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Horas de desespero

Socorro, meu bicho fugiu!. Antes de mais nada, calma: e confira, aqui, dicas de como proceder para encontrar o seu pet

Por Patrícia Cassese
Publicado em 17 de novembro de 2018 | 03:00
 
 
Nas ruas da cidade, cartazes clamam por notícias dos animais perdidos Foto: Divulgação

No momento do reencontro, lágrimas. Muitas. Mas, ao contrário das derramadas no dia anterior, agora, de alegria, por representarem o fim de um pesadelo para a contadora Maria Tereza. Após quase 24 horas de tormento, Chico retornava, enfim, a seu lar, doce lar, juntando-se a Maria, sua cara-metade. Ao ver as duas calopsitas novamente reunidas, a moça não refreou o ímpeto de cobrir de beijos a ave que chegou a passar a noite fora.

Um desenlace afim é o que a professora de geografia Ana Maria Simões Coelho espera com o coração nas mãos. Desde que Bidu fugiu, no início de junho, ela vive na expectativa de que os cartazes que espalhou pela cidade ou os posts nas redes sociais surtam efeito, e que alguém que porventura tenha levado o cãozinho para casa, para protegê-lo das ruas, faça a boa ação de procurá-la. 

A verdade é que basta dar uma caminhada pelas ruas da cidade para se deparar, em postes ou murais de pequenos estabelecimentos comerciais, com fotos de cães, gatos e pássaros perdidos, fixadas junto aos telefones dos proprietários e, não raro, promessas de recompensas.

E mesmo cercados de zelo e carinho, fato é que muitos animais acabam aproveitando uma porta entreaberta ou uma coleira mais larga para se aventurar a explorar outros territórios, deixando seus donos no mais completo desespero – e, muitas vezes, sem saber como proceder. Não por outro motivo, o Pampulha foi atrás de algumas organizações e pessoas que lidam com animais para saber quais os procedimentos mais prudentes nessa hora em que inequivocamente o pânico se instala.

Presidente da ONG Rockbicho, uma das que buscam dar apoio a donos de animais perdidos, Maria Helena Maciel de Athayde tem uma série de dicas na ponta da língua, mas, antes de dividi-las, reitera a importância da plaquinha de identificação. “Veja, não é garantia de devolução (referindo-se ao fato de que algumas pessoas, mesmo encontrando o animal com a identificação, acabam preferindo ficar com a guarda, indiferentes ao sofrimento do dono), mas ajuda.

Maria Helena ressalta que a plaquinha pode (e deve) ser usada também em gatos. “A maioria dos animais achados nas ruas está sem a plaquinha. E, no caso dos gatos, hoje o mercado oferece coleiras confortáveis para eles – a Rockbicho inclusive costuma indicar algumas”, pontua. No caso da plaquinha, a ONG vende um modelo, de acrílico.

No entanto, se nem sempre evitar é possível, ocorrida a fuga, é hora de partir imediatamente para a ação. “No caso dos gatos, se estivermos nos referindo a uma casa, vale deixar a caixa de areia na rua, para que ele sinta o cheiro. Geralmente, gatos não costumam ir muito longe”. A tradicional volta no bairro é outra opção. E enquanto alguém faz a ronda (motorizada ou a pé), uma outra já pode ir separando a foto e preparando os cartazes a serem fixados em postes, pontos de ônibus e comércios de bairro. “Geralmente, todos permitem, têm murais. Vale tambémafixá-los em clínicas veterinárias e pet shops”.

Faixas são uma alternativa, mas Maria Helena pontua que é preciso seguir a legislação do município. Em ambos os casos, a presidente da Rock Bicho aconselha a não citar valor de recompensa e a deixar apenas o número do celular, para evitar eventuais chantagens (caso a pessoa que encontre o animal aja de má-fé, tentando extorquir dinheiro). 

