Opinião

A moral para bem governar

É preciso um pacto nacional de superação, de despertar a consciência

Por Vittorio Medioli
Publicado em 30 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 

Trata-se de assunto espinhoso tanto quanto corajoso, que poderá gerar incômodos, contudo temos que pensar em 220 milhões de brasileiros, quando o que está em jogo é o futuro deles na próxima eleição. Este é o momento de começar a refletir e analisar os pretendentes para definir o que pode ser melhor para um Brasil que frustra a meio século o “despertar em seu berço esplêndido”. Chega de aumentar misérias e sofrimentos! É preciso um pacto nacional de superação, de despertar a consciência. Necessário ainda encarar nossos problemas endêmicos ligados ao mau uso dos recursos públicos, à burocracia, à demagogia, à enganação, a virtudes e defeitos de nossos representantes.  

Infelizmente, existe uma corrupção avassaladora, sempre à espreita dos erários públicos, custe o custar. A corrupção é o mal maior que arrasa o Brasil. Ficar livre dela é o grande desafio de 2022. 

Vimos na última semana que a taxa de desemprego diminuiu em 2021, e a imprensa deu mais ênfase à diminuição de renda assalariada, justamente no segundo ano da maior crise econômica dos últimos cem, com Covid, e no momento de disparada das commodities, que não suportaram o crescimento da demanda da China. O resultado não poderia ser diferente, e a recuperação dos salários virá em seguida, com um mercado que cresce robustamente e livre de pandemia. 

A humanidade não estava preparada para tanta desgraça. Mas, em alguns casos, a economia cresceu, como em Betim, que hoje encontra dificuldades para atender a demanda de recrutamento das empresas locais. Ocupação plena, comércio crescente, as coisas funcionando como nunca. 

A prefeitura em 2017 sofria com uma dívida de 1,53 vez a receita anual, ou seja, R$ 2 bilhões. Hoje, o saldo entre dívidas e caixa é positivo. Liquidou o que devia, inclusive a dívida previdenciária que, hoje, se persistissem os desmandos, estaria em R$ 1,2 bilhão. Nos últimos 16 meses, o saldo positivo de empregados em Betim evoluiu para 16 mil de uma população ativa de 170 mil trabalhadores. 

O assunto agora é verificar a “autoridade moral do governante”, porque dela se gera a autoridade para governar e representar a nação dignamente. 

 Em princípio, se traduz em respeito e consideração – ou melhor, como dizem popularmente, é necessário ter um governante “isento de rabo preso”. A autoridade moral concede autonomia essencial e desprendimento para atuar com justiça e proveito para todos, e não para cúmplices. Se um líder tem muitos pecados, pior ilegalidade e crimes na ficha, não conseguirá exercer as prerrogativas do cargo para o bem da população. Estará exposto aos compromissos obscuros e à chantagem de malandros que, com ele, querem compartilhar outros arrombamentos. 

Já vimos nos episódios do mensalão e do petrolão uma escalada da corrupção fulminante que tomou conta de legiões de exploradores e chantagistas em organizações que nunca se imaginaram. Um líder implicado implica a República inteira e deverá comprar apoios e silenciar delinquentes. 

Passando pelos corredores do Congresso, infelizmente, nota-se a “saudade” daquela época de propinodutos, dos “anos de ouro”, que de 2004 a 2014 marcaram o país com centenas de escândalos que renderam bilhões de propinas . Para pavimentar o retorno àquela época, os corajosos que enfrentaram as organizações criminosas hoje sofrem tentativa de CPI. Só no Brasil tamanha cara de jacarandá para propor uma CPI das relações privadas do ex-juiz Sergio Moro. E este é só o começo de 2022. Vale tudo para voltar à corrupção? 

E quem garante proteção de figuras como Roberto Jefferson, que contrariados colocam a boca no trombone se não são atendidos? Começam com a chantagem, a cobrança descabida para ficarem calados, e depois vem o resto. Um candidato fragilizado por um passado de cumplicidades terá intensa dificuldade para garantir a governabilidade, para se ver livre de pedidos de impeachment, para formar uma maioria interessada no bem da população. Pagará o silêncio com o que encontrará nos cofres públicos – que certamente não é seu nem foi edificado com o seu suor.  

Quem tem histórico de desvios e escândalos que o fragiliza e o expõe a chantagens não conseguirá dar um rumo certo ao país. Disso se pode pensar que apenas alguém com verdadeira autoridade moral, mais a humildade e a sabedoria de convocar os melhores, poderá se dedicar ao bem do Estado, e não dos corruptos e das organizações criminosas. Não terá, também, como temer um “Roberto Jefferson” ou um dos “300 picaretas” que Lula denunciou quando era apenas candidato.