O TEMPO

Venezuela para lá de madura

A vizinha Venezuela, antigamente, se encontrava fora da realidade do nosso país, e hoje, faz parte

Por Vittorio Medioli
Publicado em 24 de fevereiro de 2019 | 04:00
 
 

A vizinha Venezuela, antigamente separada do Brasil por milhares de quilômetros de densa mata amazônica, se encontrava fora da realidade do nosso país. Hoje, faz parte devido ao afluxo de milhares de refugiados à procura de comida, trabalho e amparo. O Hemisfério Norte invade, assim, o Brasil e impõe uma atenção especial.

O que fez da Venezuela um país rico, apenas por algum tempo, foi o petróleo. Exatamente no momento da escassez mundial de combustíveis e com mais de 3 milhões de barris extraídos a cada dia de um potencial muito maior, a Venezuela contava com uma movimentação de bilhões de petrodólares a cada mês. Tudo fácil. E quando é fácil demais, sem um mínimo de sabedoria atrás da fortuna imerecida, a tragédia é um risco real e um fim provável. Entregue um Boeing 747 à inteligência de uma criança e descobrirá como a desgraça se instala irremediavelmente.

Hugo Chávez é o retrato do governante demolidor. Não pela ideologia de esquerda, mas principalmente pela demagogia barata. Entretanto, segue sendo naturalmente defendido por movimentos que dividem o mundo em dois opostos, um absolutamente certo, e outro totalmente errado. A derrocada da Venezuela, porém, precisa ser analisada sem sectarismo. São milhões de pessoas reduzidas à fome, e serviços públicos estão paralisados, reservados apenas aos militares que apoiam o poste de Hugo Chávez, Nicolas Maduro. O governo está morto, mas não foi ainda enterrado e, como vampiro, se nutre do sangue ainda disponível.

Mesmo com a anarquia instalada e a fome queimando o estômago da população, o exército da Venezuela impede ajudas humanitárias. Nem a comida oferecida para o povo é aceita.

O Brasil e a Colômbia são proibidos de alimentar os venezuelanos, mas estes não são impedidos de se mudarem para os países vizinhos. O governo Maduro quer aliviar as insuportáveis tensões exportando parte da população esfomeada para tentar reduzir a revolta interna. Os indígenas que moram na divisa de Roraima são tratados a bala pelas milícias de Maduro, que fecharam a fronteira para os caminhões com alimentos.

Uma situação como essa não consegue durar, a fome é um motivo acima de qualquer capacidade de negociação. Ruim para o Brasil em todos os aspectos porque a conta, de um jeito ou de outro, deverá ser paga aqui e dividida com a Colômbia.

A sensatez e a negociação não fazem parte do vocabulário de Maduro. Dessa forma, tentar evitar uma convulsão na fronteira é o que cabe ao governo brasileiro. O problema do alimento, o Brasil se dispôs a aliviá-lo; e a Venezuela, a acentuá-lo.

Espera-se que o bom senso prevaleça aqui, no Brasil, e que o governo caia de maduro ou, mais precisamente, de podre do lado de lá. Neste momento, nosso país deverá prestar as ajudas possíveis, sem esquecer que, internamente, ainda, em quase todos os Estados da Federação, tem muita fome a ser enfrentada.