O TEMPO

Abandonar a tristeza

Ao murmurarmos contra essas pessoas, prejudicaremos a nós mesmos. Palavras ociosas não edificam paz e harmonia

Por Vittorio Medioli
Publicado em 04 de outubro de 2020 | 03:00
 
 

Buddha, em seu primeiro sermão, ensinou o “Caminho que Conduz à Cessação da Tristeza”, sugerindo oito cuidados. Alertou que o caminho serve tanto para o homem inculto e não educado quanto para o mais nobre filósofo. O primeiro deverá considerar os conselhos em seus aspectos inferiores; o segundo, no nível mais elevado.

O primeiro passo é a Reta Crença, e esta requer que se reconheça o Plano Divino a que a humanidade pertence. Se não houver esse pressuposto, nada se sustentará.

O segundo trata do Reto Pensamento, que se resume em usar a necessária concentração na hora de cumprirmos nosso dever, exata e solicitamente, para que qualquer obra saia perfeita. Buddha, nesse ponto, alerta: deve-se considerar unicamente o verdadeiro e fugir de suposições negativas ou duvidosas, pois dúvidas e negatividade só geram dor e tristeza.

O terceiro é a Reta Palavra. Falar de coisas boas é bem melhor que falar das falhas alheias. Os vícios que se contam dos outros, de regra, são exagerados e imerecidos, e, ao murmurarmos contra essas pessoas, prejudicaremos a nós mesmos. Palavras ociosas não edificam paz e harmonia.

O quarto se destina à Reta Ação. Devemos agir exclusivamente a favor do desenvolvimento harmônico da humanidade e, se déssemos à nossa ação emprego diferente, faltaríamos com nosso dever. Todo cuidado é pouco para evitar ações violentas. Violência gera calamidades.

O quinto descreve o Reto Meio de Subsistência. Para ganhar o nosso pão, não devemos prejudicar nenhum ser vivente, homem ou animal. E isso inclui atividades ligadas a bebidas alcoólicas, fumo e drogas, que prejudicam a saúde tanto física quanto moralmente. O comerciante deverá vender seus artigos por preço justo, sem defraudar quantidade e qualidade. Sua obrigação é conhecer os produtos que vende e respeitar a confiança que o comprador deposita nele.

O sexto é o Reto Esforço e se resume em: “Cessai de praticar o mal; aprendei a praticar o bem”.

O sétimo, a Reta Memória. A pessoa que se descuida se recordará das ofensas recebidas durante anos e alimentará assim uma memória que lhe irritará o ânimo; e que benefício obterá? Nenhum. Conseguirá apenas manter vivo um pensamento sinistro, que lhe gerará infelicidade.

Como último cuidado, o interessado em progredir no “Caminho que Conduz à Cessação da Tristeza” deverá praticar a Reta Meditação, ou Reta Concentração. Não se trata exclusivamente da disciplina da meditação, que no sufoco da vida cotidiana encontra apenas breves intervalos para se realizar, mas, sobretudo, da concentração nas boas obras de auxílio e serviço. Esse hábito mental trará grande proteção por parte de anjos, espíritos da natureza e seres humanos que deixaram o corpo físico e continuam ao nosso redor.

Depois dessa oitava regra, o Senhor Buddha encerrou seu primeiro sermão.

Vittorio Medioli escreve todos os domingos em O TEMPO