LITERATURA

O fazer poético de Fabiana Cozza

Livro de poemas Álbum Duplo dá voz a Euzébia Santos e Martha Gonzalez, dois heterônimos da cantora paulistana

Por Patrícia Cessese
Publicado em 13 de janeiro de 2018 | 04:00
 
 
A cantora paulistana se envereda agora pelo campo da escrita, tendo dois heterônimos no front (Euzébia Santos e Martha Gonzaleza) Foto: SISTEMA

 

A princípio, era só diletantismo. “Uma experiência solitária”, lembra a cantora paulistana Fabiana Cozza. Mas vieram os amigos, a exigir que o material não ficasse restrito apenas a um pequeno círculo. No caso, a produtora Nenê Rodrigues, o companheiro de vida, Gilberto, o ator e cantor mineiro Cristiano Cunha, o escritor Marcelino Freire e o poeta Paulo César Pinheiro. O resultado é que Fabiana se armou de coragem e os poemas de sua lavra deram base ao livro “Álbum Duplo”, que ela lança em BH no próximo sábado, na Livraria Quixote.
 
A obra, na verdade, dá voz a Euzébia Santos e Martha Gonzalez, dois heterônimos. Fabiana explica: “A escrita, para mim, é feito uma caixinha de música. São vozes que me habitam e só eu ouço (ou ouvia). Euzébia e Martha Gonzales são a extensão do meu instrumento, são meus desencontros, minhas esquinas, minhas dúvidas, os embates em relação ao amor, à vida”.
 
Fabiana conta que a maioria dos poemas brotou em uma viagem à África – “em 2016, quando me apresentei por lá”. A voz de Martha, prossegue, ecoou graças também ao incentivo do poeta Everton Behenck. “León, o eu masculino com o qual ela dialoga, é dele”, avisa. Ela também ressalta o olhar do seu editor, o escritor e poeta mineiro Bruno Brum. “Fiz os últimos ajustes a partir do olhar dele. Aliás, trata-se de um lançamento duplo: minha estreia na literatura e o nascimento da editora Pedra, Papel, Tesoura”, brinda.
 
Conexão
 
Fabiana Cozza se conectou com a poesia ainda na infância, conforme relembra. “Quando criança, minhas autoras de cabeceira eram Ruth Rocha e Cecília Meirelles. Na adolescência, passei a ler poetas que me acompanham desde então: Adélia Prado, Manoel de Barros, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade”.
 
Em prosa ou verso, dos autores contemporâneos, ela não hesita em se enfronhar na obra de Noemi Jaffe, Ana Martins Marques, Mia Couto, Leminski, Livia Garcia-Roza, Sergio Vaz e Cidinha Silva, bem como dos já citados Behenck e Freire. “E na de alguns escritores de língua espanhola: Garcia Lorca, Julio Cortázar, Ernesto Cardenal...”.
 
Instigada a falar da importância da poesia nos tempos atuais, pontua: “É o lugar do grito, da respiração, do pensamento, da arte que resiste a estes tempos nefastos”. Já quando provocada a falar sobre um poema em particular, opta por “Vó Taia”. “Uma ‘rosa de saudade’ à minha avó paterna. Escrevi pra ela quando estava em Cabo Verde, e mexe muito comigo”, avisa. 
 
Além do livro, Fabiana segue turnê com “Ay Amor!”, junto ao pianista cubano Pepe Cisneros. “E ensaio ‘Chão de Estrelas’, com o acordeonista Toninho Ferragutti. Os dois espetáculos foram criados e são lindamente dirigidos pelo Elias Andreato”, finaliza.
 
Fabiana Cozza
Lançamento de “Álbum Duplo”. 
Livraria Quixote (r. Fernandes Tourinho, 274, Savassi, 3227-3077). Dia 20 (sábado), das 11h às 15h. Evento aberto ao público.