Manifestações

Atos pró-ditadura geram constrangimento à oposição

Depois de protestos por intervenção militar, partidos garantem não apoiar grupos radicais

Ter, 04/11/14 - 03h00
Sábado. Durante ato em São Paulo, militantes pediram a volta da ditadura; o mesmo ocorreu em BH | Foto: NELSON ANTOINE

A mobilização no último fim de semana, quando centenas de pessoas protestaram em Belo Horizonte e São Paulo contra a presidente Dilma Rousseff, o PT e a corrupção e, entre outras bandeiras, pediram a volta dos militares causou certo constrangimento à oposição. Caciques do PSDB, DEM e Solidariedade minimizaram a presença de radicais da direita nos atos e trataram rapidamente nesta segunda de se descolar desse grupo.
 

De um lado, os líderes oposicionistas ressaltam o “sentimento de insatisfação da sociedade” presente nos atos. De outro, se dizem totalmente contra a volta da ditadura defendida por parte dos seus eleitores.

Para o senador Aloysio Nunes (PSDB), essas manifestações são um sinal da desaprovação do governo. “Desde que essas manifestações sejam pacíficas e obedeçam a legislação, não vejo problemas. Não há risco de haver a volta das Forças Armadas”, disse o tucano lembrando que ele foi uma das vítimas da ditadura. “Eu mesmo sofri muito com a perseguição”.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirma que o retorno de um regime militar é inaceitável. “As pessoas têm o direito de se manifestar. Mas é evidente que nós, que lutamos tanto pela democracia, não podemos aceitar este tipo de coisa”, enfatiza.

Aliado dos tucanos, Agripino Maia, presidente do DEM, também rechaça qualquer tipo de apoio a essa parcela da população. “Não temos nada que ver com isso”, ressalta o senador .

O ministro do Trabalho, Manoel Dias (PDT), disse considerar as manifestações importantes para a democracia, contanto que tenham limites. “Não pode ultrapassar o verbal”. Para ele, passada a eleição, é preciso retomar o diálogo entre governo e oposição e lembrar que Dilma “é presidente de uma nação inteira”.

Para o analista político Carlos Manhanelli, do ponto de vista da democracia, os atos são legítimos. Mas para ele, os episódios deixam claro que o Brasil perdeu o caráter ideológico dos partidos. “Assim, essas frações da sociedade acabam se impondo dessa forma”, afirma.

Com silêncio, Aécio não se indispõe com seu eleitorado

Apesar de vários líderes do PSDB se posicionarem contra os pedidos de “volta da ditadura” contidos nas manifestações do último fim de semana, o senador mineiro Aécio Neves não se pronunciou sobre o assunto.

Na avaliação do analista político Carlos Manhanelli, a decisão foi acertada, para não se indispor com uma fatia do seu eleitorado. “Neste movimento, tinham várias frações de eleitores, não só os que queriam a ditadura. Não é hora de o partido se posicionar ideologicamente, mas contemplar todos que se apresentam dentro da sua ideologia. Se Aécio se posicionar, algumas dessas frações vão ficar descontentes”, avalia.

Para o cientista político Guilherme Casarões, o PSDB fica em uma situação complicada. “O PT vai usar desses fatos para atacar os tucanos. Aécio, agora, tem o desafio de buscar uma identidade própria: como centro-esquerda ou mais a direita”, afirma.

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