O TEMPO

Dia de verdades

Na noite de hoje tiraremos as dúvidas

Por Vittorio Medioli
Publicado em 07 de outubro de 2018 | 04:30
 
 

Na noite de hoje tiraremos as dúvidas. A margem de manipulação das pesquisas do Ibope e Datafolha, que imperam nos principais noticiários, entrou em véspera de confrontação com as urnas. Não podem brincar na última hora.

Como disse Alexandre Kalil em entrevista de sexta-feira última, é preciso desconfiar sempre de pesquisa. “O Datafolha à noite me dava como derrotado por 17 pontos, e amanheci vitorioso (contra o tucano João Leite, em 2016)”.

Existe muita expectativa em relação ao dia de hoje. O ambiente é permeado de um sentimento de queda do muro da vergonha brasileira, aquele construído ao longo da década pela politicagem esquálida, pela demagogia e por muita corrupção.

Bolsonaro é o grande destaque desta campanha. Não é santo nem tem preparo que encante, mas comunica em linguagem popular e direta o que um “politicamente correto” prefere silenciar ou esquivar. Ele mostra-se desalinhado com o mecanismo de corrupção, de indulgência com as transgressões à legalidade, de cumplicidade com as organizações criminosas e de ateísmo que se abateu sobre o Brasil.

Acabou emergindo como opção popular, conquistando redutos lulistas e tucanos do Sudeste, avançando como uma onda. Amealhou os votos de quem trabalha e sofre as consequências dos desmandos dos governantes. O momento parece ser dele com ampla margem sobre Haddad.

Quanto mais “#elenão” e esculhambações, mais sobe nas preferências, mais sarcasmo desperta nas redes sociais, mais importância assume como oposição ao sistema “politicamente correto” que quebrou o país. O eleitor do ex-militar faz dos defeitos dele virtudes para mudar. Daí os adversários alimentam o “mito”, o personagem de quadrinhos pronto a realizar um milagre em defesa dos desprotegidos.

Capta-se um grito de “basta” no ar saturado, de ímpeto para sair da inércia e mostrar que um cidadão qualquer, uma negação da política “oficial”, pode livrar a nação do mal. Segundo os opositores, entretanto, ele é considerado o mal maior, demonizado e apresentando como risco à democracia. Exatamente por não ser do esquema tradicional, por ser comum, por ser esculhambado pelos “poderosos” com credibilidade em baixa depois do surgimento das redes sociais. Justamente de redes sociais é que se alimenta o capitão.

Os riscos de que ele faça um governo pífio são sabidos, mas a convicção de que ele apagará um sistema iníquo é suficiente neste momento para encantar a plateia.

Bolsonaro se posiciona na contramão daqueles que tiveram todo o poder e meios, mas “não sabem de nada”, não fiscalizam, não se indignam, apenas fecham os olhos às erupções de maldades e bandalheiras. Todavia, se agitam para engordar de privilégios e vantagens pessoais.

A massa que apoia Bolsonaro passou, nos últimos dias, a se movimentar instintivamente como cardume em alto-mar, a cada hora maior, embalado e confiante. Dá inveja a qualquer adversário que deixou para trás.

Bolsonaro é o fruto da incapacidade de governar de quem o antecedeu, não paira dúvida.

Deram-lhe condições, mesmo que mínimas, de poder liquidar no primeiro turno a parada. Bolsonaro, se não cometer erros, se ficar de repouso, dificilmente perderá a imensidão de confiança que se aglutinou em volta dele. Contudo, ele é daqueles que podem cometer um grave e fatal erro.

Bolsonaro prometeu até agora “arroz com feijão”: limpeza e ordem no governo, descomplicação, dureza para delinquentes e defesa de valores religiosos, com muitos militares em lugares de políticos.

Ganhou moral e, mais do que isso, ele se prenuncia como um mal necessário, uma dieta, um diurético que tire as gorduras e baixe o colesterol de um sistema inchado e doentio.

Nota-se no movimento bolsonarista uma acentuada influência de pessoas que voltaram de experiências vividas na Europa e nos Estados Unidos e, ainda, de juventude que sonha em mudar para o exterior e se convenceu de que Bolsonaro pode trazer o exterior pra cá.

Em relação a Minas Gerais, o quadro se mostra incerto. Nas últimas três semanas, a influência bolsonarista tirou brilho dos candidatos “tradicionais” e promoveu as alternativas de inovação. Minas costuma ter mudanças de tendências avassaladoras. O candidato do partido Novo, Zema, um empresário sem experiência política, cresceu captando a grande parte dos indecisos. Mesmo que remota, tem a possibilidade de surpreender na reta final.

O Brasil, contudo, está mudando, as campanhas não são mais aquelas que se podiam direcionar estando sentados num palácio. As ruas e as redes ganharam uma importância que veio para ficar.