Vida saudável

Omeprazol e correlatos

Redação O Tempo

Por Dr. Telmo Diniz
Publicado em 04 de fevereiro de 2017 | 03:00
 
 

O uso das medicações para problemas do estômago tem indicações específicas e por tempo determinado pelo médico. Porém, há pessoas que usam essas medicações por meses e até anos, sem saber que podem provocar outros problemas de saúde no longo prazo. 

A FDA (agência norte-americana para controle de medicações e alimentos) já fez vários alertas sobre essa classe de drogas, mais conhecidas no meio médico por inibidores da bomba de prótons (IBPs), da qual fazem parte o omeprazol, o pantoprazol e o esomeprazol. O uso prolongado (e mesmo abusivo) por parte da população pode causar má absorção de nutrientes, vitaminas e minerais, além de colaborar com fraturas ósseas e infecções intestinais.

Estas medicações, quando usadas em doses elevadas, estão associadas a um risco aumentado de Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico, de acordo com um estudo apresentado recentemente na reunião anual da American Heart Association, realizada em novembro de 2016, em Nova Orleans (EUA). Os pesquisadores analisaram os registros de 244.679 pacientes dinamarqueses, com idade média de 57 anos. Durante cerca de seis anos, 9.489 pacientes tiveram seu primeiro acidente vascular cerebral isquêmico. 

A equipe descobriu que os IBPs estavam associados a um risco global aumentado de acidente vascular cerebral de 21% dos pacientes. No entanto, o risco parece estar relacionado a altas doses dos medicamentos. A extensão do risco também dependia do tipo de medicação tomada. Na dose mais elevada, o risco de AVC variou de 30% para lansoprazol a 94% para pantoprazol.

Por serem medicações normalmente bem toleradas, com efeitos colaterais muitas vezes imperceptíveis, as pessoas continuam a usá-las mesmo sem o conhecimento do médico. Elas reduzem cerca de 95% da produção diária do ácido clorídrico. Por isso, é importante ressaltar que a produção de ácido pelo estômago tem finalidades específicas, como ajudar na digestão dos alimentos, preparar o bolo alimentar e todos os nutrientes para serem absorvidos de forma adequada a nível intestinal e ser uma barreira de proteção (qualquer bactéria ou microorganismo que entrar pela via digestiva não resiste à ação do suco gástrico).

Portanto, se usamos estas medicações por longo tempo, corremos o risco de apresentar problemas para absorção de vários nutrientes, entre eles o cálcio, magnésio e vitamina B12. Os dois primeiros são muitos importantes para saúde óssea, enquanto a B12 tem importância fundamental para a memória. Segundo a FDA, isso pode levar ao aumento do risco de fraturas ósseas, quadros de demência orgânica e de diarreias causadas pela bactéria Clostridium difficile, pois, como dito acima, o ácido anula o efeito de proteção, facilitando o crescimento de bactérias patogênicas.

É de grande relevância o uso racional destes medicamentos, especialmente em idosos, pois a falta da vitamina B12 vai favorecer o aparecimento de demências, anemia e dano neurológico. A ocorrência de diarreias e fraturas ósseas, pelo mesmo motivo, deve ter seu uso de longo prazo revisto em pessoas da terceira idade. Fica o alerta. 

 

Faça uma boa semana.