ARTES CÊNICAS

O atual amor das cavernas

Ana Clara Gueiros e Guilherme Piva trazem a montagem “A Invenção do Amor para BH, no dia 28

Por Alex Bessas
Publicado em 21 de abril de 2018 | 03:00
 
 
DR: Maria Clara Gueiros e Guilherme Piva em cena do espetáculo, que chega agora à cidade Renato Mangolin/Divulgação

"Quem inventou o amor? Me explica, por favor” entoava Renato Russo, em tom de quase lamento, no álbum “Uma Outra Estação” (1997), do Legião Urbana. O artista não estava só. Afinal, de onde vieram as regras do jogo nas relações amorosas? E o que, afinal, mudou com o passar do tempo? Se as perguntas parecem difíceis, as respostas podem ser divertidas – pelo menos em “A Invenção do Amor”, peça que Ana Clara Gueiros e Guilherme Piva trazem a BH no próximo sábado (28), no Teatro Bradesco.

No espetáculo estariam respostas a várias dessas questões – que poderão inclusive ser recebidas com risadas. E identificação. Quem criou o amor? Foi Croc, o homem das cavernas vivido por Piva. O personagem “cria tudo a seu bel prazer”, cabendo a Nhaca (Maria Clara) se submeter, como ela mesma explica. 

O ator gaúcho acrescenta: “Na peça, somos um casal pré-histórico. A gente mostra um personagem extremamente machista – e nada melhor que o homem das cavernas para ser assim”. De acordo com Piva, o Croc inventa que, depois de casado, ela só pode fazer amor com ele. “Mas ele, como homem não engravida, pode fazer com outras mulheres. A Nhaca vai aceitando, mas, com o tempo, se toca que é uma relação que beneficia só uma parte. Então, começa a ativar a rebeldia, a ativar a vontade dela, a lutar por seus direitos”, completa.

O conflito do casal é uma alegoria sobre as transformações das relações amorosas ao longo do tempo. “A gente tem vivido mudanças que vêm para o bem e que, muitas vezes, partem dos questionamentos das mulheres”, analisa Maria Clara. Bem, mas e o que tem atravessado os séculos e permanecido igual? “Os relacionamentos passam por ciclos que permanecem os mesmos, é um tema universal”, avalia Piva. “As pessoas se conhecem, se gostam, casam-se, há os ciúmes, vêm os desentendimentos, os filhos, separações, reconquistas...”, enumera ele. E tudo isso, claro, está na peça.

Para cada situação que representa um desses ciclos, a montagem se vale de referências a casais icônicos da ficção ou da realidade. “Meu personagem é um Homo Sapiens e o da Maria Clara, uma mulher de Neanderthal. E eles não poderiam se relacionar... Então, fazemos uma alusão a Romeu e Julieta”, adianta Piva. Quando o assunto avança para o feminismo, eles recorrem a Lampião e Maria Bonita. “Ele ficava em casa, bordava, e ela ia para guerra”, cita o ator. Maria Clara lembra que há ainda outras referências, como à figura bíblica do Rei Salomão e a suas mil mulheres, bem como ao best-seller “Cinquenta Tons de Cinza”. Nem a psicanálise fica de fora: em crise, o terapeuta do casal é Freud Flintstone.
“O humor é essencial para falar de assuntos muito importantes, pois abre uma passagem fluida e agradável para pensar coisas muito incômodas, como o machismo”, indica Maria Clara Gueiros, sobre as críticas presentes no texto, sempre embaladas pelo riso. Piva completa: “A plateia toda já passou, está passando ou vai passar por alguma situação que retratamos... São temas universais, então, você vê casais se cutucando, dizendo: ‘olha você ali’, ‘esse é você’... Gera uma identificação e todo mundo consegue rir de si mesmo”.

Vale dizer que a primeira parceria entre os dois atores no teatro é festejada com ênfase pelas partes. “A gente é da mesma geração, fala a mesma língua”, brinda ela. O gosto pelo teatro é outro elemento que dá liga ao projeto. Piva, por exemplo, compara sua relação com o palco como um “velado amor platônico”. Já a carioca aproveita para dizer que o sentimento sobre o qual a peça gira é o mesmo que os norteia no ofício de atuar. “E as pessoas vão sair da peça pensando nele”.

 

A Invenção do Amor
Teatro Bradesco (r. da Bahia, 2244, Lourdes). Dia 28 (sábado), às 21h; e dia 29 (domingo), às 19h. R$ 80 (setor 1, inteira) e R$ 70 (setor 2, inteira).