Tostao

Dunga não quer, mas precisa

Publicado em: Qua, 07/10/15 - 03h00

Se Ronaldinho tivesse jogado, por muito tempo, no nível técnico dos dois anos seguidos em que foi o melhor do mundo, estaria hoje entre os maiores da história. Em vez de tantas discussões sobre as causas de seu rápido declínio, poderíamos fazer um raciocínio inverso, o de tentar compreender os motivos de ele ter sido tão fenomenal durante dois anos. Atípico seria esse período. O mesmo ocorre com outros jogadores, de diferentes níveis técnicos.

Amanhã, contra o Chile, um jogo sem favorito, o Brasil deve atuar com Douglas Costa e Willian, pelas pontas, com Hulk, de centroavante, e, provavelmente, com Oscar, de meia, pelo centro, no lugar de Lucas Lima. Se estivesse Neymar, poderia sair Willian, passando Douglas Costa para a direita; Oscar, com Neymar formando dupla com o centroavante; ou Hulk, com a equipe sem centroavante.

Oscar (ou Lucas Lima) deveria jogar mais como um terceiro do meio-campo, um meio-campista, do que mais próximo da área, como um meia-atacante. Prefiro Lucas Lima, por ser mais armador, organizador. Os clubes e a seleção brasileira, com algumas exceções, perderam a capacidade de se juntar no meio-campo, de trocar passes, de ficar com a bola, de impor o jogo, de armar e de atacar em bloco. Vivem de bolas esticadas, de estocadas e de lances individuais e isolados.

Como o Chile avança e pressiona em campo, os rápidos e habilidosos meias e atacantes brasileiros devem ter mais espaço no contra-ataque. Essa é uma das razões das habituais vitórias do Brasil.

Douglas Costa tem brilhado no Bayern de Munique porque o time domina a partida, recupera a bola no campo do adversário e, rapidamente, a entrega a ele, com apenas um marcador à frente. Douglas é rápido, habilidoso e cruza bem.

Dunga tenta se livrar de alguns jogadores, mas não consegue. Novamente, Daniel Alves ficou fora e só depois foi chamado, por causa da saída de um lateral. Será, mais uma vez, o titular. Com Fabinho, é o contrário. Dunga não quer se livrar dele, mas não o escala. Com Marcelo, ocorre algo parecido. Na Copa América, só foi chamado por causa da contusão de Filipe Luís e foi titular. Dunga gosta mais de Filipe Luís, mas não consegue se livrar de Marcelo, que tem jogado demais no Real Madrid.

Dunga tentou também se livrar de Hulk, que ficou muito tempo sem ser convocado por causa de um desentendimento sobre a condição física do jogador. Mas não conseguiu, pois não há opção melhor.

A bola da vez é Thiago Silva, ainda mais depois do pênalti cometido contra o Paraguai. Imagino também que não vá conseguir se livrar dele. Em vez de bani-lo, Dunga deveria recuperá-lo para a seleção. Thiago Silva continua brilhando na PSG, muito mais que David Luiz e Marquinhos, zagueiros convocados.

Outra incoerência é a convocação de Kaká, que só foi chamado porque Philippe Coutinho se contundiu. Se Kaká é tão importante, como dizem, por sua experiência e por ser um conselheiro dos jogadores, por que não foi chamado antes? Dunga deveria se livrar de si próprio, de seu dogmatismo, de sua estreiteza, de achar que só existem uma verdade e uma maneira de vencer.

Evolução

Contra o Grêmio, na rodada passada do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro, mais uma vez, foi um time organizado, disciplinado, bem distribuído, sem deixar o adversário trocar passes e capaz de envolvê-lo dentro de campo. Havia sempre vários jogadores para desarmar os gremistas. Até aí, tudo bem. O problema é a falta de qualidade individual do meio para a frente. Não há, no meio-campo e no ataque do Cruzeiro, um único jogador de ótima qualidade, mesmo para o nível do futebol que se joga atualmente no Brasil, que não é lá grandes coisas. Sem Alisson, esse setor fica ainda pior.

O Atlético, contra o Coritiba, voltou a jogar muito bem, principalmente, Lucas Pratto. Centroavante não é só para finalizar e marcar os gols. Precisa se movimentar e dar também bons passes para os companheiros. E foi o que ele conseguiu fazer muito bem no jogo.

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