MÚSICA

Contemporâneos e ancestrais

Pereira da Viola e banda visitam a música contemporânea do continente africano para reafirmar origens em novo show que estreia na Autêntica

Por João H. Motta (*)
Publicado em 07 de julho de 2018 | 03:00
 
 
O violeiro apresenta trabalho que é fruto de seu contato com a obra de músicos africanos Mariana botelho e bruno bento/divulgação

Foi através dos vídeos do Youtube que Pereira da Viola tomou conhecimento da obra de Bongo – cantor, compositor e ativista da cultura popular angolana – e, logo em seguida, assistiu aos clipes da violeira Sona Jobarteh, de Gâmbia. Após uma imersão de meses nos trabalhos descobertos, o violeiro mineiro decidiu dar voz às inquietações que aquelas obras lhe causaram por meio do show “Brasil Bonito”, que faz estreia n’A Autêntica, na próxima quinta (12).

O novo show de Pereira da Viola faz um contato transatlântico com a ancestralidade do músico e com a cultura folclórica do Brasil, recuperando ritmos africanos como o semba e o lundu, bem como as expressões afroindígenas já assinaladas na obra de Pereira, como o coco, o batuque e o samba de roda. 

O repertório da apresentação reúne as composições inéditas do violeiro inspiradas no estilo de Bongo e Jobarteh. Para além da reprodução dos estilos, Pereira conta que, no momento das composições, procurou imprimir sua “brasilidade” no diálogo entre as culturas. Além das novidades, o músico selecionou outros registros que atendem à concepção pensada por ele. “Uma viola swingada, mais pulante – se pensada a partir do puro virtuosismo – e com a ideia da identidade da nossa cultura”, atesta Pereira. 
De seu repertório clássico, ele escolheu faixas como “Tá no Tombo”, “Tawanara” – nome de uma dança indígena– e “Vovó Joaquina”. A última, segundo Pereira, foi um presente da entidade da umbanda, religião do qual o músico é estudioso e praticante.

Inicialmente, o músico não pretende gravar as novas composições, feitas. A ideia é percorrer os espaços da cidade e do Estado com o show de “Brasil Bonito” nos próximos meses. Segundo ele, trata-se de “um sentimento do momento”. O show ainda precisa passar pelo termômetro da plateia, lembra Pereira. É um trabalho com mais balanço, por isso, “naturalmente, é para mexer fisicamente com o público”, pontua.

O título do espetáculo foi motivado pelo nome da canção do compositor baiano Papalo Monteiro “Brasil Bonito, Povo Abonitado”. Para Pereira, “ela fala de toda a composição popular do Brasil, a partir de uma visão surrealista da nossa identidade”, afirma. 

O show n’A Autêntica ainda conta com a abertura da banda instrumental Trivial, formada por Augusto Cordeiro (guitarra), Paulo Fróis (bateria) e Pedro Gomes (baixo). O grupo traz uma sonoridade contemporânea, em busca percorrer dos standards do jazz até as harmonias e os ritmos brasileiros. O trio prepara seu primeiro álbum de autorais para 2018. 
Os integrantes da Trivial também compõem a banda que acompanha Pereira da Viola no Palco, que ainda conta com de Dito Rodrigues (violão e vocais), Débora Costa (percussão) e Lucas de Moro (piano).

A emersão

Foi no segundo semestre de 2017 que a revelação para obra de Bonga e Jobarteh se deu para o violeiro no Youtube e desde então Pereira da Viola não ouve outra coisa que não a cena contemporânea dos países africanos. As obras deles trazem temáticas e ritmos diferentes que vão do coladeira cabo-verdiano às expressões jazzisticas dos países da áfrica ocidental.

 

Pereira da Viola
Estreia do show “Brasil Bonito”. 
A Autêntica (r. Alagoas, 1.172, Savassi). Dia 12 (quinta), às 22h. R$ 25 (antecipado)


(*) Sob supervisão de Jessica Almeida