Playmobil

Clássico dos brinquedos

Brinquedo faz 40 anos com comunidade de fãs que mantêm paixão após infância

Por Priscila Brito
Publicado em 13 de fevereiro de 2014 | 15:41
 
 
Maria Misk Moysés atraiu 100 mil seguidores de todo o mundo com fotos de Playmobil wlst.com.br/divulgação

Não é qualquer um que passa a vida inteira estampando um incansável e convidativo sorriso no rosto – e ainda por cima mantém o penteado intacto. Mas ele conseguiu. O Playmobil, linha de brinquedos criada pelo alemão Hans Beck (1929-2009), e cujo símbolo máximo é o carismático boneco que nunca para de sorrir, esteja ele encarnando um pirata ou um policial, completa este ano 40 anos de existência. 
 
Chegou até aqui entretendo gerações de crianças, virando ícone pop e habitando a memória afetiva de muita gente. Mas contou também com a ajuda de fãs e colecionadores que se dedicam a alimentar em outros admiradores a paixão pelo brinquedo e ajudam a esticar as décadas de vida da criação alemã. 
 
Com mais de 100 mil seguidores do Brasil e do mundo – inclusive gente da Tailândia e de Cingapura, o perfil do Instagram @iloveplaymo, administrado pela psicóloga mineira Maria Misk Moysés, 36, dá, diariamente, para fãs espalhados pelo mundo, amostras da versatilidade do brinquedo. Os cerca de 700 bonecos da coleção de Maria servem de modelo para fotografias produzidas por ela própria. Nas imagens, eles “fazem pose” ou são “flagrados” em situações de lazer em cenários que vão de fazendas a locais no interior de Minas, no litoral do Rio de Janeiro e até na Alemanha.
 
O projeto nasceu como uma brincadeira – dessas que só o Playmobil é capaz de proporcionar – quando Maria decidiu levar alguns dos bonecos para fotografar durante uma viagem ao Rio. Com a febre do Instagram, veio a ideia de compartilhar as imagens na rede, em 2011, e a brincadeira virou um projeto grande, que já ganhou exposição em Belo Horizonte, chegou ao conhecimento da fabricante do Playmobil na Europa e agora é exibido, até junho, no Museu Histórico de Speyer, na Alemanha, em mostra comemorativa aos 40 anos de criação do brinquedo. “Ele é um boneco universal. Acho que por isso tanta gente se identificou com o projeto”, avalia. 
 
De certo modo, o tom lúdico é o que ainda guia o iloveplaymo. “O projeto acaba sendo meu lazer de fim de semana. A produção sempre acontece nas minhas horas vagas. Quando viajo de férias, por exemplo, sempre levo uma mala de Playmobil para fotografar”, conta Maria, que se tornou colecionadora já adulta. Apesar de ter brincado com os bonecos do irmão mais velho na infância, foi quando a Estrela deixou de fabricar o brinquedo no Brasil, no início dos anos 2000 (posteriormente, ele passaria a ser importado no país pela Sunny Brinquedos), que a paixão disparou. “Nesse momento percebi que seria ruim ficar sem um brinquedo que tinha sido tão importante pra mim. Vi o Playmobil sumindo das prateleiras e comecei a comprar no intuito de não perder”, diz.
 
Foi também já crescido que o empresário carioca César Ojeda, 48, viu seus laços com o boneco sorridente se aprofundarem. Ele é da primeira geração que cresceu com o Playmobil, aquela que viu o brinquedo chegar ao país, no fim dos anos 1970, logo após seu lançamento na Alemanha. Mas as caixas com os cenários de Velho Oeste, de mocinho e bandido, estavam há décadas guardadas na casa dos país de César até que elas foram “resgatadas”, em 2007, para compor um ensaio fotográfico que sua esposa, Cláudia, precisava fazer para concluir um curso de fotografia. “Voltei 20, 30 anos na memória. Ele é uma lembrança dos melhores momentos da minha vida. É uma relação histórica e afetiva. Aí não teve jeito. Senti aquele cheirinho de plástico outra vez e a coisa acendeu”, relembra.
 
