COMPORTAMENTO

Para ajudar crianças tímidas, a principal estratégia é escutá-las

Vítima de bullying pode estar ansiosa por atrair atenção para si; por outro lado, tal característica é comum do ser humano, diz médica

Por DRA. PERRI KLASS THE NEW YORK TIMES
Publicado em 23 de setembro de 2013 | 12:44
 
 
Vítima de bullying pode estar ansiosa por atrair atenção para si; por outro lado, tal característica é comum do ser humano, diz médica ARQUIVO SUE OGROCKI/AP

Nova York, EUA. Há um tempo, eu estava examinando uma garota do ensino médio. Era uma boa aluna, mas que pouco falava em sala de aula. Então, eu lhe perguntei se aquilo ainda era um problema para ela. “Eu sou tímida. Somente tímida”, ela respondeu.

Será que eu deveria ter me voltado para sua mãe e sugerido um orientador psicológico? Deveria ter investigado mais a fundo? Ou deveria ter dito: “Muita gente é tímida. É um entre os estilos saudáveis e normais de ser humano”.

Em conjunto, todas essas respostas seriam corretas. Uma criança vítima de bullying ou atormentada pode estar ansiosa por atrair atenção para si mesma; uma criança que nunca deseja falar em sala de aula pode estar se contendo porque algum problema de aprendizagem a atrapalha, deixando-a envergonhada. Então, é necessário ouvir – principalmente uma criança que fala menos – e encontrar formas de questionar. Você está feliz, ansiosa, com medo?

Comum. Porém, a timidez faz parte do ser humano. Dois anos atrás, Kathleen Merikangas, investigadora sênior do Instituto Nacional de Saúde Mental, nos EUA, publicou um estudo com 10 mil crianças entre 13 e 18 anos. “Praticamente a metade das garotas dos EUA se descreve como tímidas”, afirmou ela.

Mas as escolas nem sempre celebram o reservado. “As crianças tímidas, que não levantam a mão na sala de aula, são penalizadas de verdade nesta sociedade”, disse Kathleen.

“Em grande medida, o temperamento é um conjunto inato de comportamentos que são o estilo com os quais a pessoa funciona, que não devem ser confundidos com sua motivação, status de desenvolvimento e capacidades”, afirmou o médico William B. Carey, professor clínico de pediatria do Hospital Infantil da Filadélfia.

A timidez reflete o lugar da criança no contínuo temperamental, aquela parte que envolve lidar com circunstâncias novas. E começar um novo ano escolar pode ser difícil para quem considera as situações novas mais difíceis e cheias de ansiedade. A maioria das crianças necessita de tempo para se adaptar, apoio de pais e professores e, às vezes, auxílio para participar das aulas.

Se a criança não estiver mais à vontade depois de cerca de um mês, os pais devem questionar se mais ajuda é necessária.