Especial

Belo Horizonte à flor da pele 

No aniversário de 120 anos da capital, o Pampulha celebra a identidade da nossa cidade

Por Jessica Almeida
Publicado em 09 de dezembro de 2017 | 04:00
 
 
Capa Foto: Fred Magno

Um território de dualidades. Cercada pelas montanhas, Belo Horizonte nasceu com o olho no futuro. O planejamento do engenheiro Aarão Reis (1853-1936) mirava a modernidade em um país que pretendia se consolidar como república. Um contraponto à antiga capital, a colonial Ouro Preto.

Mas uma cidade em Minas Gerais – mais especificamente, no centro do Estado – dificilmente escaparia à mineiridade. E é por isso que quando dizemos que vivemos em uma “roça grande” não estamos necessariamente fazendo uma crítica. Estamos reconhecendo que em alguns cantos daqui podemos encontrar São Paulo e, em outros, o Vale do Jequitinhonha. Aliás, BH também é um terreno de segredos, sejam eles bons ou ruins. Viver em Belo Horizonte é se aventurar em descobertas.

É essa identidade tão complexa que o celebra nesta edição, em comemoração ao aniversário de 120 anos da cidade. Nas reportagens deste especial, projetos que permitem vislumbrar a cidade a partir de pequenos detalhes; gente que ajudou a criar nossos cartões-postais Pampulha iniciativas que demonstram como, por mais que tenhamos um pé na tradição, somos vanguardistas; coisas irresistíveis, como o pão de queijo – ok, ele não é exclusividade nossa, mas tem a cara de BH –; e objetos inspirados em temas daqui.

FOTO: FRED MAGNO

"Forma de levar a paixão
que sinto", Bernardo Garcia,
gastrônomo

E também apaixonados, a começar por aqueles que decidiram marcar na pele seu amor pela capital. Pessoas que escolheram tornar visível e permanente a relação que construíram com a vida aqui.

O gastrônomo Bernardo Garcia, 25, estava de mudança para Curitiba quando tatuou a igreja de São Francisco de Assis, um nos mais emblemáticos cartões postais da cidade, no braço direito. “Sempre morei na Pampulha, e foi a forma que eu encontrei de levar um pouco da paixão que sinto pela região e pela cidade junto comigo”, explica. A referência, no entanto, nem sempre é facilmente reconhecida. “Por estar com o traço do projeto arquitetônico, o que foi uma forma de homenagear também o (Oscar) Niemeyer (arquiteto que projetou o Complexo da Pampulha), as pessoas custam a sacar. Já disseram que era um cachorro-quente, um guarda chuva, um ratinho, e uma moça disse até que era um velhinho em cima de uma serra”, lembra, aos risos.

Giovana Villari escolheu a praça da Liberdade para sua homenagem. “Nasci em BH, mas fiquei muitos anos fora. E, desde que voltei, em 2012, queria ter pra sempre comigo um pedacinho de cada uma daquelas cidades”, diz a estudante, que também tem o Elevador Lacerda, de Salvador, e o Cristo Redentor, do Rio de Janeiro, na pele. “Escolhi a praça da Liberdade para representar BH porque passei três anos caminhando todos os dias por ela para chegar em casa. Ela é sinônimo de aconchego e uma velha amiga para mim. Fiz a tatoo em abril deste ano e não poderia estar mais orgulhosa em carregar minha cidade comigo”. 

FOTO: Douglas Magno / O Tempo
Foto: Douglas Magno / O Tempo
FOTO: Douglas Magno / O Tempo
“A praça da Liberdade é
sinônimo de aconchego",
Giovana Villari, estudante

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Razões diversas, sentimentos iguais

FOTO: Arquivo Pessoal
 

Foi justamente no que Belo Horizonte tem de mais antagônico com sua cidade natal, Recife, que o pesquisador Txai Ferraz, 26, quis basear sua homenagem ao lugar que tão bem o acolheu mesmo antes que ele passasse dois anos morando aqui. “BH sempre me impactou por ter um paisagem montanhosa e, sobretudo, pela vista da Serra do Curral, que dá pra ver da (avenida) Afonso Pena. É bem linda e diferente de Recife, onde quase tudo é uma planície”, observa. Foi esse o tema escolhido para sua primeira tatuagem. “Resolvi tatuar a serra para me lembrar sempre desse período em que morei aí, dos amigos que fiz e das coisas boas que me aconteceram”, diz.

FOTO: Arquivo Pessoal
"BH sempre me impactou
por ter um paisagem
montanhosa", Txai Ferraz,
pesquisador pernambucano

 

O fotógrafo Mateus Lustosa, 25, também deixa na pele rastros dos lugares em que morou: Ouro Preto, Toronto, Lisboa e, claro, Belo Horizonte. Junto do tatuador Matheus Dias, definiu que seria um desenho em forma de foto, representando seu ofício. “Escolhi a escultura das Três Graças, que fica no jardim do Palácio da Liberdade, em função do significado e de onde está afixada. Ela é parte de um pedaço muito icônico da cidade, aquele entorno da praça da Liberdade”, explica.

FOTO: Mateus Lustosa/Divulgação
 

 

FOTO: Mateus Lustosa/Divulgação

“Ela (a escultura das Três
Graças) é parte de um pedaço
muito icônico da cidade (praça
da Liberdade)", Mateus
Lustosa, fotógrafo

 

FOTO: Fred Magno
 

 

FOTO: Fred Magno
“Gosto muito da expressão
felizinha dele, apesar de ser
meio canibal esse lance
dele estar chupando um
pirulito", André Macedo,
publicitário

 

 

 

 

Já o publicitário André Macedo, 30, nunca havia pensado em tatuar o obelisco da praça Sete – mais conhecido como “Pirulito”. Porém, a arte da tatuadora Thereza Nardelli (o Pirulito com um pirulito na mão), o fisgou instantaneamente. Depois de tatuar com ela o número 5102, linha de ônibus que tem ponto final na porta de um apartamento em que morou, no bairro Santo Antônio, ele repetiu a dose. “Me encantei com o desenho porque acho que não tem símbolo mais icônico para o belo-horizontino que o Pirulito – eu, particularmente, tenho uma relação de amor e ódio com o centro e a loucura que é o entorno da praça. Além disso, gosto muito da expressão felizinha dele, apesar de ser meio canibal esse lance dele estar chupando um pirulito”, diverte-se.

E mais do que tatuar um símbolo de BH, a estudante Alessandra Guimarães, 21, o fez em seu coração. “Quando buscava o que tatuar, o viaduto Santa Tereza era um lugar muito presente na minha vida. Além de ser um ponto turístico, é um reduto cultural diversificado. Além da forte relação do lugar com célebres escritores locais (quem nunca ouviu falar do ritual de passagem dos jovens Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Fernando Sabino, dentre outros, ao escalar os arcos do viaduto, cada um em seu tempo?). Pra mim, isso tem tudo a ver com a comemoração dos 120 anos de Belo Horizonte e a minha relação com a cidade”.

FOTO: Douglas Magno
 

 

FOTO: Douglas Magno
“Além de ser um ponto
turístico, é um reduto
cultural diversificado",
Alessandra Guimarães,
estudante