TOSTÃO

Conhecer e saber fazer

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2016 | 03:00
 
 

No “Bem Amigos”, do SporTV, a maioria dos comentaristas opinou que a seleção brasileira reagiu para empatar com o Paraguai, em 2 a 2, quando perdia por 2 a 0, porque o adversário foi todo para trás. Dunga e Gilmar Rinaldi, presentes no programa, retrucaram com veemência e disseram que o Brasil reagiu por causa da mudança tática e de jogadores feitas pelo técnico.

Penso que as duas coisas ocorreram simultaneamente, ação e reação, comum no futebol. Muitas coisas não se explicam, acontecem. Assim é também na vida. Alguns analistas, geralmente os mais científicos, acham que todas as movimentações e escolhas dos jogadores são consequências do planejamento feito pelos treinadores. Daí a supervalorização dos técnicos, nas vitórias e nas derrotas, o que estimula a troca frequente no comando, uma das razões da má qualidade coletiva das equipes.

O mérito de Dunga e da seleção contra o Paraguai foi de marcar por pressão, com organização, trocando passes, sem jogar demais a bola na área. A substituição de um volante por um meia foi o menos importante.

A lição do jogo, que não sei se Dunga vai aproveitar, é que não precisa perder por 2 a 0 para mudar a estratégia. Isso deveria ser uma alternativa habitual. A seleção não tem o costume de pressionar, de recuperar a bola no campo adversário nem de fazer o que é mais frequente, recuar e fechar os espaços para contra-atacar. Não tem identidade.

A maior qualidade de um treinador não é ter profundos conhecimentos científicos, o que Dunga não tem. Isso é essencial, mas não adianta, se o técnico não definir o que quer e não saber fazer com que os jogadores executem bem o que foi proposto.

Quando Bauza substituiu Osorio no São Paulo, escrevi que saía um treinador moderno, com ótimas ideias, que dava excelentes entrevistas, mas que, no jogo, costumava ser confuso, nas escalações, substituições e excessivas mudanças. Disse ainda que chegava um técnico que, por seus trabalhos anteriores e entrevistas, parecia ser extremamente seguro, decidido, e que sabia executar bem o que queria. Hoje, tenho certeza, pelo menos por enquanto. As certezas são perigosas.

A visão e as análises dos comentaristas não deveriam ser as mesmas dos treinadores. Temos também compromisso com a qualidade do espetáculo. Vencer é fundamental, mas é muito melhor vencer de uma maneira prazerosa. Isso fortalece e promove o crescimento do futebol. Por outro lado, jogar bonito, sem eficiência, não adianta nada. O estilo de jogar de alguns técnicos, como Bauza, não é o que mais me agrada, mas tenho muita admiração por eles, por saberem fazer bem.

Com o crescimento coletivo, as deficiências individuais do São Paulo não são mais tão gritantes. Os dois zagueiros têm jogado muito bem, porque são muito protegidos. Pena que a partida entre Atlético Nacional e São Paulo só será em julho, uma demonstração da desorganização sul-americana.

Apesar das minhas constantes críticas à supervalorização dos treinadores, vou cometer uma incoerência e dizer que, nos dois jogos equilibrados entre São Paulo e Atlético, os fatores mais decisivos foram os detalhes técnicos, o imponderável e a eficiência do treinador do São Paulo.

Eliminação

A exagerada expectativa, criada por torcedores, diretores e parte da imprensa, de que o Atlético tem o melhor elenco e time do Brasil deixa a impressão de que a eliminação da Libertadores foi um fracasso, uma decepção, uma surpresa. Não é por aí. As chances eram quase as mesmas. O Atlético já poderia ter sido eliminado contra o Racing, pois foram também dois jogos equilibrados.

Além disso, Rafael Carioca, Robinho e Luan, que já não atua há um bom tempo, fazem falta. O elenco não é tão bom como falam. Patric mostrou nesse jogo que pode ser um bom reserva para as laterais, mas não um dos meias pelos lados. Aguirre cometeu vários erros pontuais, mas não é por causa dele que o time foi eliminado.