Tostao

Expiação da culpa

Publicado em: Dom, 16/10/16 - 02h00

Após a conquista da medalha de ouro, de quatro boas atuações e da liderança nas Eliminatórias, se o Brasil tiver uma vitória convincente contra a Argentina, no Mineirão, local da tragédia dos 7 a 1, não seria um marco simbólico do fim da depressão, do luto, mesmo não sendo contra a Alemanha nem uma vitória por uma grande diferença de gols?

Sepultar os 7 a 1 não seria apagá-los, o que é impossível. Continuarão vivos em nossa memória. Mas, seria bom acabar com a prática de remoer a tragédia, como se fosse um martírio, uma culpa que precisa ser vivenciada, expiada, para sempre.

Uma correção e/ou explicação. Indaguei, na coluna anterior, se não estaria na hora de esquecer o futebol ultrapassado que se jogou no Brasil durante uns 20 anos, para iniciar uma nova era. Poderia ter dito 14 anos, já que o Brasil foi campeão do mundo em 2002. Falei 20 anos porque, no início desse período, mais ou menos em 1996, quando comecei a ver jogos com o olhar de comentarista, o futebol brasileiro estava muito ruim, como em todo o mundo.

Muitos jornalistas alemães, presentes na Copa de 2002, disseram, logo após o Mundial, que a seleção alemã, vice-campeã, era a pior de sua história. Isso mostra a pouca qualidade do futebol na época. A partir daí, começou um plano de recuperação, na Alemanha e em toda a Europa, o que não foi acompanhado no Brasil, como se aqui estivesse tudo ótimo, por causa do título. Isso só começou recentemente, com Tite no Corinthians, antes do Mundial de 2014. Após os 7 a 1, os treinadores acordaram e começaram a mudar, apesar dos vícios acumulados durante longo tempo continuarem ainda impregnados.

A Seleção com Tite contraria o lugar-comum de que é necessário um longo tempo para se formar um ótimo conjunto. Uma das razões disso é que jogadores que atuam na Europa perceberam que os conceitos e as estratégias do técnico brasileiro são parecidos com os que estão acostumados. Com Felipão e Dunga, era bem diferente. Ficavam perdidos.

Se Renato Augusto continuar, até a Copa, com ótimas e surpreendentes atuações, muito melhores do que teve em sua longa carreira, e se Gabriel Jesus se tornar um centroavante excepcional, vai melhorar muito a qualidade e o nível técnico da geração atual. O que não se deve é criar uma expectativa de que Gabriel Jesus será um Romário, um Ronaldo. Aí, é querer demais.

Nesta reta final e decisiva do Brasileirão, provavelmente, veremos jogos com muita emoção, muito tumultuados, com muita reclamação em relação aos árbitros, com muita disputa física, faltas violentas e com menos qualidade técnica. Hoje, vai pegar fogo, com o Internacional, precisando ganhar de qualquer jeito para fugir do rebaixamento, contra o Flamengo, que também precisa vencer para ser campeão. Palmeiras e Atlético têm jogos dificílimos fora de casa, contra Figueirense e Botafogo.

O Flamengo confia na volta ao Maracanã. Se o Palmeiras não tivesse uma casa fixa, como não teve os rubro-negros, estaria em primeiro lugar? Não sei.

Os times, técnicos e jogadores brasileiros precisam aprender a unir a garra e o talento, a velocidade e a cadência, a intensidade e a lucidez, a inspiração e a expiração. Não é uma coisa ou outra. Quem conseguir fazer isso terá mais chance de vencer.

Boas atuações

O Cruzeiro, que já tinha jogado melhor que o Flamengo, quando perdeu, teve mais chances de ganhar o jogo contra o Palmeiras. Foi incrível o gol perdido por Robinho, evitado pela inteligência e esforço de Zé Roberto. Rafinha tem crescido. Mas ainda sinto a falta de De Arrascaeta, próximo de Ábila. Para isso, teria que sair Rafinha ou Sóbis, que jogam pelos lados. Robinho, mesmo quando não está muito bem, é importante, pelos passes, pela inteligência.

A vitória do Atlético sobre o América, por 3 a 0, foi um placar exagerado, já que o Coelho teve muitas ótimas chances de marcar. Aumentaram as chances de o Atlético chegar ao título, ainda mais que vai enfrentar Flamengo e Palmeiras em Belo Horizonte.

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