Em bairros que tenham monitoramento particular, Maria Helena sugere avisar os funcionários das guaritas ou os que fazem ronda por moto. “Não é obrigação deles, mas, claro, podem ajudar”. Um outro sistema disponível é o de carro de som ou moto som, no qual o motorista percorre ruas próximas ao ponto no qual o animal sumiu anunciando as características dele pelo alto-falante. “Vale ressaltar que também não é prudente citar o endereço da casa, apenas o celular”.

Alguns jornais impressos – como o “Super Notícia” – e programas de rádio e TV cedem espaço para publicar fotos de animais perdidos. Um outro suporte – relativamente recente, mas importante – é o das redes sociais. Atualmente, há várias páginas dedicadas a localizar animais perdidos, como a do Núcleo de Apoio à Localização de Animais – Nala.

ONGs voltadas a animais também publicam as fotos dos “fugitivos” – além da Rockbicho, existem várias, como a CãoViver, Bichos Gerais, Bicho Loko etc. Da mesma forma, páginas de associações de bairros podem ser úteis e, claro, os perfis particulares: no caso, não hesite em pedir para os amigos compartilharem o post.

Laila, o retorno

Foi graças a esse expediente, aliás, que o artista plástico e artesão Tião Vieira, 52, conseguiu reaver sua Laila, uma simpática mistura de poodle com cocker spaniel. “Queria morrer”, confessa, ao se lembrar do dia em que sua fiel escudeira fugiu. Rapidamente, ele deu start aos modos possíveis de localizá-la. “Como perto da minha casa há um acesso à BR, pensei no pior – mesmo porque, ela já é mais velha e, por isso, praticamente cega”. 

E, de fato, foi por lá mesmo que a cadelinha se esgueirou, sendo resgatada por uma boa alma que, por desconhecer a origem do animal, o encaminhou a um abrigo. E foi exatamente neste compartilhamento de postagens que Laila foi identificada e pôde voltar para casa sã e salva, reencontrando não só Tião, como Beethoven, o gato do ateliê do artista. “Não tenho nem outra expressão para me identificar (na hora do retorno): era só alegria”.

Nala foi a semente

Foi por meio das redes sociais que o sumiço da vira-latinha Nala mobilizou a capital mineira ano passado, resultando na criação de uma página no Facebook para coletar informações sobre seu paradeiro. Nala foi localizada, mas a página seguiu em atividade, agora para ajudar outras pessoas que perderam seus animais – hoje, aliás, são outros administradores. 

Uma delas, Débora Cândida, diz que uma de suas satisfações é constatar que a página se tornou uma referência, sendo espontaneamente indicada pela população em casos de fuga. Como Maria Helena, ela também incentiva o uso da plaquinha, por lembrar que animais perdidos podem ser encontrados por pessoas que sequer têm redes sociais. “Muitas vezes, ficam com animal não por maldade, mas por não saberem como proceder”.

Aliás, por isso é importante também procurar em clínicas. E, da mesma forma como grupos de apoio se prontificam a espraiar os pedidos de socorro, Débora lembra a importância de, localizado o animal, o dono comunicar o feito, para que a página em questão retire o anúncio e possa priorizar os demais pedidos em curso.

Traje ‘de festa’ para reencontro

A professora de história Mannuela Luz mandou emoldurar um dos cartazes que imprimiu no afã de reencontrar-se com Jayme. Na parede, ele simboliza o sucesso da empreitada, que vale ser contada em detalhes. Feliz proprietária de três cães, Mannu acostumou-se a soltá-los numa obra próxima à sua casa – afinal, ela sempre estava atenta. No entanto, o inquieto Jayme achou por bem escapar, dando início ao tormenta da moça. “Naquele dia, procurei a noite inteira, junto com minha vizinha, de carro, ficamos rodando o bairro (Liberdade), gritando, mas não encontramos”.

Também de pronto, os cartazes foram espalhados, mas as noites continuaram a ser de busca. “Como nos deram essa dica, de procurar mais à noite, que é quando os animais que fogem se expõem mais, acordava às três da manhã para procurar o Jayme”. 

