Acílio Lara Resende

Aguçar o olhar crítico sobre intenções de quem governa

“Aquele país tão promissor, que fim levou?

Por Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2020 | 03:00
 
 

Um dia depois de publicado meu artigo da semana passada (“A raiva domina hoje a cena política”), recebi, como às vezes ocorre, uma ou outra manifestação raivosa. Pensam que eu possa fazer parte do grupo dos “nós contra eles”, do qual, aliás, jamais me aproximei.

Alguns, porém, mais amigos do que leitores, em e-mails sinceros, me pedem para não desistir nem me acovardar. Ajudam-me a manter o ânimo, que ainda se fortalece com a leitura diária de vários colunistas e/ou cronistas. Junte-se a isso as matérias elaboradas por dedicados repórteres dos nossos indispensáveis jornais impressos.

No mesmo dia, li as crônicas de Luis Fernando Verissimo, Cora Rónai e Mariliz Pereira Jorge em “Estado de S. Paulo”, “O Globo” e “Folha de S. Paulo”. As duas últimas foram acometidas pela Covid-19 e, embora restabelecidas, sofreram dores e muito, muito medo.

Identifiquei-me com os três colunistas, bem como me identifico com outros analistas que leio aqui em O TEMPO e noutros jornais. Mas Verissimo foi objetivo quando disse, acertadamente (e a pandemia, leitor, só infla a tristeza), “que o sentimento que predomina até entre os mais acerbos críticos desse governo é o de tristeza. Uma tristeza imensa, continental, amazônica. O que fizeram do Brasil! Aquele país tão promissor, que fim levou? Para onde o levaram?”.

Agora, após manifestações no mínimo inoportunas do presidente sobre a obrigatoriedade ou não da vacina, ainda em análise, surgiu no cenário novo profeta, que, “por acaso”, é o seu líder na Câmara Federal, além de crítico da Lava Jato e representante do centrão na Casa. Em evento chamado “Um dia pela democracia”, e depois de dizer que o Brasil é “ingovernável” com a atual Constituição, e que, por isso, deveríamos seguir o exemplo do Chile, que convocou um plebiscito para a elaboração de nova Constituição, concluiu: “Acho que devemos fazer um plebiscito para que possamos refazer a Carta Magna e escrever muitas vezes nela a palavra deveres, por que a nossa Carta só tem direitos, e é preciso que o cidadão tenha deveres com a nação”.

Estão corretos o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-juiz Sergio Moro quando se posicionaram contra a iniciativa de Barros. O primeiro: “Aqui, no Brasil, o marco final do nosso processo de democratização foi a aprovação da nossa Constituição em 1988. No Chile, deixaram essa ferida aberta até hoje”. O segundo: “O que dificultou a governabilidade foi a corrupção desenfreada, a irresponsabilidade fiscal, e não a Constituição”. O líder do governo, leitor, pisou feio na bola.

Concluo com o ex-ministro Ayres Brito: “Enquanto tivermos um pé atrás com a Constituição, o Brasil não irá para a frente”. Que deseja o líder do governo?