A repercussão do trabalho, que foi compartilhado na internet, colocou o empresário em contato com demais fãs e colecionadores do brinquedo e ele decidiu criar um ponto de encontro virtual para reunir os admiradores de Playmobil. Nascia então o fórum PlayBrasilMobil, que soma hoje cinco anos de atividades e quase mil colecionadores de todo o Brasil, entre 20 e 50 anos, aproximadamente. É um espaço para garimpar e trocar novidades, e também para transmitir entre gerações o interesse pelo brinquedo. “A gente faz muitas atividades que envolvem as famílias e a criançada acaba tomando gosto pelo Playmobil. Essa memória afetiva acaba sendo passada de pai pra filho”, afirma César. Para comemorar os 40 anos do brinquedo, ele planeja duas exposições, uma no Rio e outra em São Paulo, ambas previstas para acontecerem no segundo semestre. 
 
Auto-denominando-se mais um fã que um colecionador, César diz não saber dimensionar a quantidade de itens Playmobil que possui. A predileção é por itens de cenário, como castelos, casas e vegetações, o suficiente para tirar proveito daquilo que a criação alemã tem de melhor, na visão do empresário. “Não é como um jogo eletrônico em que você acaba sendo frustrado por uma fase que não é superada. Ele é um brinquedo lúdico, você faz o timing da brincadeira. Você cria a sua narrativa e vai pra onde você quer e não pra onde foi programado pra ir”, teoriza.
 
Playmobil é pop e arte
 
Elvis Presley divide o quadro com um mago. Um astronauta sai de dentro de uma esfinge. Gladiadores e guerreiros medievais dançam juntos em um mesmo baile. Todos em versão Playmobil, estes personagens protagonizam as cenas do novo clipe da banda paulistana Cérebro Eletrônico, “Egyptian Birinights”. As cenas do clipe, sem limites para combinar universos diferentes, e a escolha do brinquedo para compor o vídeo são um dos muitos exemplos de como o Playmobil, que neste ano completa 40 anos de criação, ultrapassou a barreira da brincadeira de criança para cair nas graças da cultura pop e servir de inspiração para criações no cinema, artes gráficas, moda e música (veja quadro abaixo). 
 
“A música é muito dinâmica e tem a ver com esse universo onírico e lúdico do Playmobil. O roteiro e as ideias foram surgindo na hora. A gente foi brincando e, quando viu, já tinha muitas cenas”, explica o vocalista da banda, Tatá Aeroplano, destacando uma das principais características do brinquedo. Ele produziu e dirigiu o clipe em parceria com Fernando Maranho, companheiro de banda. Todo o material usado no clipe é da coleção de Tatá.
 
Por muito tempo, o Playmobil ficou relegado às suas memórias da infância, até que uma viagem à Espanha, em 2006, período em que o brinquedo não foi comercializado no Brasil (a venda foi interrompida no início da década e retomada em 2008), o colocou em contato novamente com os bonequinhos por meio de uma loja especializada que ele visitou em Barcelona. De lá pra cá, Tatá se transformou em um “acumulador de Playmobil”. A coleção, com caixas ainda fechadas, ocupa espaço em sua casa, em São Paulo, e na casa dos pais, em Bragança Paulista, onde foram gravadas algumas cenas do clipe e onde as primeiras brincadeiras com o Playmobil aconteceram. “Quando eu era pequeno, criava histórias com Playmobil que duravam dias, até meses. Foi um brinquedo que aguçou muito minha criatividade”, relembra.
 
