Literatura

Mário por Wisnik 

Redação O Tempo

Por Jessica Almeida
Publicado em 30 de abril de 2016 | 03:00
 
 
Wisnik visita “Macunaíma” na primeira edição do projeto Nino Andres/Divulgação

Em apenas seis noites, no ano de 1926, Mário de Andrade (1893- 1945) escreveu “Macunaíma”. A obra, no entanto, foi resultado de uma pesquisa longa, que incluiu viagens por várias partes do Brasil. Todo esse processo e a maneira como o livro se insere no contexto da literatura brasileira serão tema do primeiro encontro do projeto “Letra em Cena. Como Ler...”, que será conduzido pelo professor, crítico, músico e filósofo José Miguel Wisnik, na próxima quinta (5).

 
“O mais importante é ressaltar, aqui, que ‘Macunaíma’ virou, numa visão generalizada e superficial, um estereótipo do preguiçoso etc., mas o livro é, na verdade, uma radiografia sofrida, trágica, de um herói encantador e inconsequente, com as consequências terríveis disso. Quem não reconhecerá renovada atualidade nessa história, para além das aparências dadas pelas interpretações fáceis?”, diz Wisnik. 
 
No encerramento da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) do ano passado, que homenageou Mário de Andrade, o professor falou com emoção sobre como o projeto de país do intelectual modernista segue, até hoje, sendo uma utopia. “(Seu projeto) seria tratar a educação e a cultura para todos, sem jogar a juventude pobre e negra no esgoto das prisões”, disse no evento, na época em que se discutia a redução da maioridade penal.
 
Outros paralelos podem ser traçados entre o legado do escritor e problemas que já existiam naquela época e continuamos enfrentando até hoje. “O baixo letramento que se estampa hoje em dia em tudo, a falta do sentido mínimo do que representa a esfera pública, que se destampou na sessão que votou o impeachment no Congresso Nacional, onde os deputados, em sua avassaladora maioria, falavam não da perspectiva pública, mas como reflexo ao mesmo tempo explícito e inconsciente de suas relações de interesse privado (familiar, religioso, eleitoral); o analfabetismo funcional que se manifesta no alunado, na classe política, na mídia, em agentes culturais, nas mais diferentes instituições, e portanto em nós todos, é o quadro atual, generalizado e agravado, do abismo cultural que Mário quis superar, na sua época”, enumera.
 
Além de Wisnik, o ator Arildo de Barros, do Grupo Galpão, fará uma leitura dramática de um trecho da obra. No projeto, que tem curadoria do jornalista, editor e escritor José Eduardo Gonçalves, também serão visitadas as obras de Guimarães Rosa, Ana Cristina César e Murilo Rubião. 
 
Letra em Cena. Como Ler...
Mário de Andrade por José Miguel Wisnik, com leitura dramática de Arildo de Barros
Café do Centro Cultural Minas Tênis Clube (r. da Bahia, 2.244, Lourdes, 3516-1027). Dia 5 (quinta), às 19h. Entrada gratuita mediante inscrição pelo email letraemcena@minastc.com.br até este sábado (30). 150 vagas.