Precisamos protegê-los desse poder político e econômico

O drama dos moradores de Barão de Cocais com a mineração

Hoje, a população vive uma considerável diminuição da qualidade de vida. O medo e a desesperança tomaram conta da cidade.

Por Da Redação
Publicado em 09 de abril de 2019 | 03:00
 
 

Recentemente, a Vale iniciou uma campanha publicitária sobre suas ações após o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho. O que ela afirma fazer não é o mesmo que a população atingida denuncia que não está sendo feito. Alguém está mentindo. Eu acredito na população em tudo o que ela tem relatado a respeito dos problemas que vive. Ao lidar com a atuação da mineração em nosso Estado, já aprendi que as mineradoras mentem, sonegam informações, desrespeitam as pessoas atingidas.
Como parte dos trabalhos da CPI das Barragens, tenho feito a escuta da população sobre a atuação da mineração. Não faz muitos dias, ouvi moradores de Barão de Cocais em audiência pública. Na cidade, mais de 400 pessoas foram removidas de suas casas. Em março deste ano, ocorreu a elevação do nível de risco das barragens lá existentes. Os moradores perguntaram quais fatos relevantes aconteceram para essa mudança. Não tiveram respostas. Um rompimento de barragem teria, na zona de risco, 9.000 pessoas atingidas. Isso mesmo! A mineradora construiu uma barragem que afeta imediatamente milhares de pessoas, além de produzir outros danos.
Hoje, a população vive uma considerável diminuição da qualidade de vida. O medo e a desesperança tomaram conta da cidade. A realidade é de aumento na demanda da rede pública de saúde. 
O recente treinamento feito na cidade serviu para os órgãos de segurança prestarem contas, mas, para o povo, aumentou o estresse. 
Um morador me relatou que às três da manhã do dia 8 de fevereiro, a sirene tocou. As pessoas ficaram na rua, de madrugada, sem nenhuma informação. Nas palavras dele: “Foi um caos”. Ninguém da Vale apareceu para explicar o que estava acontecendo. Quando a segunda sirene tocou, não tinha nem carro da Vale, nem ninguém do Estado na rua, para informar nada. 
São 160 famílias distribuídas em hotéis e casas de parentes. A vida dessas pessoas parou! Tiveram suas rotinas modificadas. Quem antes morava em casa com quintal, perto de familiares e amigos, hoje vive recluso em hotéis, vítima de evacuações sem explicações, sem prazo, sob uma constante negação de informações.

Lideranças comunitárias, como padres e vereadores da cidade, são impedidos de participar de reuniões com a Vale. Ela determina com quem vai conversar, como forma de controle e chantagem. Os sitiantes são ignorados pela mineradora. Quem mora às margens do rio não é considerado atingido pela barragem. 
O sentimento de ausência e de transparência nas ações e informações é constante na população: amigos e familiares chegam a dizer que não irão mais à cidade por medo. Órgãos públicos como o Judiciário e o Ministério Público estão mudando suas sedes. O comércio já sente os efeitos de uma crise econômica gerada pela Vale.
As mineradoras disputam nossos territórios e enxergam a população como um entrave ao avanço dos seus negócios. Então, precisamos nos perguntar até que ponto esse caos, gerado na crise do comércio, com pessoas vendendo suas propriedades por valores abaixo daquele de mercado, não seria útil à mineradora, para que ela tenha liberdade de atuar sem o povo em suas casas e sem se responsabilizar pelas consequências da sua atividade. 
O povo de Barão de Cocais pede socorro! Precisamos protegê-lo contra esse poder político e econômico predatório das mineradoras, que parece não ter sido abalado depois de assassinar mais de 300 pessoas. Continua agindo livremente, enquanto a população fica refém de barragens que não foram construídas por ela. Nem pergunto onde está o governador para defender quem ele representa. A última vez que falou sobre o assuntou foi para defender a assassina Vale.