Wilson Campos

Tudo a conta-gotas: vacina, liberdade e diálogo

Questão do enfrentamento do coronavírus

Por Wilson Campos
Publicado em 13 de maio de 2021 | 03:00
 
 

Lá se vão 14 meses de inépcia, cizânia e desacertos no combate à pandemia da Covid-19 em Belo Horizonte. As autoridades municipais não deram ouvidos aos alertas mundiais, não vigiaram os riscos da chegada rápida da doença e liberaram a realização do Carnaval de 2020. A festa, que arrastou multidões pelas ruas da capital, para a maioria da população foi o gatilho da proliferação do coronavírus.

A pandemia se instalou na capital e se fortaleceu ainda mais quando o poder público convocou a população para ir às urnas nas eleições municipais. O Ministério da Saúde atribuiu o aumento nas curvas epidemiológicas à negligência das medidas de proteção, principalmente com o advento de comícios e eventos patrocinados por candidatos, que permitiram aglomerações e afrouxamento dos cuidados necessários.

Fala-se hoje em vacinas a conta-gotas. Os governos estadual e municipal não se entendem. Segundo a prefeitura, o atraso na aplicação da segunda dose da vacina nas pessoas entre 67 e 64 anos é de responsabilidade do Ministério da Saúde. Já o governo estadual, em recente ocasião, culpou as prefeituras por pausas na vacinação, observando que as reservas técnicas seriam direcionadas para onde o processo estivesse mais rápido, ou seja, quem atua com agilidade recebe mais vacina. Em suma, sobram alfinetadas.

A politização da vacina é um jogo de vaidades, e tudo se resume a um se achar melhor que o outro. Não há, lamentavelmente, união em torno da solução do problema. Falta retorno às raízes da tradicional política mineira: sentar, ouvir, conversar, interagir e fechar um entendimento em prol das emergências do povo e não dos interesses meramente políticos ou pessoais. Ora, a forma democrática de se prestar um bom serviço à sociedade é pela via do diálogo, do bom senso, e jamais como fazem os calouros da política atual.

Em Belo Horizonte, não é apenas a vacina que está sendo distribuída a conta-gotas. A liberdade suprimida por decretos autoritários de pouca ou nenhuma serventia soma-se ao impacto da pandemia no tecido social. Os efeitos são arrasadores, sejam em face da sobrevida da iniciativa privada ou do bem-estar dos cidadãos. Tudo a conta-gotas: vacina, liberdade e diálogo. Daí compreender que, melhor do que as batalhas campais provocadas por políticos inexperientes é agir com responsabilidades individual e pública.

No Brasil, a pandemia da Covid-19 escancarou as mazelas sociais e despiu as desigualdades políticas e econômicas. Ainda assim, a meta é vacinar cerca de 220 milhões de brasileiros, com duas doses, o que equivale a adquirir 440 milhões de vacinas e implica número igual de agulhas, seringas, frascos e embalagens, além da logística para armazenamento das vacinas em câmaras frias.

Portanto, para vencer essa guerra, fazem-se necessárias a valorização da ciência, a adesão da sociedade, a gestão pública eficiente e o envolvimento de políticos conciliadores, ponderados, racionais e equilibrados. Desde o início, estive sempre do mesmo lado da opinião – não tirar a liberdade do povo nem sufocar as empresas e os negócios, e agir para reduzir e erradicar a doença, combatendo-a mediante o uso dos recursos da medicina, da ciência e da tecnologia.