O TEMPO

A segunda onda

Chegou uma segunda onda de Covid-19 a Minas Gerais, um Estado enorme e com uma população de 21 milhões de habitantes.

Por Vittorio Medioli
Publicado em 20 de dezembro de 2020 | 03:00
 
 

Em uma análise da evolução dos últimos 95 dias, de 14 de setembro a 18 de dezembro, em sete municípios que se destacam pela renda (PIB) – Belo Horizonte, Contagem, Betim, Uberlândia, Juiz de Fora, Governador Valadares e Ipatinga –, temos resultados que se distanciam consideravelmente. 

O número de óbitos medido em relação a 100 mil habitantes alcançou no Brasil uma média de 88,3, enquanto a mortalidade média em Minas Gerais está em 52/100 mil. 

A média da região Sudeste (SP, RJ, ES e MG) chega a quase o dobro: 96,1. Destaca-se o caso desastroso do Rio de Janeiro, com 141 óbitos, o que desequilibra o resultado regional, colocando-o acima da média nacional. 

Das cidades mineiras, mostraremos a seguir a média atual alcançada em 18.12 e a média dos últimos 95 dias em sequência, do pior para o melhor desempenho em relação ao registro de óbitos a cada 100 mil habitantes. Governador Valadares tem a pior situação, 135/53, ou seja, 135 o total desde o começo da pandemia e 53 de 14.9 a 18.12. Segue Ipatinga, no Vale do Aço, com 106/43; Uberlândia, com 105/35; Juiz de Fora, com 74/42 – isso mostra que, nos últimos meses, a Covid-19 avançou gravemente ao ritmo do Rio de Janeiro. Contagem tem média de 74/26; Belo Horizonte, 70/25; e Betim finaliza, com 62/20. 

Cada cidade tem sua realidade social, mas todas elas apresentam rendas per capita bastante niveladas. Os piores desempenhos recentes (nos últimos 95 dias) colocam Governador Valadares com 53 óbitos, seguida de Ipatinga, com 43, e Juiz de Fora, com 42. A cidade-polo da Zona da Mata nos primeiros seis meses, os mais críticos no Brasil, registrou apenas 32 óbitos a cada 100 mil habitantes, credenciando-a como a melhor cidade. Porém, em seguida, a mortalidade disparou, e existe carência de estrutura hospitalar na região para atender uma onda da magnitude que está subindo do litoral do Rio de Janeiro, o Estado que tem a pior colocação no enfrentamento da pandemia em todo o Brasil. Em Uberlândia, apesar do elevado número, por sua vez, a média vem caindo nos últimos 30 dias acentuadamente, com o registro de apenas 4/100 mil. No mesmo período, Juiz de Fora teve 24; Ipatinga, 26; Governador Valadares, 19; Contagem, 8; BH e Betim, 7.          

Uma das regras fundamentais do enfrentamento é a rapidez dos testes que detectam os infectados e manter uma estrutura “dedicada”, com número de leitos suficientes, tanto os “clínicos”, para os casos menos graves e de recuperação, como para terapia intensiva e respiração invasiva. Betim teve a “sorte” de conseguir separar os pacientes entre um hospital de campanha (Cecovid/clínico), com 120 leitos, ativadas no pico 90 unidades, atualmente com 45, e um CTI de 170 leitos (Cecovid/intensivo), ativados no pico 100, atualmente 60. Nas últimas semanas, devido aos atrasos da Funed para fornecer resultados, passou de 24/48 horas para 9/10 dias, deixando em situação perigosa seus clientes, como Betim. Entretanto, foram comprados testes de PCR que estão sendo distribuídos nas UPAs, possibilitando o resultado em 20 minutos. Com isso, os casos de sintomas das vias respiratórias negativo não serão mais encaminhados aos Cecovids. Isso deverá deixar os leitos e os espaços dedicados menos assoberbados e os pacientes mais ainda protegidos. 

Em Betim, o CTI municipal tem resgatado e salvado muitas vidas, tanto quanto pela qualidade de atendimento no Centro Materno-Infantil, que deveria ter sido inaugurado em 10 de maio, mas passou a operar em 20 de abril como centro especializado para atendimento de pacientes de Covid-19. 

É assustador o aumento dos casos de famílias que por inteiro contraem o vírus; nota-se, contudo, que a maior eficiência no tratamento e a pontualidade em tratar precocemente qualquer sintoma tem colaborado para salvar vidas. 

Se duvida a precocidade do uso dos medicamentos apropriados, bloqueia a evolução e diminui a gravidade. 

Certamente, em um ambiente que não possui a estrutura condizente com o enfrentamento, que não consegue a adesão da população em se resguardar, que não possui em quantidade e qualidade testes, medicamentos e respiradores, a “derrota” se torna inevitável.