ARTES CÊNICAS

Diversidade em clima hip hop

Espetáculo Mexerica da Cia. Fusion de Danças Urbanas fica em cartaz no CCBB até o dia 29 de julho

Por Da Redação
Publicado em 07 de julho de 2018 | 03:00
 
 
Em cena, uma turma disposta a provar a força do coletivo pablo bernardo/divulgação

Integrante da Cia. Fusion de Danças Urbanas, Leandro Belilo não nega que, ao andar pelas ruas da cidade, sempre se interessou por aqueles “bichos cabeçudos que ficam nos cruzamentos”. Ele se refere aos personagens que dançam pelas vias e artérias da capital mineira enquanto fazem propaganda de uma firma de segurança privada. “Sempre tive vontade de vestir aquelas fantasias (risos). Aliás, passei por um deles agora”, conta, no momento da entrevista.

Mas foi num outro encontro fortuito com o personagem (no caso, um cachorro) que veio o insight: “Sabe aquela lâmpada que se acende sobre a sua cabeça? Pensei: já que somos um grupo de dança, por que não desenvolver um espetáculo com a gente vestido de bichinho, colocando-os para se movimentarem?”.

Como a Cia. Fusion já há tempos aventava a ideia de montar um título direcionado ao público infantil, foi o tal juntar a fome com a vontade de comer. “Mexerica”, espetáculo resultante deste processo, entra em cena a partir da próxima quinta-feira (12), no palco do CCBB BH, onde cumpre temporada até o dia 29 deste mês. 

Mexerica, a protagonista desta história, é uma gata (sim, amarela) que, em seu caminho, se cruza com outros animais, como um João-de-Barro B-boy, uma coelha surda, cachorros de rua e outros gatos. Tudo no ritmo do hip hop.

“Foi um prato cheio (a ideia do espetáculo). A gente tinha muito material em mãos para trabalhar”, diz Belilo, acrescentando que, para o grupo, foi interessante explorar este universo após o impacto de uma montagem como a de “Pai Contra Mãe” (2016), baseado no conto de Machado de Assis. “Esse, voltado para questões dos escravizados, o machismo, o racismo... Então, ‘Mexerica’ meio que deu uma refrescada na nossa pesquisa artística”, avalia ele.

Não que a peça seja só entretenimento. “Veja, como a companhia é um grupo de origem periférica, negro, evidentemente, um pouco dessa vivência se traduz para o palco. Aqui, há um retorno à nossa infância para, em meio às coreografias, levantar discussões que neste momento estão em alta – e que bom que estão –, como a acessibilidade”, enumera.

Tanto que um dos números traz uma coreografia em libras. “Em vez de a gente apenas levar uma tradutora de libras para ficar lá, no palco, para fazer só isso, a gente coloca a linguagem das libras na coreografia. E, para tal, contamos com a ajuda de uma professora, a Dinalva – e, olha, não é fácil! Foi um desafio pra gente”.

Aliás, Belilo lembra que a trilha sonora de “Mexerica” é toda original. “A Isadora Rodrigues (outra integrante do grupo) compôs as músicas, junto ao irmão, Matheus”. A trilha combina ritmos urbanos e africanos, tais como o breakbeat, o funk e o afro-house, a instrumentos tradicionais mineiros, como a viola caipira. 

Um ponto “nebuloso” para o espectador é tentar desvendar qual ator interpreta que personagem. “A gente está se esforçando para manter uma identidade secreta”, confirma o ator. 

Explica-se: para os componentes, quem está no palco é mesmo a turma da Mexerica, superempenhada em mostrar que a diversidade, e a convivência em harmonia, são metas que devem ser buscadas incessantemente por todos, a todo tempo. “Acho que, primeiramente, a grande questão da peça é, sim, a da diversidade. Então, temos em cena um gato preto, os cachorros da rua... E se no início a Mexerica tem medo deles, aos poucos vai descobrindo que essa diversidade é o lado mais legal da história”, finaliza.

Prêmio

Em tempo: na última terça-feira, dia 3, Leandro Belilo arrebanhou o prêmio Copasa Sinparc de Artes Cênicas na categoria Composição Coreográfica, por “Tex”, trabalho desenvolvido com o Ballet Jovem Minas Gerais. Mas no que tange à Fusion, prêmios também não são propriamente uma novidade. Tampouco turnês: o grupo já se apresentou em mais de 20 cidades do país, em sete Estados. Ano passado, fez sua primeira turnê francesa, incluindo apresentações e oficinas em Lille, Brest e Quimper.

Mexerica
Cia. Fusion de Danças Urbanas
Teatro I do CCBB. De 12 a 29 de julho, às quintas e sextas, às 16h, e sábados e domingos, com sessões duplas, às 11h e às 16h. R$ 20 (inteira).