Vittorio Medioli

vittorio.medioli@otempo.com.br

O perfil da mudança

Publicado em: Dom, 25/02/18 - 04h30

As pesquisas realizadas neste começo de ano mostram que a fraqueza das opções disponíveis, contaminadas pelo fenômeno Lava Jato, fez o entusiasmo desaparecer e a rejeição prevalecer nas intenções eleitorais.

A exposição das mazelas nacionais deixou ao eleitor poucos motivos de euforia e muitos para se indignar contra os principais atores políticos.

No horizonte de 2018 despontam a eleição com menor comparecimento e recordes de votos nulos e de abstenções na história republicana brasileira. Quem lidera as pesquisas neste momento, mesmo com 30% de intenções de voto, mas com 50% de rejeição, não tem certeza alguma num segundo turno, especialmente contra adversário de rejeição menor.

A rejeição ao oponente pesa mais que o consenso do líder. Algumas sondagens dos últimos dias apresentam o senador Alvaro Dias, o menos rejeitado no páreo nacional, como alguém capaz de chegar à Presidência em diferentes cenários. Demonstra, assim, que não precisa ser muito amado, e o que faz a diferença é não ser detestado.

A execração transfere e consolida votos aos oponentes, os defeitos pesam mais que as virtudes, hoje em recesso na migração das simpatias. A desconfiança envolta no “tradicional” não prospecta vantagens para grandes coligações, que acrescentam, mais que votos, rejeições.

Descendo na prática e no quadro atual, o moderado governador Geraldo Alckmin, apesar de ter eleito o prefeito da capital de São Paulo, João Doria, estar com boa aprovação em seu quarto mandato de governador, e, ainda, ter dado 6 milhões de votos a Aécio Neves em 2014 no Estado que governa, sofre pela fraqueza do PSDB fora de São Paulo. Minas Gerais é um calcanhar de aquiles, aquele Estado que não marca uma vitória tucana para presidente desde 1998.

Nem Aécio Neves, no momento de auge, conseguiu ganhar no Estado em 2014. E, pela regra, “quem não ganha em Minas não sobe a rampa do Planalto”, deixando Alckmin em situação delicada. Desde 1994 as eleições diretas para presidente consagraram o vencedor em Minas; por simples dedução, a viabilidade de Alckmin no Brasil para exatamente aqui. O partido cria ações para corrigir seus problemas mineiros, e fatos recentes deixaram mais dramática sua situação.

Se Aécio Neves em 2014 fracassou perdendo de Dilma por 600 mil votos em Minas, será que Alckmin ganhará em 2018? O que mudou para dar ao PSDB ambições de vitória?

Os tucanos em São Paulo são fortes e sólidos enquanto os de Minas esgarçaram sua solidez, a ponto de outros partidos e candidatos rejeitarem o apoio da sigla. Veja-se Rodrigo Pacheco, um nome emergente. Óbvio que estejam lendo pesquisas e queiram evitar embarcar peso desnecessário.

As verdadeiras razões desse esvaziamento eleitoral tocam a todos os partidos, a eleição de Alexandre Kalil em Belo Horizonte mostrou a tendência que está longe de mudar. Mesmo com a união de todas as forças tradicionais, o palanque não resistiu. O próprio candidato do PHS usava como trunfo em sua propaganda eleitoral a união dos “políticos” e destacava os maiores partidos. Usou e abusou da imagem de um Titanic que se enchia de figurões e se afundava no oceano eleitoral.

Embora essa tendência se reforçasse no decorrer de 2017 apontando ser válida em 2018, assiste-se ao balé de aproximações e rusgas entre amigos/inimigos para montar a maior frente de partidos. Contudo, dificilmente será esse o trunfo, podendo, ao contrário, repetir a derrota de Belo Horizonte. Quanto maior o barco, mais rejeições do que simpatias entram a bordo.

E, se tudo continuar assim, exatamente um “Kalil” poderá ser o próximo governador, alguém que dispensa a política tradicional, apesar de uma pitada acrescentar experiência.

Com Lula tirado do mapa pelas condenações, como parece provável, sairão de campo uma massa de preferências e uma maior ainda de rejeições que alteram o cenário por inteiro.

Lula mantendo uma agenda de candidato, como se nada tivesse acontecido, embora a lei já o retire da cédula de outubro, não permite avaliar o que poderá acontecer.

O campo e as condições da disputa de hoje não são aqueles que prevalecerão. Entretanto, o pensamento do eleitor já está se formando e aponta, em medida gigantesca, que a renovação e a mudança estão se firmando.

As razões que elegeram Kalil em Belo Horizonte em 2016 parecem as mais prováveis.