Vittorio Medioli

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MKultra, de Kennedy a Bolsonaro (parte I)

Publicado em: Dom, 18/11/18 - 03h30

No livro de Steven Sora, “Sociedades Secretas da Elite das Américas”, se encontra referência especial à confraria Skull and Bones (Caveira e Ossos, símbolo dos piratas que estiveram na origem da independência dos Estados Unidos, tendo entre seus membros vários presidentes daquele país). Consta na página 172: “Os chamados ‘pilares da sociedade’ (predominantemente maçônica) dispunham de uma força incalculável e de tal magnitude que até o presidente da nação americana era descartado sempre que seus programas de governo fossem uma ameaça aos lucros dos detentores de um poder mais organizado. É inegável que o assassinato de Lincoln tenha sido uma conspiração, e pelo menos dois outros presidentes foram vítimas das tramas de indivíduos que desejavam dominar o governo da mesma forma que controlavam seus mais lucrativos negócios”.

Abraham Lincoln e John F. Kennedy foram os mais famosos entre os suprimidos antes do término do mandato na Casa Branca. Sobre a morte de outros quatro presidentes, pesa a desconfiança de envenenamento. Ainda em relação a Robert F. Kennedy, irmão de John, faltando-lhe pouco para ser eleito, acabou seguindo o destino do irmão pelos tiros de Shiran B. Shiran. Este, como todos os outros “atendadores”, apressadamente foi definido como lobo solitário. Aliás, “lobo solitário” tem sido o termo preferido pelas autoridades à frente das investigações. Fica assim sem implicações e delongas.

Os Kennedy ousaram tirar o comando da CIA (Central de Inteligência Americana) da influência da Skull and Bones, afastando “o poder acima do poder” e ganhando um imenso inimigo oculto no ano do atentado. Teria ocorrido com ele a sentença de Catão em relação a Cartago: “delenda est” (precisa ser destruída, antes que nos destrua).

Os lobos Lee Oswald e Shiran B. Shiran, respectivamente assassinos de John e de Robert, teriam sido induzidos a cometer os crimes depois de um treinamento de “controle da mente”, especialidade cultivada secretamente pela CIA há longos anos. Ambos mostraram certa confusão ao serem detidos – sinal das drogas (a escopolamina, “suspiro do diabo”) que acompanham o preparo do condicionamento mental. Lee Oswald encontrou a morte quase imediatamente, com três tiros disparados por Jack Ruby (originalmente Jacob Rubenstein, de origem judaica), que morreu depois em cárcere por câncer de pulmão. Era dono de uma boate em Dallas e ligado à organização criminosa Cosa Nostra Americana. Não passou por autópsia, e tem quem acredite que a morte foi apressada pela CIA.

Shiran B. Shiran, com 78 anos agora, que liquidou Robert, não cansa de repetir, do cárcere onde sobrevive, que não se lembra de ter matado Robert. O episódio teria sumido da memória dele. Embora tenham transcorrido 53 anos de cárcere, até hoje se mantém fiel a essa versão. E a ilusão dele é descrita como efeito do “suspiro do diabo”.

Segundo os teóricos mais alinhados da conspiração, existem indícios e razões para a CIA, controlada pela Skull and Bones, ter provocado a morte dos dois irmãos Kennedy, de origem irlandesa, primeiros católicos romanos a conquistar a cúpula do poder americano. Estes eram desalinhados dos descendentes ingleses protestantes, com remotas ligações com os cavaleiros templários, que, banidos pela Igreja Católica, comandaram os lucrativos negócios da pirataria ao longo dos séculos por todos os mares.

De George Washington, passando por Benjamin Franklin, Truman, Roosevelt, Eisenhower, Bush, Clinton e pelo próprio Obama, a Skull and Bones esteve presente e influenciando as escolhas da maior potência econômica do planeta.

Para tentar entender a recorrente teoria conspiratória atrás dos atentados, nele também encontramos aquele sofrido por Jair Bolsonaro no dia 6.9.2018, faltando 31 dias para a eleição.

Precisamos voltar ao ano de 1947, início da Guerra Fria, quando a Marinha Americana iniciou o projeto Chatter, o embrião de experimentações que tinham como objetivo o controle da mente humana com fins de defesa dos EUA. Com o advento da CIA em 1950, a pesquisa do controle da mente tomou o nome de Bluebird no âmbito da agência. Em 1951, desdobrou-se no projeto Artichoke, e paralelamente o Exército americano entrou na corrida com o projeto MKNaomi. A CIA, em 1953, estabeleceu um setor de pesquisas ultrassecretas batizado de MKultra, que persistiu até 1973, quando uma investigação, conduzida pelo senador Ted Kennedy, levou a CIA a dar oficialmente por encerrado o departamento, justamente pelas flagrantes evidências de envolvimento nos atentados dos irmãos John e Robert F. Kennedy.

A solução, em razão da segurança do Estado e preservação da CIA, foi enterrar o projeto, que continuaria num setor externo, custeado secretamente pela CIA e fora do alcance do Congresso. Outros países, como Rússia, Israel, Irã, teriam entrado nesse filão como forma de criar homens-bomba e sicários teleguiados.

O presidente JFK, o primeiro e único católico romano a chegar à Casa Branca, em maio 1963, seis meses antes de sofrer atentado em Dallas, determinou ao novo chefe da CIA, McCone, que o MKultra fosse desativado. Desconfiou de alguma coisa? E assim ficou debaixo das cinzas até dezembro do mesmo ano, quando seu sucessor, Lindon B. Johnson, ao sucedê-lo depois de sua morte, substituiu McCone e reativou de imediato o programa. Em 1968, Robert Kennedy, que tinha entre seus planos voltar a desativar o MKultra, encontrou a morte por três tiros de Shiran B. Shiran. Este agora é convicto de não ter existido na vida dele o dia do atentado.

O esfaqueador de Bolsonaro, Adélio Bispo de Oliveira, montes-clarense de 40 anos, ex-filiado ao PSOL, assim como Lee Oswald aos russos e Shiran B. Shiram à Palestina, conduziu a imprensa a fáceis conclusões de “lobo solitário” esquerdopata, e parou por aí.