MÚSICA

Batuque para todo lado

Grupo percussivo Karakuru lança disco homônimo no Palácio das Artes, na quarta-feira (23)

Por João H. Motta (*)
Publicado em 19 de maio de 2018 | 03:00
 
 
Percussão. Grupo da Vila Acabamundo apresenta disco dedicado a experimentos percussivos fred santhi/divulgação

A marimba de vidro, a zabumba, a conga, o djembê, o berimbau e até uma panela com água foram recrutadas para compor o projeto de percussão “Karakuru”, também nome do grupo capitaneado pelo músico mineiro Tunico Vilani, 48. “O percussionista tem esse recurso de se apropriar de objetos cotidianos e usá-los como instrumentos. As técnicas nos preparam para percutir com as coisas que nos aparecem”, explica Tunico. O disco do Karakuru ganha show de lançamento na próxima quarta-feira (23), na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes.

O grupo é fruto de um projeto de aulas de percussão que Tunico conduz há 20 anos na Vila Acabamundo, uma comunidade situada entre os bairros Anchieta, Mangabeiras, Belvedere e Sion. A região, que cercada por mata preservada, enfrenta problemas de especulação imobiliária e luta cotidianamente pelo direito de moradia.

O show repassa todas as faixas do disco “Karakuru”, que tem a direção artística de Paulo Santos, do grupo Uakti, do qual Tunico recebeu grande influência durante sua formação nos anos 1990. “As músicas foram inicialmente exercícios para passar técnicas aos alunos, foi um trabalho de composição educativo. Para chegar ao estúdio, trabalhamos mais nos arranjos e trouxemos alguns convidados”, explica o músico, que agregou violões, violinos, metais e flautas tanto ao disco como ao espetáculo.

Quebrando estigmas

“Como educador, uso a música para fazer um trabalho, além de só ensinar a tocar. Numa situação de risco social, onde não há incentivo para os jovens se colocarem, em função do preconceito. Foi importante trabalhar a autoestima dos meninos”, destaca o percussionista. “Eles passaram a desenvolver essa autoestima quando eram aplaudidos por um público. É uma forma de se inserir socialmente, eles quebram os estigmas da pobreza mostrando-se como músicos profissionais”, completa Tunico. O Karakuru é formado por Leléu Lima, Aírton Andrade, Marcus Bú, Marcelo Rodrigues, Fred Santos e Leon Dantas. Os seis foram alunos da primeira turma de Vilani em 1998, no projeto Sesi Educando Além da Escola e Querubins. 

Segundo Tunico, um trabalho dedicado à percussão é também uma forma política, pois “mostra que o percussionista não é apenas um acompanhante ou um ritmista. É preciso abrir as portas para mostrar que ele (o percussionista) também pode ser solista. A percussão pode criar melodias e harmonias”, aponta Tunico. “O nosso trabalho tem raízes nos ritmos populares – o maracatu, o congado, o samba –, trazer esse protagonismo para a percussão é valorizar essas raízes”, completa.

 

Karakuru

Lançamento do disco homônimo. 

Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro). Dia 23 (quarta-feira), às 20h. R$ 30 (inteira) 

 

(*) Sob supervisão de Marília Mendonça