ARTES VISUAIS

Itinerância da Bienal em BH

Em sua 32 ª edição, a Bienal de São Paulo traz como tema Incerteza Viva, a sessão itinerante chega a Belo Horizonte a partir da próxima sexta (3)

Por Jessica Almeida
Publicado em 25 de fevereiro de 2017 | 03:00
 
 
A série "Espetáculo", com esculturas da paulistana Ana Mazzei integra a selação de obras na Fundação Clóvis Salgado Leo Eloy/Divulgação

Num ano marcado por um turbilhão de transformações em âmbitos dos mais diversos como 2016, não é de se espantar que a 32ª Bienal de São Paulo tenha acertado em cheio ao escolher “Incerteza Viva” como tema. Sucesso absoluto, com público recorde de 900 mil visitantes – o maior desde 2004 –, a exposição agora abre itinerância – e a primeira parada é justamente Belo Horizonte, a partir da próxima sexta (3), no Palácio das Artes.
 
“Para usar as palavras do artista Frans Krajcberg, queríamos mesmo dar ‘um grito pela saúde do nosso planeta’”, diz o curador Jochen Volz. O tema, segundo ele, pode ser interpretado como uma metáfora às constantes transformações sociais e culturais, o que acabou resultando numa seleção “orgânica”, em mais de um sentido. “E muitos artistas com quem discutimos sobre a Bienal estavam interessados ou já trabalhando em projetos ‘orgânicos’ literalmente, lembrando da ‘horta’ da Carla Felipe, da escultura ‘Trair a espécie’, de Cristiano Lenhardt, do laboratório de cogumelos de Nomeda e Gedeminas Urbonas ou do grande projeto ‘Restauro’, de Jorge Menna Barreto, entre muitos outros”, diz. 
 
Ele ressalta que os artistas não foram convidados para ilustrar um tema ou um conceito curatorial. Ao contrário, foi a partir das muitas conversas com os artistas que o jardim da Bienal começou a ganhar corpo e escala. “Foi um processo orgânico, que fala tanto da preocupação dos artistas com o nosso mundo quanto da possibilidade de expandir o entendimento do que é um trabalho artístico nos dias de hoje. Espero que isso também fique evidente na exposição em Belo Horizonte”, completa. 
 
O recorte que chega à capital mineira reúne projetos desenvolvidos em diferentes suportes, como a fotografia, a pintura, a escultura, o vídeo e a instalação. São 20 artistas – dos 81 da seleção principal –, de 11 países. A itinerância, assim como aconteceu em São Paulo, tem a maior parte das obras feita por mulheres. 
 
“É um fato, que as obras de artistas mulheres ainda são minoria nas exposições grandes no Brasil e no mundo e nos acervos dos museus nacionais e internacionais, com menor presença no mercado de arte e menos resenhas em jornais e veículos especializados”, comenta Volz. “Entendemos que uma das responsabilidades de uma mostra global como a Bienal de São Paulo é ser muito atenta à questão da representatividade, não apenas em relação ao gênero, mas também à origem dos artistas, ainda mais quando a proposta é ser uma plataforma plural, em que várias formas de conhecimento, saberes indígenas e científicos, cosmovisões e narrativas alternativas querem ser entendidos como complementares, e não como excludentes entre si”.
 
Local
 
Um dos trunfos dessa edição, de acordo com a gerente de artes visuais da Fundação Clóvis Salgado, Uiara Azevedo, foi a fluidez alcançada pela curadoria. “A Bienal geralmente é um evento de percurso muito difícil para o público, mas a equipe do Jochen teve muita preocupação com esse aspecto e é algo que mantiveram para cá. Claro que tem um desafio, até arquitetônico, com a saída do pavilhão. Mas a sensação de incerteza que vivemos, que de alguma foi reproduzida lá por meio das obras, também poderá ser experimentada aqui”, afirma.
 
Em Belo Horizonte, a itinerância tem também uma responsabilidade de formação do público. “O evento em São Paulo tem um peso tal que muita gente viaja para lá para ver a Bienal. Aqui, nós temos que lidar com um público mais espontâneo, que já frequenta a Fundação com outros intuitos e não necessariamente é especializado em artes visuais – e nossa intenção é fisgá-lo também. E temos conseguido, essa vai ser a quarta vez que recebemos a itinerância e o número de visitantes só cresceu”, comenta.
 
 
32ª Bienal de São Paulo – Incerteza Viva
Palácio das Artes (av. Afonso Pena,1.537, centro, 3236-7400). De 3 de 
março a 23 de abril. Terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingo das 16h às 21h. Entrada franca.