Vittorio Medioli

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Eleição mudou de forma

Publicado em: Dom, 29/11/20 - 03h00

O que mostraram as eleições deste ano? 

Na maioria dos casos, apareceram eleitores mais atentos e críticos, procurando não perder seu voto. O voto, pode-se dizer, melhorou de qualidade. 

Quem tentou comprar votos quase sempre teve decepções. Pagou sem receber, o troco nas urnas foi grande. 

As peripécias da década de 2010, que se encerra no próximo mês, os altos e baixos, as esbórnias e as ressacas a marcaram como uma década perdida. 

Os vendedores de ilusões, os demagogos não conseguiram encontrar terreno fértil, como se dava antigamente. Pode-se dizer que os prefeitos que disputavam as eleições e que apresentavam um bom desempenho, atentos às necessidades da população, não tiveram dificuldade de se reeleger. As siglas partidárias, mais que influenciarem positivamente, não tiveram expressão, salvo em alguns casos, negativamente. Carregar o peso de PT, PSDB e MDB, partidos mais envolvidos no Petrolão e Lava Jato, dificultou os candidatos dessas siglas, especialmente do PT. O que marcou positivamente as reeleições de prefeitos foram os bons desempenhos na saúde, os cuidados com a segurança, a austeridade nos gastos, muita atenção no atendimento social agravado pela pandemia. 

Nessa eleição o marketing político, o mesmo que prevaleceu desde a década de 1980, teve seu enterro decretado pelas redes sociais. Deram-se bem os que tiveram capacidade de se comunicar com espontaneidade e simplicidade, mesmo sem uma presença intensa, souberam aparecer com naturalidade e conteúdo sério.  

Os candidatos da velha guarda, e até os campeões de safras passadas que confiaram nos valores de antigamente, no corpo a corpo, e entregaram a um marqueteiro seu destino, se deram mal. Produção elaborada e sofisticada, linguagem retumbante destoaram jurassicamente.    

As fake news, apesar de abundarem, não conseguiram os efeitos pretendidos. Os participantes de redes sociais em grande parte aprenderam a desconfiar de notícias e informações alarmistas, escandalosas e com verniz, fabricadas nos momentos cruciais da campanha. Embora sob disfarce, os mandantes das fakes news se prejudicaram sem atingir o objetivo, ficaram no ar as fraquezas, a falta de boas motivações e de propostas. 

Os candidatos à frente das preferências do eleitorado foram atacados e achincalhados, sem se ressentirem consideravelmente. 

O bolsonarismo não surtiu o efeito esperado. Bolsonaro teve um papel importante na eleição de candidatos em 2018, contudo, apesar de ter de razoável para boa aceitação auferida nas pesquisas, não arrastou aqueles que se apresentavam inspirados e apoiados por ele. 

Ao se encerrar a eleição 2020, já começa a pré-campanha de 2022.  

O quadro, entretanto, nunca ficou tão indefinido e imprevisível. Pesam a volatilidade da economia mundial, os efeitos persistentes da pandemia, as incertezas da nossa era de marcante evolução. Não é permitido, agora, encontrar favoritos. Os apoios dos prefeitos eleitos não serão preponderantes, como já não adiantaram em 2018, quando Bolsonaro, sem qualquer um ao seu lado, se elegeu presidente. Resta constatar, neste momento, que os pretendentes a presidente e governadores estão no marco zero de uma longa e árdua caminhada. Para quem estiver correndo atrás de reeleição, não escapará de ser avaliado pelos resultados nos setores de saúde, segurança, expansão econômica e geração de empregos. 

As qualidades que deverá comprovar: honestidade, transparência, superação das dificuldades e vontade de trabalhar.  

Golpes de sorte serão raros, as redes sociais formaram um eleitor mais esclarecido e precavido. Será dele a decisão em 2022.