No dia da votação

Vereador pede propina para salvar prefeito de cassação e acaba preso

O caso ocorreu em São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas

Por Lucas Henrique Gomes
Publicado em 23 de julho de 2019 | 13:50
 
 

O vereador de São Sebastião do Paraíso (Sul), Ademir Alves Ross (PSD), conhecido como Tomateiro, foi preso em flagrante, na última segunda-feira, por corrupção passiva. O parlamentar, que é vice-presidente da Câmara, havia pedido R$ 50 mil ao prefeito Walker Américo Oliveira (PTB) para votar a favor dele no pedido de cassação que seria apreciado pelo Legislativo.

Segundo apurou o Aparte, Tomateiro vinha, há pelo menos 20 dias, tentando extorquir o chefe do Executivo municipal. Em um dos encontros, Walkinho, como é conhecido o prefeito, gravou a conversa que teve com o parlamentar. 

O vereador, que faz parte dos sete membros da oposição na Câmara – que conta com dez parlamentares, pediu a quantia de R$ 50 mil para se abster ou votar contra a cassação de Walkinho. Para que o prefeito fosse cassado, eram necessários sete dos dez votos possíveis. O prefeito não teria aceitado as propostas, mas não levou as gravações às autoridades competentes. 

Na última semana, após boatos de que o prefeito estaria tentando comprar os votos dos parlamentares, o Ministério Público o questionou sobre as acusações, momento em que o chefe do Executivo entregou as gravações e afirmou ser a vítima na história. 

“O prefeito entregou os áudios e não tinha pagado a quantia solicitada. Anteontem, o vereador o procurou de novo e perguntou se ele não aceitaria, pois era o último dia, a última oportunidade. Aí, o prefeito acionou a Polícia Civil e o Ministério Público, que o orientaram a encontrar com o vereador, colocar uma quantia menor que o pedido em um envelope e entregar. Foi pedido que ele fotografasse algumas cédulas antes”, disse uma fonte ligada à operação.

Após a entrega do dinheiro, a Polícia Civil montou uma tocaia para abordar o veículo dirigido por Tomateiro. “Eles (policiais) viram que o envelope estava no banco do passageiro. O vereador teria dito que a quantia era para pagar os servidores dele, mas não sabia quanto de dinheiro tinha no envelope”, disse a fonte à coluna.

Como os policiais já tinham fotos das cédulas entregues, Ademir Ross foi preso em flagrante. De acordo com a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), o vereador está preso preventivamente no presídio da cidade. 

Já a Polícia Civil, por meio da assessoria de imprensa, disse que só poderia confirmar a prisão em flagrante por corrupção passiva e que foi consequência de uma investigação conjunta com o Ministério Público de Minas Gerais. 

Procurada, a assessoria de comunicação da Prefeitura de São Sebastião do Paraíso disse que o prefeito não estava na cidade e não falaria com a imprensa. Por meio de nota, Walker Oliveira repudiou “qualquer ato de corrupção cometido”. 

O prefeito era investigado na Casa pela suposta prática de infração político-administrativa por pagamento irregular de honorários advocatícios ao advogado do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de São Sebastião do Paraíso (Inpar). 

Após a prisão do vereador, a Justiça suspendeu os trabalhos da Comissão Processante. Segundo a assessoria de imprensa da Câmara paraisense, o presidente Lisandro Monteiro (SD) vai recorrer da decisão para que o plenário possa decidir sobre a cassação do prefeito. 

Por meio de nota, a assessoria da Casa disse que o vereador, ao ser abordado, tinha R$ 5.000 no envelope que levava no carro. “A Câmara Municipal de São Sebastião de Paraíso ressalta que o caso será investigado pela Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, apurando rigorosamente os fatos e conferindo ao vereador Ademir Alves Ross os direitos do contraditório e de ampla defesa”, frisou.

O advogado de Ross é o também vereador Sérgio Gomes (PSD). Em contato com a coluna, o defensor disse que viu com surpresa a prisão do colega, mas que agora aguarda as apurações e a garantia do direito à ampla defesa por parte do colega e cliente. Antes da audiência de custódia, Gomes caracterizou como “bastante difícil” a liberdade de Ross, uma vez que a prisão foi feita em flagrante e depois de uma investigação por mais de uma autoridade. No início da noite, a Justiça negou o pedido de liberdade. A defesa pretende entrar com um habeas corpus nesta quarta-feira.