Tostao

Sábios das pranchetas

Publicado em: Dom, 06/09/15 - 03h00

Repito, o Brasil nunca deixou de formar um grande número de bons jogadores. A deficiência está na ausência dos excepcionais, especiais, de nível técnico intermediário entre os bons e um Neymar. Isso não ocorre por acaso, por entressafra nem porque não há mais campos de terra, um chavão saudosista. Faltam competência e seriedade profissional.

Evidentemente, há muitos profissionais sérios e eficientes nas categorias de base. Porém, muitos são escolhidos apenas para preencher uma vaga ou por indicação de amigos. Os treinadores com mais talento querem trabalhar nas equipes principais, à procura de sucesso e dinheiro, desejos habituais do ser humano. Os clubes não oferecem também boas condições técnicas e financeiras para os treinadores da base.

Há muitas discussões sobre se é melhor ter um ex-jogador ou um acadêmico na formação de atletas. Assim como existem preconceitos com os ex-jogadores, como se não tivessem preparo acadêmico e intelectual, há também preconceitos com treinadores formados nas faculdades, que não teriam a experiência prática dos ex-atletas. Há treinadores bons e ruins com as duas características.

Proliferaram as escolinhas particulares, vinculadas ou não aos clubes, e criou-se uma indústria para produção em série, para exportação. Os jovens com muito talento são colocados na mesma forma dos outros. Quase todos ficam parecidos.

Estudos mostram que a habilidade e a criatividade surgem na infância. Por isso, os meninos deveriam brincar com a bola, sem regras e sem professores, para, depois, na adolescência, nas categorias de base, aprenderem a técnica, a tática, as regras e as posições em campo. Os professores costumam fazer o contrário. Ensinam a técnica, antes de os meninos desenvolverem a criatividade e a inventividade e de terem um preparo psicomotor adequado.

Mesmo os melhores técnicos da base repetem as coisas boas e ruins que fazem os das equipes principais. Os Zé Regrinhas dominaram o futebol brasileiro. A excessiva e precoce padronização inibe a criatividade. São os sábios das pranchetas e da informação. Sabem muito e conhecem pouco. O conhecimento vai muito além da informação.

Empresários agenciam a carreira dos jovens, dos marmanjos, dos técnicos, muitos do mesmo time, além de participarem da transação dos clubes. Com frequência, um jogador que o técnico quer escalar não é o que querem empresários e dirigentes, por não gerar lucro. Dizer que não há um conflito de interesses em tudo isso é desconhecer a desmedida ambição humana.

Nos últimos tempos, no Brasil, mesmo os técnicos estudiosos e com qualidade cometeram o equívoco de seguir o modelo errado, o de privilegiar os chutões, a pouca troca de passes, as jogadas aéreas, o jogo truncado e tantos outros detalhes medíocres. Isso começou a mudar, recentemente. Os treinadores mais jovens, além de bem informados, não têm esses vícios. Outros, mais experientes, têm estudado e mudado seus conceitos.

Mas há ainda os metidos a besta, como Luxemburgo, que estão sempre com seus discursos repetitivos, ultrapassados, além de dizer que não viram nada de novo na última Copa.

Mineirão: 50 anos

Ontem, foi o aniversário do Mineirão. Tenho uma foto com o zagueiro Bueno, do Atlético, durante a construção do estádio. Antes da inauguração, a seleção mineira treinou e ficou concentrada uns 15 dias na colônia de férias do Sesc. Eu tinha 18 anos e, no início, era reserva, pois havia dois excelentes atacantes, famosos, Silvestre, que foi titular da seleção mineira campeã brasileira em 1963, e Jair Bala, meu ídolo e do América, que, depois, jogou no Santos de Pelé. Nos treinos, ganhei a posição de Jair Bala. A seleção venceu o River Plate, por 1 a 0, gol de Buglê, que foi meu companheiro no Vasco.

Por causa do Mineirão e do grande time do Cruzeiro da época, que só existiu graças ao estádio, joguei a Copa do Mundo, no ano seguinte, em 1966, e, depois, em 1970, quando o Brasil foi campeão. A vida continua.

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