Sem Reajuste

ALMG engaveta proposta de aumento de salário para secretários estaduais

Medida foi tomado pela Mesa Diretora da Casa que não deu prosseguimento ao requerimento que tratava do tema

Por Fransciny Alves e Mateus Castanha
Publicado em 15 de maio de 2019 | 17:46
 
 

A Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) negou na tarde desta quarta-feira (19), sob a justificativa de inconstitucionalidade, dar prosseguimento ao requerimento apresentado pela Comissão de Administração Pública que poderia fazer com que, na prática, o Legislativo reajustasse os salários dos secretários do governo estadual. 

Como O TEMPO mostrou, um requerimento aprovado nesta terça-feira (14) na Comissão de Administração Pública da Casa causou estranheza e interpretações dúbias ao solicitar que a Mesa propusesse a fixação dos subsídios dos secretários, "tendo em vista a alta complexidade das atribuições do cargo exercido". O documento aponta dispositivos do regimento que mostram que essa é uma responsabilidade do Legislativo. 

Contudo, internamente, a maioria dos deputados entendeu que a iniciativa deveria vir do governador Romeu Zema, e não da Casa. Isso porque, o requerimento levantaria uma oportunidade de conceder reajuste salarial aos secretários - a remuneração bruta é de R$ 9.500. E, ao iniciar esse debate, os políticos poderiam ficar com o ônus da proposta por conta de uma possível repercussão negativa do eleitorado. 

A discussão ocorre após a ALMG aprovar o fim dos jetons, que é uma espécie de plus salarial aos chefes de pastas por participarem de conselhos de estatais. O ponto ainda precisa ser sancionado governador para entrar em vigor. A prática era condenada por Zema durante a campanha eleitoral, mas atualmente ele já tem concedido o benefício para membros do primeiro escalão para engordar os vencimentos deles. 

O argumento da Mesa ao negar dar prosseguimento ao requerimento é o de que o Estado já ultrapassou o limite estabelecido pela Lei de Responsabilidade (LRF) com gasto de pessoal e, por isso, é inconstitucional tratar de qualquer tipo de reajuste para os servidores. Até dezembro, o percentual do Estado empenhado com a folha de pessoal era de 66,65% da Receita Corrente Líquida (RCL), sendo que o limite máximo estabelecido pela legislação é de 49%.

“A Mesa da Assembleia chamou o corpo técnico e vimos que não há condições de analisar nenhum tipo de acréscimo ou aumento. O governo hoje gasta além do que é permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal com a folha de pagamento, chegando a quase 65%”,  explicou o vice-presidente da ALMG, Alencar da Silveira Jr. (PDT). 

Ainda segundo ele, se a Assembleia for provocada sobre o tema e um reajuste chegar a ser aprovado, qualquer cidadão mineiro pode entrar judicialmente e mostrar a inconstitucionalidade de qualquer tipo de aumento dado hoje em Minas Gerais: “Então, não é permitido por lei. E aqui é uma Casa de Leis que têm que ser seguidas”.  

O autor
A autoria do requerimento é do deputado Sargento Rodrigues (PTB). Segundo ele, o documento foi proposto porque um secretário de Estado, por conta de responsabilidade e a complexidade do cargo e das suas atribuições, deve ter um salário maior. Ele também refutou a hipótese levantada por alguns colegas de parlamento de que estaria atendendo a um pedido do Estado: “Eu não tenho parentes no governo, não tenho ligação com nenhum secretário de governo e não quero ter, não sou da base de governo. O que nós não podemos é persistir na hipocrisia”.

Ele diz não concordar com a atitude da Mesa Diretora de arquivar o documento e salienta que o que prevaleceu foi o viés político de que o Zema deveria pedir essa correção salarial. Ele pontua ainda que a negativa do requerimento em nenhum momento cita dispositivos do regimento interno, e na avaliação dele não tem fundamentação regimental. O deputado explicou não vai recorrer da decisão porque o veredito ficaria novamente com a Mesa. 

“Nós temos servidores de todos os poderes que ganham muito mais que os secretários. Não pode fazer o que o governo (Fernando) Pimentel fazia onde secretário recebia até R$ 74 mil por mês com jeton. Isso não é parâmetro, é abuso, é privilégio. Agora, um secretário de Estado ganhar o que ganha um deputado estadual (R$ 25,3 mi) é absolutamente razoável do ponto de vista da remuneração de secretário”, afirmou. 

Coadjuvantes
O requerimento também é assinado por outros membros da Comissão de Administração Pública: Beatriz Cerqueira (PT), João Magalhães (MDB), Raul Belém (PSC), Roberto Andrade (PSB) e Osvaldo Lopes (PSD). E alguns dos deputados que subscrevem o pedido se apressaram em dizer que o objetivo do requerimento não é sugerir qualquer reajuste, mas, sim, discutir o assunto - considerado nebuloso por muitos - de forma ampla na Assembleia.

“Eu apoiei o requerimento porque defendo um processo de transparência. A sociedade tem que saber qual é o real salário de um secretário de Estado, e não a criação de subterfúgios para que o secretário tenha acréscimo de salário que não passa por um processo público e transparente. É função da ALMG fazer esse debate", explicou Beatriz Cerqueira. A petista fez questão de enfatizar que é contra o reajuste. 

Já o deputado João Magalhães (MDB), presidente da Comissão de Administração Pública, disse que a ideia é ampliar o debate sobre a questão na Casa e se mostrou favorável a um possível ganho salarial dos comandantes das pastas. "O salário está congelado desde 2003, está defasado há muito tempo. Como proibimos os penduricalhos (jetons), é justo colocar o salário dos secretários num outro patamar. Mas o requerimento tem como objetivo abrir a discussão na Assembleia", comentou.