Para júbilo de Mannu, o rebelde cãozinho foi encontrado, com a coleira peitoral, por uma moça, que levou-o a um pet shop, clamando pelo abrigo do animal até que o dono fosse localizado. Na verdade, a dona do local negou a hospedagem, mas uma senhora que estava ali, compadecida, resolveu levá-lo para sua casa. 

Quando a moça que localizou Jayme se deparou com um dos cartazes, ligou para Mannuela, revelando que o cão estava sob a tutela da dita senhora. “Na hora, me desesperei, pensando que a mulher não ia me devolver. Liguei para ela, que estava no trabalho e só poderia me receber às cinco da tarde. Vesti até roupa de festa para buscá-lo”, diverte-se ela, revelando que, agora, a farra dos passeios sem coleira acabou para Jayme.

“Quando a gente passeia, canto para ele o trecho da música (“Há Tempos”) do Renato Russo, que diz ‘disciplina é liberdade’. Se não teve disciplina, não terá liberdade”, brinca.

Em tempo: Jayminho é um cão positivo para leishmaniose, mas com boa evolução do tratamento. Ele conquistou Mannu de pronto, em uma clínica, onde, há cinco anos, chegou estropiado, “só osso e feridas”. A professora estava de luto: tinha acabado de perder sua cadelinha e viu em Jayme a possibilidade de dar início a uma nova relação de afeto.

Um laço que a também professora, mas de geografia, Ana Maria Simões Coelho sabe bem. Há cinco meses, ela se aferroa à esperança de reencontrar Bidu, que fugiu durante uma viagem dela com o marido. No período, como de praxe, o cão costumava ficar com a sogra, mas, durante um passeio, conseguiu se soltar da guia. “Dona Conceição (a sogra) passou mal, ficou desorientada, com as pernas bambas”. Juntos, os três deram início ao périplo habitual: cartazes, faixas, contratação de carro de som (com o marido junto do motorista na operação), anúncios em programas de TV, rádio, jornais impressos... Infelizmente, por ora, em vão. 

Adquirido numa ida despretensiosa à feira de flores do bairro Santa Efigênia, quando se apaixonou pelo cãozinho que era vendido como um beagle, Bidu provocou uma revolução na vida do casal. “Eu já queria me tornar vegetariana, foi um impulso”. O amor aos animais cresceu de tal monta que ela também adotou Pitoco, que chegou cheio de vermes, pulgas e carrapatos. Na busca por Bidu, o trio se encantou por um cãozinho de características similares, com o qual foram se encontrar supondo ser o fujão. “Acabamos ficando com ele, o Bilu”. Não só. No meio dessa trajetória, o casal também se deparou com Lola, uma cachorrinha que pertencia a uma ocupação, mas foi abandonada – resultado: acabou sendo também adotada. Agora, falta só Bidu voltar para a felicidade reinar de novo na casa dessa família. A divulgação da foto do garoto, logo abaixo, é mais um fio de esperança.

Um novo espaço por aqui para os pets 

Bem cuidado, limpo, vacinado, vermifugado... Bidu, o cãozinho que aparece na foto ao lado, pode hoje estar sob a guarda de alguém que o encontrou vagando pelas ruas. Para a professora Ana Maria, seria mesmo difícil resistir a tanto encanto. 

Mesmo assim, ela, que o enxerga como um ente da família, segue mantendo as esperanças de um eventual retorno ao lar. Embora não existam estatísticas oficiais, as chances de os donos localizarem animais perdidos aumentaram consideravelmente com o advento das redes sociais – caso da já citada página Nala, no Facebook. Lá, segundo Débora Cândida, já foram registrados até casos de araras sumidas.

Seja como for, a fuga de animais, apresentada nesta edição, corresponde ao pontapé inicial da nova série que o Pampulha preparou para o seu leitor. 

A partir da próxima edição, o semanário – que, você sabe, tem distribuição gratuita, aos sábados, em vários pontos da cidade – vai publicar uma página dedicada ao universo dos pets, abordando temas que vão da saúde dos bichinhos ao comportamento, incluindo também as novidades que o mercado que gira em torno dessa relação de afeto está disponibilizando, além de fotos de bichinhos que estão para adoção. Não perca!