VIDA SAUDÁVEL

Iras e irritações

A ira não só faz parte dos sete pecados capitais, mas é a expressão máxima do nosso descontrole emocional

Por Dr. Telmo Diniz (CRM-MG 25.398)
Publicado em 09 de junho de 2019 | 03:00
 
 

Você, caro leitor, já ficou irritado com alguém ou com alguma situação? Para a maior parte das pessoas, a resposta possivelmente seria um “sim”. Entretanto, a ira vai muito além de uma simples irritação. Não só faz parte dos sete pecados capitais, mas é a expressão máxima do nosso descontrole emocional. Vejamos, então, como é possível reverter a energia de um episódio de fúria a nosso favor – e a de terceiros.

Normalmente, o que se espera de uma pessoa frente aos problemas e obstáculos que a vida impõe é que ela tenha autocontrole, sem irritabilidades e explosões de fúria. Porém, uma pessoa cronicamente estressada e irritada começa a achar “normal” seus quadros de mau humor crônicos, e isso vai se tornando um ciclo vicioso. A irritação e os acessos de raiva, em geral, não estão direcionados a uma pessoa ou a uma situação em particular. O sujeito simplesmente sente uma impaciência o tempo todo, o que gera intolerância, aborrecimento, vazio e um tédio que parece não acabar. Há dias em que a pessoa não aguenta a si própria. A vida vai ficando em “preto e branco”.

Existem sintomas que precedem os episódios de ira. Entre os mais comuns estão o baixo controle dos impulsos e o descontrole emocional. A pessoa tende a reagir de modo exagerado a determinados estímulos que outras pessoas conseguem suportar melhor, ou seja, existe uma baixa tolerância às frustrações. É o que a gente costuma chamar de “estopim curto”. Ocorrem desgastes pessoais e uma sensação de total intolerância. A pessoa tende a se tornar ranzinza e a se isolar socialmente.

Pessoas assim compartilham alguns comportamentos, como gritar e/ou permanecer inquietas. Normalmente, estão sempre tensas; frequentemente têm comentários críticos a fazer; sofrem com problemas digestivos e têm dificuldades em ter um sono reparador. É importante observar que acordar de mau humor depois de uma boa noite de sono deve ter algum significado. Irritações e episódios de fúria podem estar relacionados a vários fatores clínicos e/ou psicológicos, como intestino preso (constipação), enxaqueca ou dor de cabeça crônica, anemias por deficiência de ferro, doenças da tiroide, tensão pré-menstrual (TPM), insônia, infecções, transtorno de humor (distimia), transtorno de ansiedade, depressão, fadiga crônica etc.

A persistência de uma irritabilidade constante, por dias e até meses, pode ser um problema médico e/ou psicológico sério. Portanto, uma ajuda especializada pode se fazer necessária. Pense que, para expressar mau humor, você precisa movimentar 102 músculos da face. Ao contrário, para sorrir, apenas seis. Tente enxergar a vida mais colorida.

O filósofo grego Sêneca disse, em uma de suas passagens, que “uma ira desmedida acaba em loucura; por isso, evite a ira, para conservar não apenas o domínio de si mesmo, mas também da sua própria saúde”.

Faça uma boa semana.