Tostao

Só enxerga quem sabe ver

Publicado em: Qua, 04/11/15 - 02h19

Em 2000, vi, pela primeira vez, o tal do “nó tático”, um chavão do futebol, tão falado na imprensa, dado por Tite, técnico do Grêmio, no grande estrategista Luxemburgo, treinador do Corinthians, na decisão da Copa do Brasil, no Pacaembu. Terminou 2 a 0 para o Grêmio. Poderia ter sido uma goleada. O Grêmio marcou por pressão, e o Corinthians não passou do meio-campo. Fiquei impressionado. Achei que Tite era o melhor técnico do mundo.

Anos depois, alguns torcedores do Atlético disseram que Tite foi o pior treinador da história do clube. Deve ser por causa do rebaixamento, em 2005.

Tite, em sua carreira, como todos os treinadores, teve sucessos e insucessos. Ele estudou, evoluiu. Como os técnicos são supervalorizados, nas vitórias e nas derrotas, ele, certamente, será ainda muito elogiado e criticado. Neste ano, o Corinthians foi eliminado da Libertadores (no momento em que o time era endeusado, como hoje), da Copa do Brasil, além de perder o Estadual.

Tite e Mano Menezes iniciaram, anos atrás, mudanças na maneira de jogar das equipes brasileiras. Antes, predominavam os chutões, os longos espaços entre os setores, a divisão no meio-campo entre os volantes que marcam e um único meia de ligação, o avanço dos laterais para jogar a bola na área, a marcação individual e muitas outras mediocridades. Paradoxalmente, foi a época dos supertécnicos. Falo disso há quase 20 anos. Não foi por causa dos 7 a 1.

O sistema tático com quatro defensores, dois volantes em linha, três meias e um centroavante (4-2-3-1), ainda chamado de “esquema da moda”, está ficando velho. Independentemente do desenho tático, o Corinthians e várias equipes da Europa jogam com apenas um volante, um centroavante e quatro jogadores entre eles, que marcam e atacam em bloco e que atuam de uma intermediária à outra. O Corinthians marca com cinco (Ralf e os quatro do meio) e avança com cinco (os mesmos quatro mais Vágner Love). Nessa formação, não há a chata e ineficiente troca de passes laterais entre os dois volantes.

O Corinthians e a maioria das equipes europeias não têm mais o clássico meia de ligação, único responsável pela armação das jogadas. Elias (ou Rodriguinho), Renato Augusto, Jádson e Malcom, pela esquerda, fazem essa função.

Outra qualidade do Corinthians é alterar, durante a partida, a marcação mais recuada para contra-atacar com a por pressão, como fez contra o Atlético. Isso evitou que o Galo pressionasse e tomasse conta do jogo.

Durante grande parte do campeonato, o Atlético era considerado o time mais encantador. Bastou perder o jogo e o título para acabar o encanto. O futebol brasileiro vive de rótulos. Agora, o time que joga bonito é o Santos, enquanto o do Corinthians continua sendo o pragmático.</CS>

O Corinthians, além e suas qualidades individuais e táticas, mostra, para quem sabe e quer enxergar, que jogar bem e bonito não é apenas usar de efeitos especiais. São bonitos também a aproximação dos jogadores, a troca de passes, a triangulação, a capacidade de defender e de atacar com vários jogadores e outros belos detalhes coletivos.

Esperança

Parabéns ao Sada Cruzeiro, bicampeão mundial de clubes de vôlei.

No fim de semana, praticamente terminaram as esperanças de o Atlético ser campeão e de o Cruzeiro conseguir uma vaga na Libertadores. Mas sobram esperanças de o América voltar à Série A. Ontem, o time enfrentaria o Paysandu.

Até o primeiro gol do Corinthians, o jogo era equilibrado. Depois, em uma falha individual de Edcarlos, o Atlético foi para frente e o Corinthians, com talento e sangue frio, fez mais dois. Faltou mais lucidez e tranquilidade ao Atlético, com muitos erros de passe. O Cruzeiro, em um campo encharcado, sem condições, empatou e ficou muito longe da vaga.

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