uma marcação por pressão, desde o início, para não deixar o Grêmio tocar a bola, como gosta, e recuperá-la no campo do adversário. É arriscado, mas é preciso, nessa situação, desde que faça isso com organização e sem deixar muitos espaços em sua defesa.

Já o Atlético deveria repetir a maneira de jogar, que tem tido sucesso, no Independência, tentando fazer gols, sem excessivas preocupações defensivas, para segurar a vantagem.

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