Congresso em pauta

Autonomia do BC pode dar previsibilidade para política monetária no país

Presidente da Câmara, Arthur Lira disse que proposta será votada hoje pelos deputados. Proposta define mandato para diretoria e prestação de contas ao Senado

Ter, 09/02/21 - 06h00
Bancadas da 'bala, da bíblia e do boi' tentam reeleição | Foto: Roque de Sá/Agência Senado - 8.2.2017

Uma semana após tomar posse, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pode colocar para votação na noite de hoje uma das 35 propostas apresentadas pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso. Segundo Lira, o projeto que prevê a autonomia para o Banco Central será pautado como forma de sinalizar o “destravamento da pauta” e uma indicação de maior “previsibilidade para o futuro da economia”. Economistas defendem o projeto e citam que em quase todos os países do mundo a relação entre bancos e o governo está mais avançada do que no Brasil. 

O texto, que chega hoje na Câmara, estabelece mandatos fixos de quatro anos para os diretores, regras para nomeação e demissão e transformação do órgão em autarquia de natureza especial, não subordinada a nenhum ministério. Ele foi aprovado em novembro do ano passado no Senado, com 56 votos favoráveis. 

De acordo com a proposta, o presidente do BC continuará sendo indicado pelo presidente da República e sabatinado no Senado, mas terá mandato e só poderá ser demitido se for condenado por improbidade ou tiver desempenho insuficiente. Hoje, o BC é vinculado ao Ministério da Economia, e os diretores podem ser demitidos pelo chefe do Executivo. 

O projeto visa conferir autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira ao BC para que ele execute suas atividades sem sofrer pressões político-partidárias.</CW>
Pelo texto, o objetivo central do BC é assegurar a estabilidade de preços, por meio do controle da inflação. O Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelecerá metas para a política monetária, cabendo ao BC cumpri-las. Secundariamente, o BC terá como objetivos fomentar o pleno emprego, zelar pela estabilidade do sistema financeiro (bancos e bolsa) e suavizar as flutuações da economia.

De acordo com o relator da proposta na Câmara, deputado Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE), o parecer elaborado recebeu ontem o aval do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Desde o fim de semana, estamos trabalhando. Hoje (ontem), com Guedes e Campos, analisamos artigo por artigo, e o governo concordou integralmente com nosso texto”, disse Sílvio Costa. 

Segundo o deputado, a proposta já conta com apoio de mais de 280 deputados, uma vez que sua aprovação pode sinalizar a investidores internacionais o avanço de uma pauta que representava o atraso do país. A expectativa é que a aprovação leve a uma mudança na nota de crédito do país e que o mercado veja maior segurança nas políticas monetárias brasileiras. 

“O Brasil é um dos poucos países do mundo, sobretudo das economias desenvolvidas, que não têm uma autonomia de seu Banco Central. O BC não é uma questão de governo, mas de Estado”, explicou Costa.

‘Temos que saber escolher e fiscalizar’, alerta economista

A autonomia do Banco Central é apontada como “vital” e “necessária” pelo professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Istvan Kasznar. No entanto, o especialista alerta que a instituição deverá manter a escolha de quadros técnicos e qualificados para sua gestão, além de manter o controle e a fiscalização do órgão, por meio de auditorias, o que será fundamental para evitar que ocorram interferências políticas em suas decisões.

“Política monetária tem que ser exercida por autoridade monetária independente dos Poderes, para que realmente emita a quantidade de moedas necessárias para o crescimento econômico, para a sustentação econômica e para evitar sempre a taxa de inflação. A inflação é a grande ameaça, e o BC é a autoridade que zela pelo poder aquisitivo da moeda nacional”, explica Kasznar. 

Segundo ele, nos últimos anos o BC tem sido um órgão extremamente técnico, o que deve ser mantido com o aumento de sua autonomia. “Evidente que temos que saber escolher bem os membros do banco e não podemos deixar de ter mecanismos de controle, auditoria e acompanhamento contínuo das atitudes das autoridades do BC”, alerta Kasznar.

Para o economista Guilherme Tinoco, especialista em finanças públicas, a mudança é positiva, mas não deve ter impacto relevante no mercado. 

“A independência é uma medida que ajuda no controle da inflação em médio e longo prazo. O Banco ficará menos sujeito às influências políticas. Então, vai na direção correta. Mas, hoje, o Banco Central no Brasil já tem uma relativa autonomia operacional. Então, essa mudança não é tão urgente”, avalia Tinoco.

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