INVERNO DAS ARTES

O poderio de Zaika 

Zaika Dos Santos apresenta prévia de seu segundo disco “Akofena no Palácio das Artes ao lado do produtor Dubalizer e do DJ ED, no dia 17

Por Patrícia Cassese
Publicado em 15 de julho de 2017 | 03:00
 
 
Zaika mostrará, no show, as faixas do disco “Akofena” Foto: júlio leão/divulgação

 

Com previsão de lançamento no primeiro semestre de 2018, “Akofena”, segundo disco de Zaika Dos Santos, será apresentado completo para o público do 3º Inverno das Artes. Nesta segunda (17), na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, a belo-horizontina ocupa o palco junto ao produtor Dubalizer e ao DJ ED.
 
 
O petardo, na verdade, está gravado desde 2015, e não foi lançado ainda apenas por questões de direitos autorais: para citar exemplos, em uma faixa, ela trabalha com um sampler de João Bosco, em outro, com o da voz de Sueli Carneiro, filósofa e ativista pela qual Zaika não esconde a admiração. Disco e show enfatizam o lugar de fala da mulher negra, mas ampliam o espectro incorporando também questões como a preservação das matrizes africanas. 
 
Pela multiplicidade de seu saber artístico – além de cantora e compositora, é arte-educadora, trançadeira, produtora cultural, graduada em audiovisual e web designer –, Zaika não entende a música como seu único pilar. Mas pondera que esse universo tem, sim, lhe dado muito respaldo – hoje, se reconhece como um expoente da música eletrônica.
 
A artista também enfatiza o fato de não ser, em sua trajetória, afetada pelo fator pressa. “De verdade, não lido com a música – e com a arte de uma maneira geral – com desespero, e sim com a vontade de dizer o que entendo ser necessário, o que é interessante para mim. De transformar isso em um processo público, para potencializar essa fala”, diz ela, cujo trânsito por territórios artísticos foi quase um processo orgânico. 
 
“Sou do Aglomerado da Serra, meu pai é produtor cultural e minha mãe, Selma Santos, cantora. Sempre transitei muito no meio cultural, inclusive quando morei em Contagem, onde atuei bastante com o hip hop”. Além da influência materna – “quando era criança, ela sempre me levava aos estúdios, assim como a peças teatrais, ao cinema” –, Zaika ressalva a influência de duas tias: na escrita, de Telma, já falecida, e, como trançadeira, de Nilma, que chegou a trabalhar no Salão Betina, um dos precursores, em BH, da beleza afro. “Se você me pedir para listar as minhas influências, poderia citar várias, mas a verdade é que se cheguei a elas, foi por influência da minha mãe e das minhas tias”.
 
E por falar em tranças, Zaika acaba de encerrar a performance “Nagô”, seu Trabalho de Conclusão de Curso da Guignard. Nele, a moça trançou o cabelo com o objetivo “de enraizar, alongar e desconstruir conceitos e ideias”. Em um segundo momento, foi à praça Sete, onde aferiu reações das mais diversas. “Uma coisa muito bacana foi o carinho que recebi das pessoas”, conclui.
 
 
Zaika Dos Santos
Sala Juvenal Dias (av. Afonso Pena, 1537). Dia 17 (segunda), às 20h30. R$ 40 (inteira)
 
Humberto mauro exibe Rauol Peck
 
Cinema Entre os dias 21 e 27, o Inverno das Artes apresenta mostra do haitiano Raoul Peck, indicado ao Oscar de Melhor Documentário 2016, por “Eu Não Sou Seu Negro”. São sete filmes, como “Canto do Haiti”, “O Homem das Docas” ou “Lumumba”. Na Sala Humberto Mauro. Entrada gratuita.