Disputa em MG

Kalil desacelera campanha diante do desafio de conquistar o interior

Antes da formalização da aliança com o ex-presidente Lula, ex-prefeito de BH fez nove municípios em cinco dias no intervalo de duas semanas

Por Leíse Costa
Publicado em 18 de julho de 2022 | 06:00
 
 
O candidato a governador, Alexandre Kalil (PSD) Foto: Videopress Produtora

A pré-campanha de Alexandre Kalil (PSD) ao governo de Minas entrou em marcha lenta nas últimas semanas. Desde a oficialização da aliança entre o ex-prefeito de Belo Horizonte e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Uberlândia, dia 15 de junho, que contou com a chapa completa no palanque, Kalil fez dez viagens ao interior e cumpriu duas agendas em BH e região metropolitana.  

A ausência nos municípios do Estado contrasta com o principal desafio de Kalil na disputa pelo Palácio Tiradentes: tornar-se conhecido do eleitorado do interior.

A desaceleração fica clara quando comparada com o ritmo que Kalil mantinha antes do evento no Triângulo Mineiro, que ainda contou com a presença do pré-candidato a vice-governador André Quintão (PT) e o pré-candidato ao Senado Alexandre Silveira (PSD). Antes da formalização, Kalil visitou Teófilo Otoni, Araçuaí, Itamarandiba, Capelinha, São João del-Rei, Leopoldina, Ubá, Cataguases e Governador Valadares. No total, fez nove municípios em cinco dias no intervalo de duas semanas.

Após Uberlândia, em quatro semanas, Kalil foi a Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Varginha, Alfenas, Santa Rita do Sapucaí, Piranguinho, Itajubá, Divinópolis, Salinas e Muriaé. Nesse intervalo, o ex-prefeito também cumpriu agenda na capital e em Ribeirão das Neves, na região metropolitana. O encontro que o político tinha em Caratinga, na primeira semana deste mês, foi desmarcado devido à suspeita de Kalil ter contraído Covid-19.

Os buracos na agenda desafiam o quadro que Kalil precisa reverter em Minas. Pesquisa DATATEMPO indicou que o atual governador Romeu Zema (Novo) vence em todas as regiões do Estado, com exceção da região metropolitana de BH. No Sul e Sudoeste de Minas, a preferência por Zema chega a 60,78%, contra 4,7% de Kalil. No Noroeste, Zema também tem grande vantagem, com 60,5% das intenções de voto, contra 7,8% de Kalil.

A assessoria de Kalil nega que o ritmo tenha caído. “As agendas de viagens são sempre realizadas de sexta a domingo, com raras exceções. Nos últimos meses, houve intensificação das viagens, especialmente após o fechamento de alianças com diversos partidos”, disse, por meio de nota. 

Quintão, vice de Kalil, também discordou. “A agenda inclui atividades intensas durante a semana em BH e, no interior, nos finais de semana, em função dos compromissos dos parlamentares na ALMG e em Brasília”, afirmou.

Como cabeça de chapa, Kalil dita o ritmo da pré-campanha, e, nos bastidores, fontes presentes nas viagens afirmam que o ex-prefeito tem um tempo próprio, diferente de campanhas aceleradas. A fama de “sem paciência” para a agenda política se mantém. “Não topa nada improvisado, tudo tem que ser combinado e aprovado antes. Se chamar já na cidade, não vai”, diz um deputado. O coordenador geral da pré-campanha do pessedista, Agostinho Patrus (PSD), é o responsável por receber os pedidos de viagens dos aliados nas respectivas regiões dos deputados e organizar o calendário. 

Fontes também apontam que pesquisas internas da pré-campanha atestam que Kalil vai intensificar a agenda no interior a partir de 26 de agosto, quando começa a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. “Com dez dias de TV colados na campanha do Lula, o quadro vai ser revertido”, dizem. Nesse período, Kalil vai priorizar cidades-polo, como Pouso Alegre, Poços de Caldas, Montes Claros, Lavras e municípios com mais de 50 mil habitantes. 

Repensar passos

Para o cientista político Carlos Magno Machado, uma pausa na campanha para repensar passos, recompor discursos ou reforçar alianças nem sempre é prejudicial, desde que haja uma estratégia. “Ser conhecido é fácil. O difícil é ser reconhecido. Talvez a tarefa mais difícil para Kalil seja ele conseguir incorporar as múltiplas “agendas” do interior. A vida dele sempre esteve associada a BH, logo compreender as pautas das diversas regiões do Estado é um enorme desafio. Ele só será reconhecido se conseguir isso”, afirma. 

Já a aposta alta na TV pode ser arriscada. “Está muito fácil o eleitor deixar de ver a propaganda na televisão. Uma mostra do limite do impacto para o Kalil pode ser observada nos resultados da propaganda partidária na TV. Ele continuou praticamente no mesmo lugar. As redes sociais estão aumentando cada vez mais seu espaço. Não existe meio de Kalil ampliar seu universo eleitoral sem uma forte campanha nas redes”, diz.

A ausência de Kalil nas redes sociais também é percebida. Em quase um mês, o Instagram do político teve apenas dez publicações. No Twitter, três. A inércia nas redes é explicada pela saída dos marqueteiros Chico Mendez e Alexandre Oltramari do comando da campanha.

A situação já começou a mudar desde a chegada do marqueteiro Juliano Corbellini e da ex-deputada gaúcha Manuela D’Ávila, responsável pela área digital. “Iremos coordenar o trabalho de redes do Kalil. No momento, estamos organizando o trabalho”, resumiu Marina Schaidhauer, sócia de Manuela.