Aliado?

Ativistas negam apoiar Cunha 

O TEMPO ouviu militantes que, antes da confirmação de contas na Suíça, posaram ao lado do parlamentar

Dom, 01/11/15 - 03h00

A foto acima, feita em maio deste ano, é uma das que mais circulam na internet quando o assunto é o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Antes da confirmação, pelo Ministério Público da Suíça, de que o parlamentar possui contas secretas milionárias no país europeu, a imagem circulava entre os apoiadores do impeachment da presidente Dilma Rousseff com orgulho, como forma de atestar que o presidente da Câmara os havia recebido pessoalmente ao final da Marcha da Liberdade, uma caminhada de 32 dias, de São Paulo a Brasília, para entregar um dos vários pedidos de impeachment recebidos na Casa.

Desde o mês passado, contudo, as denúncias contra Cunha levaram a fotografia a ser replicada na rede pelo “outro lado”: os grupos pró-governo. A imagem, agora, é usada para desmoralizar os ativistas presentes na ocasião. Aparecer ao lado de Cunha se tornou embaraçoso.

Um dos que estão na foto é Marcello Reis, a principal voz por trás da página Revoltados Online. “Na realidade, nunca apoiamos o Cunha, só entregamos o pedido de impeachment”, afirma. Mas, em 21 de agosto, por exemplo, um post na página do grupo no Facebook mostrava o contrário: “#ForçaCunha. Atenção oposição, temos que dar apoio incondicional ao Eduardo Cunha. Cunha fora interessa ao PT”. (sic)

Ao ser questionado sobre se defende ou não a permanência de Cunha na presidência da Câmara, Reis se esquiva. “O que nós defendemos é o impeachment. Se ele está com problemas de corrupção, cabe à Justiça julgar. Mas não queremos que se passem os vagões na frente da locomotiva. Primeiro vamos julgar a (presidente) Dilma (Rousseff), o (presidente do Senado) Renan (Calheiros) e o (ex-presidente) Lula”, defende Reis.

Rostos conhecidos. Ao lado de Cunha na foto, o coordenador nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, aparece sorrindo e fazendo um gesto que simboliza o “I” de “impeachment” – no caso, de Dilma, não de Cunha. “Ainda que seja absolutamente indesejável, é impossível levar à frente não só o impeachment, mas qualquer política pública sem que uma pessoa corrupta participe da pauta que você esteja defendendo”, conforma-se.

Apesar de reconhecer que precisa de Cunha para que o pedido contra Dilma avance, no último dia 23, o MBL afirmou que irá aderir ao “Fora, Cunha” nos próximos protestos. Kataguiri, no entanto, já havia afirmado acreditar se tratar de uma pressão inócua. 

Em queda
Facebook
. O número de novos “likes” na página Somos Todos Cunha tem caído mais de 50% nas últimas semanas. Algo semelhante vem acontecendo com a comunidade Cunha Me Representa.

Carreira
Conheça a trajetória de Eduardo Cunha:


1982: Trabalha na campanha de Eliseu Resende ao governo de Minas Gerais pelo PDS

1989: É apresentado por PC Farias a Fernando Collor e trabalha na campanha do candidato à Presidência

1991 a 1993: Foi presidente da Telerj. Saiu do cargo após suspeitas de superfaturamento de R$ 92 milhões.

1999: Subsecretário de Habitação do governo de Anthony Garotinho (RJ). Em sua gestão, o TCE encontrou irregularidade na construção de 10 mil casas populares.

2001: Assume como suplente uma cadeira na Câmara do Rio pelo PPB

2003: É eleito deputado federal e reeleito em 2006, 2010 e 2014, pelo PMDB

2015: É eleito presidente da Câmara dos Deputados

Oposição repudia publicamente, mas mantém apoio

Se os ativistas prontamente negaram qualquer proximidade com Eduardo Cunha após a comprovação das contas secretas do parlamentar na Suíça, entre os pares do presidente da Câmara, a situação é um pouco mais complexa. Os partidos de oposição, que já tinham combinado um rito com o peemedebista para o processo de impeachment, chegaram a divulgar uma nota conjunta pedindo a saída do parlamentar da direção da Casa. Assinaram a nota os líderes de PSDB, Solidariedade, PSB, DEM, PPS e da minoria.

Porém, o que se comenta nos bastidores da Câmara é que o apoio a Cunha continua, inclusive com pedido de celeridade no julgamento dos processos de impeachment contra a presidente.

A única ação efetiva que foi tomada contra Eduardo Cunha foi uma representação no Conselho de Ética da Câmara, protocolada pelo PSOL e pela Rede e assinada também por deputados de PT, PSB, PROS, PPS e PMDB – num total de 48 dos 513 parlamentares da Casa. O pedido de afastamento acusa Cunha de quebra de decoro parlamentar por ter mentido em declaração à CPI da Petrobras, em março, quando declarou que não tinha contas fora do país.

O processo pode culminar na cassação de Cunha. Como presidente da Casa, ele é responsável por repassar os pedidos de cassação ao Conselho de Ética. Cunha protelou a entrega do documento ao colegiado por 14 dias. 

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