O TEMPO

Voar pela imensidão

O tempo faz com que as circunstâncias se alternem e nos estimulem a discernir – se não perfeitamente, com mais clareza – os valores reais da vida

Por Vittorio Medioli
Publicado em 25 de julho de 2021 | 03:00
 
 

Nunca se para de aprender. De incertezas, temores, medos, intranquilidades e dúvidas da juventude, passei para um estágio de consciência bem mais elevado. Os anos são fundamentais para a nítida compreensão. O tempo faz com que as circunstâncias se alternem e nos estimulem a discernir – se não perfeitamente, com mais clareza – os valores reais da vida. 

Aprendi, incomparavelmente, mais com as derrotas do que com os sucessos; mais com os sofrimentos que com os prazeres: mais com o silêncio que com as palavras de revolta; mais perdoando do que retribuindo as ofensas com a mesma moeda. 

Devo confessar que foram mais valiosas as silenciosas meditações do que os gritos de revolta. 

Dos amigos, tenho recebido conforto; dos inimigos, os ensinamentos de tudo aquilo que deveria evitar para ser uma pessoa justa. E, na justiça – não aquela desta terra, mas na justiça divina –, tenho reconhecido a infalível capacidade de retribuir corretamente a cada ser humano. 

O sábio evita ofender outro homem com atos ou palavras e foge das honras e das bajulações, pois são efêmeras e inúteis. Responde à pessoa mal-intencionada, tão comum, com disposição bondosa. Porque sabe que as almas não qualificadas e ignorantes perturbam aquele que tem habilidade e conhecimentos e que as ter em volta faz parte da ainda rasteira consciência de muitos seres. 

Sabe que quem faz da sua vida um exercício exacerbado de crítica aos outros, de regra, nada sabe fazer e nada tem a mostrar de concreto por ele realizado. Quem realiza não tem tempo para críticas vazias, mas oferece soluções alternativas. 

Ainda me convenci de que praticar o autocontrole e a tolerância e não me desesperar em qualquer hipótese é importante, porque o que não está ao meu alcance não me pertence como obrigação. 

Quando odiamos quem nos odeia, não apenas aumentamos as trevas, direta ou indiretamente, do planeta, mas o obscurecemos e diminuímos. Não é com vibrações da mesma categoria que se retribui, mas com vibrações contrárias: ao mal se responde com o bem. E, se recebo ódio, devo responder com amor, mesmo que silencioso. 

O mundo é saturado de negatividade, o ódio e a vingança aumentam o apodrecimento. Quem distribui ódio é a primeira vítima de sua atitude, inevitavelmente, pois, no cosmo, crendo ou não num Deus, apercebe-se uma justiça ínsita e infalível. O mal destrói, o bem constrói. Atrás dos grandes construtores existe uma ideia de “Bem”, maiúsculo, de positividade, exatamente o contrário que emana de uma ideia de “Mal”, negativa e destrutiva. Quem faz o mal não colabora para a humanidade e menos ainda para si próprio e seus familiares. 

Por incrível que pareça, vi com os meus olhos que o “absurdo” (para alguns) de amar o inimigo resolve mais que longas disputas ou guerras. 

Uma coisa que vale muito a pena se fazer é passar a vida na verdade e na justiça, com uma disposição benevolente para os mentirosos e os homens injustos, pois tanto a mentira e a simulação como a injustiça serão inexoravelmente castigadas pela lei que rege o cosmo. 

Também está em nosso poder não opinar sobre as coisas e, assim, não ficarmos perturbados em nossa alma. É preciso prestar atenção não só às palavras dos outros, mas ao que está na mente deles, pois aí está a chave para compreender corretamente a manifestação. 

Lembrar-se também de que não somos eternos no corpo que carregamos e de que aqueles com os quais viemos a este mundo já saíram dele, como nós sairemos em breve. 

E descobrir que, quando se é jovem, as horas e o tempo transcorrem com lentidão. Deseja-se, quando o sangue escorre quente e em profusão, que o tempo passe rapidamente para as férias, as festas e os sucessos chegarem logo. Com os anos, aprende-se que a felicidade pode estar em qualquer momento sem os exageros das festas, apenas na paz de um corpo que não lamenta dores e sofrimento, num canto tranquilo onde se pode observar a beleza em todas as suas expressões, já que nela se encontra o esforço bem-sucedido para se aproximar da perfeição, que apenas a Deus pertence. 

Nessa quietude “nirvânica”, vale mais o perdão do que o ódio, a indiferença que o rancor, a serenidade de estar com a alma pura e sem remorsos ­– para, assim, poder desfrutar do sono e, nos sonhos, voar pela imensidão.