Vittorio Medioli

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Não há tempo a perder

Publicado em: Dom, 05/05/19 - 04h30

Embora um candidato possa tirar grande proveito de promessas, factoides e bravatas, quando eleito sucumbirá ao repertório de inconsistências caso não ofereça medidas de alívio para os problemas encontrados.

Lula, já no primeiro ano de seu governo, em 2003, avisou aos companheiros que a temporada de bravatas tinha acabado e precisava encarar os desafios pra valer, e não para a charanga de torcedores. Virou o disco e pouco se importou com os absurdos que tinha prometido aos eleitores.

Governar é como subir uma montanha. Sem uma marcha engatada e motor ligado, a inércia arrasta para trás o comboio colocado na estrada.

Num Estado como Minas Gerais, hoje, o desafio é descomunal. Um Estado destroçado por dívidas e práticas indecentes, que deixaram os bilionários déficits, cada vez mais espantosos.

O Estado está embarcado num Titanic chamado Brasil, que sofre pela retração econômica perturbadora dos últimos cinco anos, com um saldo de 13 milhões de desempregados e outros tantos subempregados. A retomada de um equilíbrio fiscal em Minas parece mais distante que outro planeta.

O novo governo, transcorridos seus primeiros quatro meses, encaminhou para a Assembleia uma proposta de redução de despesas anuais de R$ 235 milhões, apesar de revelar que o déficit em 2019 ultrapassa a previsão do governo Pimentel. “O déficit real é mais de R$ 15 bilhões”, disse o governador.

Ora, é preciso entender a serventia de uma medida que arranha apenas 1,5% do déficit previsto, mantendo um rombo de R$ 14,7 bilhões.

Quatro meses de esforços de uma badalada equipe, recrutada país afora, para apresentar uma meta de corte de míseros 0,3% do Orçamento anual? Deixa tudo inalterado. E se o corte de despesas é insignificante, certamente não servirá para compensar a queda de receita do setor de mineração, afetado pelo desastre de Brumadinho, e avaliada entre 2% e 3% do PIB de Minas.

Aécio Neves, no decorrer da última semana, provocou a ira de vários setores políticos classificando os últimos governantes como “principiantes”. Fez arder a ferida que parece aberta e perturbadora.

Os resultados práticos dos primeiros 120 dias pautam que a “experiência” é um fator importante para assumir responsabilidades complexas e que os quadros convocados precisam de efetivo preparo para dar conta do recado.

A Assembleia, que recebeu a proposta, tratou de ampliar os cortes anuais de R$ 235 milhões para R$ 350 milhões. Enxugou mais algumas gotas de gelo.

Minas continua à deriva.

A proposta tangenciou as grandes demandas sociais, da população, que se concentram na saúde em primeiro lugar, na geração de emprego e na segurança pública.

O Estado continua ausente da saúde como nos últimos anos, durante os quais os repasses aos municípios e às entidades caíram a zero. Na outra vertente da geração de empregos (e, consequentemente, de receitas públicas) não se apresentou qualquer esboço de planos imediatos. Não se elegeram setores, fórmulas de fomento, não se traçou um plano de atração de investimentos, de facilitação, de apoio etc.

O Estado com fama de ser o mais “bizantino” e burocrático do país não sinalizou medidas de apoio à expansão produtiva e ao crescimento sustentável.

O Executivo de Minas no saiu da toca. Permanece refém de promessas estabanadas de campanha que deveria superar com um pedido de desculpas, de arquivamento das bravatas, como no caso do uso das aeronaves, que, num território com 853 municípios, são mais que necessárias.

É preciso, ainda, vencer a promessa de renúncia aos salários, seja do governador ou dos secretários. Para o primeiro, um decreto-lei (ato monocrático e unipessoal do governador) já resolve, e, para o resto, deixa-se a cada um a liberdade de escolher.

O que interessa hoje é colocar Minas nos trilhos da recuperação de sua saúde financeira por meio de ações que valorizem seu patrimônio, melhorem seus serviços e diminuam os déficits assombrosos. É preciso arregaçar as mangas, não há tempo para se perder.