Quem também teve sua criatividade aguçada em função do Playmobil, mas por vias diferentes, foi o estilista Jum Nakao. “Na minha infância, não tive bonecos Playmobil. Apesar de objeto do meu desejo, eram muito caros. Improvisava os bonecos com o que eu tinha em mãos, caixas de fósforo, tampinhas, palitos. Através destes bonecos construí reinos, venci batalhas, viajei pelo mundo, salvei pessoas”, revela. 
 
Já adulto, o estilista criou seus próprios bonecos em tamanho real. Em 2004, ele apresentou na São Paulo Fashion Week a coleção “Costura do Invisível”. Modelos usando perucas idênticas ao cabelo do famoso boneco desfilaram peças confeccionadas em papel vegetal, minuciosamente produzidas em mais de 700 horas de trabalho e rasgadas ao final da apresentação. O trabalho, um ensaio sobre efemeridade e fragilidade, rodou museus do mundo por meio de fotos e vídeos e foi considerado um dos desfiles do século pelo Museu da Moda de Paris. “A principal característica do Playmobil que permeou a coleção foi a sutil fronteira entre fantasia e realidade. O brinquedo rompeu barreiras entre espectador e obra. O que se via não era mais uma passarela de um desfile de moda e, sim, um imenso playground com bonecos Playmobil”. 
 
Copa embala lançamentos 
 
A Copa do Mundo no Brasil vai dar o tom dos lançamentos da Playmobil no país nestes 40 anos de criação do brinquedo. Uma linha inspirada no futebol, com nove bonecos trajando uniformes de algumas das seleções que disputarão o Mundial, como Brasil, Alemanha, Espanha e Portugal, além de traves e outros acessórios ligados ao esporte, estão entre as novidades que devem chegar às lojas ainda neste primeiro semestre.
 
Outros lançamentos previstos no mesmo período são a linha Arca de Noé, que depois de uma versão para crianças de 1 a 3 anos ganhará o tamanho do Playmobil clássico, e a linha Alpinismo, com acessórios de escalada, montanha e animais típicos de relevos mais altos para compor o cenário. “Também teremos eventos em vários lugares do Brasil e promoções relacionadas aos 40 anos”, antecipa Priscila Aguiar, gerente de marketing da Sunny Brinquedos, importadora do Playmobil no Brasil.
 
O foco é o público infantil, apesar de, segundo ela, o brinquedo atrair gente dos “4 aos 100”. “Em 2008, quando o Playmobil voltou a ser comercializado no Brasil, a gente fez um trabalho de saudosismo voltado pros pais mostrarem aos filhos o brinquedo que tinha feito parte da infância deles, mas hoje já é a criança quem pede Playmobil para os pais”. 
 
Playmoarte
 
Música: A banda paulistana Cérebro Eletrônico usou bonecos e acessórios da coleção de Playmobil do vocalista, Tatá Aeroplano, para todas as cenas de seu novo clipe, “Egyptian Birinights”. Clipes com protagonistas de carne e osso também já ganharam sua versão com o bonequinho sorridente, caso de “Girls Just Want to Have Fun”, da cantora Cyndi Lauper, e “Transmission”, da banda britânica Joy Division
 
Fotografia: O fotógrafo francês Richard Unglik repercutiu em blogs e redes sociais no ano passado com uma série de imagens que retratam personagens e cenas icônicas da cultura ocidental por meio de bonecos Playmobil. A Monalisa (foto), a Rainha Elizabeth, James Bond, o presidente norte-americano Barack Obama e os Beatles, na famosa travessia de Abbey Road, foram algumas das personalidades escolhidas
 
Cinema: Um dos maiores sucessos de venda da Playmobil, a linha pirata foi transformada em animação interativa em 2009, no longa “O Segredo da Ilha Pirata”. Há ainda uma série de curtas-metragens produzidas por admiradores do brinquedo: o western “Bloody Snow” (“Neve Sangrenta”) e as comédias “The Viking Five” (“O Quinteto Viking”) e “Santa’s New Ride” (“O Novo Passeio do Papai Noel”), todos disponíveis no YouTube