Futuro

Cerveja é Cultura: Latinhas são tendência para artesanais

Em meio a polêmicas e mitos, a embalagem de alumínio vem ganhando cada vez mais espaço no mercado cervejeiro, seguindo uma tendência mundial

Por Renata Abritta
Publicado em 27 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 

Você prefere cerveja em lata ou em garrafa? Nos Estados Unidos, o hábito de beber cerveja artesanal em lata não é nenhuma novidade. Aqui, no Brasil, porém, boa parte das pessoas vai responder a essa pergunta com a segunda opção. Isso porque muitas pessoas acreditam que garrafa é um recipiente com mais qualidade. Porém, grande parte do que se diz é mito. E é bom se preparar, porque a tendência mundial está chegando, e cada vez mais as cervejarias brasileiras estão apostando nas famosas latinhas.

A Capa Preta, por exemplo, produz atualmente 17 rótulos diferentes, dos quais sete são em lata. “Acho que é um caminho sem volta. Não posso falar que uma cerveja em lata tem mais qualidade do que em garrafa, ou vice-versa, porque o processo é o mesmo. Se o envase não for bem feito, vai contaminar a cerveja, tanto de lata quanto de garrafa”, afirma André Bastos, sócio responsável pelo marketing da cervejaria.

Bastos explica quais seriam os pontos positivos da lata. “Ela tem um envase perfeitamente fechado, sem trocas com o meio ambiente, o que acontece com a garrafa uma vez que a tampa não é 100% fechada. Quando vemos ferrugem em baixo da tampa significa que está tendo troca com o meio ambiente”, destaca.

Os benefícios não param por aí. Segundo Bastos, as latas são mais fáceis de transportar, o que favorece o processo de logística da cervejaria, além do fato de o alumínio ser reciclável, o que beneficia o meio ambiente.

Light-struck

Outro ponto em que a lata leva vantagem é por evitar reações à luz tanto natural quanto artificial, evitando assim um “off-flavor” (defeito da cerveja) conhecido como “light-struck”, como explica Alfredo Figueiredo, mestre cervejeiro e sócio da Krug Bier. “A lata tem a vantagem de ser totalmente opaca. A luz atrapalha muito a cerveja, gerando uma reação que pode alterar o sabor ao formar uma substância com cheiro de urina de gambá (3-metil-2-buteno-1-tiol)”, destaca.

Ele realça que as garrafas na cor verde e transparente não filtram o espectro de luz ultravioleta (UV). A mais indicada é a garrafa âmbar, neste caso, que retém um pouco melhor esse processo. Segundo o mestre cervejeiro, pode-se concluir que a cerveja de garrafa ou de lata pode apresentar gosto diferente em função desta reação, o que não quer dizer que o conteúdo da garrafa seja, necessariamente, melhor.

A preocupação sobre a possível liberação de resíduos do alumínio também é descartada. “Existe um tratamento na superfície da lata para isso não ocorrer, senão o alumínio não seria liberado para esse fim”, diz.

Diante dos benefícios, a Krug Bier também tem investido na embalagem. Serão lançados em breve três rótulos em lata: Rancor (indian pale ale), Ignorância (american double IPA) e a dry stout com nitrogênio. Já a Krug 20 (international lager), que surgiu em lata e hoje é vendida em garrafa, retorna ao mercado em fevereiro na embalagem de alumínio.

Boas vendas

A Wäls também apostou em um rótulo em lata – a Wäls Läger – e foi surpreendida pelo bom resultado das vendas. “A receptividade foi ótima e superou nossas expectativas. Inicialmente, estávamos vendendo somente em Minas Gerais, e a enorme procura pela cerveja fora do Estado nos fez disponibilizar o produto pelo nosso e-commerce para todo o Brasil”, conta Ricardo Canabrava, mestre cervejeiro da empresa.

E para quem ainda tem alguma dúvida de que o sabor da cerveja em lata ou em garrafa não apresenta diferença (considerando que não houve nenhuma interferência externa como as citadas anteriormente), Canabrava é enfático. “Não existem diferenças em relação ao sabor e ao aroma das cervejas em garrafas ou latas. Portanto, a embalagem não interfere no produto”, pontua.

Preferência cultural

Garrafas

Os benefícios das latas são grandes, mas as garrafas não são vilâs. O vidro tem suas qualidades, entre elas a de ser completamente inerte, não amassando. Além disso alguns estilos de cerveja são mais indicados para as garrafas, como os que são refermentados após o envase. A tecnologia para enlatar também pode ser um impasse para cervejarias de menor porte. Fora tudo isso, há ainda a preferência cultural do brasileiro por esse tipo de embalagem, tanto que as garrafas predominam no mercado artesanal brasileiro.

Lá fora e aqui

“Na Inglaterra eu só compro cerveja em lata, nos Estados Unidos tem muita lata também. Aqui ainda tem esse preconceito, mas isso vai acabar aos poucos”, afirma Alfredo Figueiredo, mestre cervejeiro e sócio da Krug Bier. Segundo André Bastos, sócio da Capa Preta, essa barreira por parte do consumidor precisa ser rompida. “O público que conhece cerveja artesanal já sabe das qualidades da lata. Se você for a um empório especializado, o cliente que conhece não tem problema nenhum em comprar, já o público leigo ainda apresenta resistência”, conta.