Beatriz Cerqueira

Beatriz Cerqueira é deputada estadual pelo PT e escreve às terças

Em defesa da ciência, da pesquisa e da tecnologia em Minas Gerais

Publicado em: Ter, 19/03/19 - 03h00

Um exame que precisava ser feito anualmente por pacientes diabéticos, especialmente aqueles com mais de 60 anos, demorava meses, até mesmo para o próprio agendamento. Após o investimento em pesquisa, projeto da rede de teleassistência na UFMG, foi possível que o exame pudesse ser feito e o resultado saísse em até 72 horas.

Outras redes de pesquisa em áreas estratégicas, como estudos sobre o câncer, doenças infecciosas humanas e animais, biodiversidade do solo para aumento da produção agrícola e florestal sustentável, estavam em andamento através da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).

A fundação também é responsável por coordenar o financiamento de propostas de microempresas e empresas de pequeno porte para o desenvolvimento de produtos e processos inovadores com o objetivo de promover o aumento das atividades de inovação e de competitividade das companhias.

Em 2017, eram 3.479 projetos em execução, com 6.768 bolsistas. Com o investimento da fundação, foi possível ter um aporte externo de recursos de mais R$ 21 milhões para os projetos, que passam pela recuperação da bacia do rio Doce, após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, formação de pesquisadores, o apoio à pós-graduação e a projetos de inovação em empresas com base tecnológica instaladas no Estado.

Em 2017, o investimento em pesquisas possibilitou o registro de 473 patentes. Em média, a cada R$ 1 investido em patente, o Estado recebe R$ 30 em impostos.

O investimento na formação de pesquisadores começa no ensino médio, incentivando atividades de pesquisas com os estudantes. Formam-se as próximas gerações de pesquisadores.

A Fapemig é a segunda maior fundação de amparo à pesquisa do país e realiza esse trabalho com 1% da receita corrente do Estado, garantido pela Constituição estadual. No entanto, o repasse correto não é feito desde 2016, e a situação se tornou crítica em 2019, quando, pela primeira vez, as bolsas foram suspensas.

O investimento em ciência, pesquisa e tecnologia traz resultados para a sociedade, desde o acesso a um exame até a melhoria do desenvolvimento da indústria.

Com a crise da mineração em nosso Estado, resultado do seu modo predatório e destrutivo de agir, temos que investir na diversificação da nossa matriz econômica. Isso somente será feito a partir da produção científica. Não enxergamos seus resultados em nossas vidas porque, quando chegam, não ocorrem pelas mãos dos pesquisadores, mas por meio do próprio Estado e das empresas. Sem pesquisa, não nos desenvolveremos como sociedade. Nosso Estado não sairá da crise com ajustes fiscais, mas reelaborando seu desenvolvimento econômico e regional.

A situação é também um atentado contra a educação. A bolsa de iniciação científica júnior tem valor de R$ 150. Ela possibilita que o estudante de ensino médio tenha contato com a pesquisa, promove a interação da universidade com a educação básica e abre portas para o futuro do jovem. Mas as portas correm o risco de serem fechadas, caso o governo do Estado não cumpra a Constituição e não invista em ciência, tecnologia e inovação.

A decisão do governo prejudica a população e a indústria mineira. A atual situação, se não for revertida, resultará no atraso ou na paralisação de milhares de pesquisas, comprometendo anos de desenvolvimento científico, social e econômico.

Junto-me às vozes de pesquisadores, estudantes e professores na defesa da ciência e da tecnologia em nosso Estado e em defesa da Fapemig. A produção científica gera desenvolvimento, riqueza e soberania.

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