O TEMPO

Esqueça a ansiedade

Redação O Tempo

Por Vittorio Medioli
Publicado em 05 de julho de 2015 | 03:30
 
 

Uma jovem leitora me enviou um desabafo, cheio de perplexidade e ansiedade.

A vida não é como lhe contaram. O sonho esbarrou num iceberg e, para não afundar na desilusão, pede ajuda. Eu tenho pouco a emprestar-lhe, ainda estou à procura dos restantes 99% que me escapam.
Vivi um pouco mais? Passei por várias geleiras e segui adiante? Meu instinto se apurou um pouco mais? Seja isso.

“Quando eu era vendedora de loja, antes de me formar, ganhava muito mais e podia me dar de presente alguns luxos. Tinha cartão de crédito... Para que serve esse diploma?... Era para melhorar, e regredi...”.

Leitora desta coluna, a jovem relata na mensagem fluente que se sente vítima de injustiça. Formou-se em administração de empresas, investiu o que tinha e contraiu dívidas para alcançar o diploma. Quatro anos. O enorme sacrifício, as mil privações para bancar as mensalidades, a convicção de que o diploma mudaria o rumo de sua vida para além do que sentia ser-lhe vedado como vendedora de loja.

Agora, “nem conta de celular consigo manter em dia. Quanto mais viajar, comprar um livro, presentear os amigos que se casam, tomar um vinho, pagar um plano de saúde, ir ao cinema ou mesmo a uma pizzaria...”. Dói. Nada chegou com o diploma.

Sem ajuda do namorado para liquidar algumas contas, estaria em lençóis ainda piores. O melhor emprego que encontrou com o diploma de “administradora de empresas” foi um trabalho remunerado com R$ 850 numa pequena prestadora de serviços e, o que é pior, sem perspectiva de crescimento profissional, pois aí o horizonte é limitado por quatro paredes.

Conclui a mensagem com palavras emocionadas, que emocionam. Obrigam a pensar na minha juventude. Planos frustrados, esforços de Sísifo para levar a pedra ao cume e lá vê-la cair.
Essa é a “Vida Pequena” da humanidade, materialista, feita de cálculos de entrada e saída. A vida que não enxerga o lado mágico, o milagre, esquecidos por uma humanidade que mede tudo na balança do verdureiro.

Hoje não se fala de Magia para não serem taxados de ridículos. Termo que vem de “mag”, em várias línguas antigas, quer dizer “grande”, não apenas grande, mas superior, dotado de qualidade extraordinária.

Magia é “Vida Grande”. O Gandhi virou Mahatma, o Grande Homem; Alexandre se imortalizou como Magno; a Magna Grécia, aquela esplendorosa que cresceu fora de seus limites. Ainda maior, máximo, macro.

O mundo é também de uma jovem melancólica. O futuro lhe pertence. Cada dia é o primeiro do resto de uma vida.

Por enormes que sejam os erros, por incrível que seja a falta de perspectiva imediata, sempre ao nascer do sol surgem oportunidades.

E se os diplomas ajudam, não são certamente a razão do sucesso ou da felicidade.

A melancolia é um amaciante, serve ao menos para derreter o orgulho, desfazer a hipocrisia, quebrar os sonhos contados em histórias que tinham apenas no lobo a única figura cruel.

Ser jovem é certamente melhor que ser diplomado. Quantos trocariam o diploma pela juventude! A jovem idade se faz acompanhar da beleza que um dia vai fazer falta, do vigor que irá se arrefecendo.

Pede-me um conselho. Esqueça o que te prometeram, não é o diploma, mas descobrir que existe em você um reino a ser descoberto que fará a diferença. Steve Jobs e Bill Gates se tornaram os empresários mais bem-sucedidos e figuras imprescindíveis dos últimos 20 anos sem terem completado os estudos. A genialidade torna o diploma um papel inútil.

O que pode fazer falta é a cultura. Esta amplia as possibilidades de escolha, dilata a liberdade, expande a possibilidade de encontrar soluções. Contudo, a cultura sem capacidade de síntese, e sem amor à causa (!), é como um avião sem piloto.

A magia, a Vida Grande, é saber desenvolver a correta intuição que não precisa de palavras, encontra-se no silêncio. No equilíbrio da personalidade.

Um lembrete para a jovem leitora. Tenha fé em você mesma. Leia de tudo, leia muito, chegará de passo em passo aonde nunca sonhou. Tome as boas personalidades da humanidade como exemplo. Aconselhe-se nos evangelhos. Dedique-se a cada momento como o mais importante de sua vida, sem afã.

Seja carinhosa sempre que puder, e confiante mesmo quando tudo pareça perdido, aí está apenas um momento necessário.

Seu anjo a enxerga como a melhor tarefa à qual se dedicar.