LITERATURA

Livros, opção mais que válida

O ano termina com um panorama desalentador para o mercado editorial brasileiro

Por Patrícia Cassese
Publicado em 21 de dezembro de 2018 | 19:09
 
 
QUixote Editora

O ano termina com um panorama desalentador para o mercado editorial brasileiro, dados os pedidos de recuperação judicial de duas redes icônicas (Saraiva e Cultura) e da queixa de editoras quanto ao não pagamento do valor devido, o que afetaria o fornecimento. Por outro lado, a Travessa anunciou a intenção de abrir a primeira filial em Lisboa, ainda no primeiro semestre de 2019.

Em Minas, há bons motivos para comemorar, apesar da crise no mercado. Título publicados pela Relicário Edições, “Árvore de Diana”, de Alejandra Pizarnik, integrou a lista dos melhores livros de 2018 da revista “Quatro Cinco Um”, para citar um exemplo. “Foi um ano positivo, acho que continuamos uma curva ascendente, na medida que tivemos mais publicações e mais destaque – então, a impressão foi de crescimento”, diz a editora Maíra Nassif. “Logo no início do ano, tivemos a notícia do prêmio Bravo! – e o livro vencedor foi ‘Como Se Fosse a Casa’, da Ana Martins Marques e do Eduardo Jorge. Outra conquista foi a ampliação de títulos. Lançamos livros da Monica de Aquino, Lucas Guimaraens, Ana Elisa Ribeiro... Lançamentos que têm um valor pessoal e afetivo grande para mim foram os dois principais livros da Alejandra (Pizarnik), que acho que pode ser apontada como a principal poeta argentina do século XX, nunca publicada no Brasil”.

Livrarias que são dublês de editoras, como a Scriptum e a Quixote, também lançaram títulos que reverberam país afora. Caso, por exemplo, de “Brigitte Bardot e a Síndrome de Lolita & Outros Escritos” (Quixote+Do Editoras), que apresentou ao brasileiro três textos até então inéditos de ninguém menos que Simone de Beauvoir (encomendados pela imprensa americana entre os anos 1940 e 60). 

A poesia, em particular, ganhou tônus com um espectro amplo de títulos (e conteúdos) instigantes lançados tanto por nomes já consagrados da cidade, como Jovino Machado e Adriane Garcia. Foi o caso da jornalista e escritora Maíra Vasconcelos, que lançou “Um Quarto Que Fala” (Editora Urutau), com orelha assinada pelo poeta Romério Rômulo e prefácio de Lourdes Nassif, editora do jornal “GGN”, no qual a moça escreve crônicas literárias. 
Aliás, justamente por advogar a causa da literatura, Maíra não se furta a falar do quadro que atinge várias livrarias do Brasil – o que inclusive desencadeou uma campanha para que se presenteie com livros neste Natal. “Me espanta que em meio a tanto consumo, de todo tipo, e existindo essa avidez social por comprar, tenhamos que suplicar para que se consuma leitura. Acho que isso confirma a já sabida precariedade da leitura no país”.
Quanto às redes que entraram com pedido de recuperação judicial, ela opina – mesmo frisando não entender do tema. “Não sei como uma empresa chega a isso, mas, de novo: frequentamos e consumimos todo tipo de estabelecimento e não estamos pisando com a mesma vontade em livrarias”. 

Para a jornalista, o atual ambiente político-social reflete claramente as escolhas. “Nunca se falou tanto sobre a necessidade de lermos livros de história como nas últimas eleições. Como se não estivéssemos lendo sobre nós mesmos. E a falta de leitura traz esse desconhecer-se. Parece que isso nunca ficou tão claro como agora”. 

Vale lembrar que, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em parceria com o Ministério do Trabalho, o número de livrarias e papelarias no país diminuiu em 29% em dez anos. Ao menos a cena em Minas Gerais surge como respiro – e alento.