Eleições 2022

Campanha de Pestana marca volta de Aécio à cena política visando 2026

O deputado tem aumentado a participação na agenda de Pestana planejando voltar ao governo ou ao Senado

Por Letícia Fontes
Publicado em 23 de agosto de 2022 | 19:22
 
 
Aécio Neves e Marcus Pestana Foto: Rafa Aguiar/divulgação

Diferentemente da campanha de 2018 na qual o PSDB tentou se distanciar da imagem desgastada do próprio partido, que tinha quadros envolvidos em escândalos sob suspeita de corrupção, em especial o deputado federal Aécio Neves, agora o partido tem intensificado a presença do parlamentar nos atos de campanha do candidato ao governo de Minas, Marcus Pestana. O retorno de Aécio faz parte de uma estratégia dele de se recolocar no cenário político, visando 2026, com uma candidatura ao governo ou mesmo ao Senado, segundo fontes próximas ao deputado.

Só nos últimos dias, ele esteve em Contagem com Pestana no lançamento da campanha da candidata à deputada estadual Glória da Aposentadoria, e na capital no lançamento do comitê central de Pestana.

De acordo com o PSDB, a participação de Aécio, candidato à reeleição, é permanente desde o período das negociações da pré-campanha de Pestana e deve seguir da mesma maneira até o fim da corrida eleitoral. A expectativa é de mais agendas conjuntas.

Estratégia. Segundo pessoas ligadas ao PSDB, a presença de Aécio no palanque de Pestana tem o propósito de fortalecer a imagem do deputado, que precisou se distanciar dos holofotes durante o processo da Lava Jato em 2017. 

Na última eleição ao governo, por exemplo, em 2018, a campanha do hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Antonio Anastasia evitou a conexão com Aécio. A equipe do então candidato ao Palácio Tiradentes evitava até mesmo usar no material de divulgação as cores do PSDB ou citar o nome da sigla nos discursos. 

“Aécio tem projetos políticos. Ele tem experiência acumulada para voltar em grande estilo. Desde que o tempo permitiu que ele fosse absolvido das acusações, ele está cada vez mais presente. À medida em que as pessoas tomaram conhecimento da sua absolvição, ele estará preparado para voltar à primeira cena política”, disse uma pessoa próxima dele. 

Oficial. Para o presidente do PSDB em Minas, Paulo Abi-Ackel, Aécio é fundamental para a campanha tucana. “Ele é um líder influente em Minas. Mesmo sem ter se declarado candidato, ele aparecia na frente nas pesquisas ao Senado. Ele ainda é muito lembrado e, sem dúvida, isso contribuiu para a campanha do Pestana”, avalia.

Segundo o também deputado federal, a política é feita de ciclos, então, a campanha de Pestana é sim um “embrião” para o futuro do PSDB em Minas. “Nós já tivemos o nosso governo, veio o PT e o Novo, então, seguramente em algum momento nos será dado outra vez, é da democracia”, argumenta.

A estratégia dos tucanos é valorizar as gestões do PSDB, segundo Abi-Ackel, e investir no que publicizam como pouca força política do governador Romeu Zema. “(O período de gestão do PSDB) foi com voz ativa em Brasília. Não podemos nos conformar com tão pouco. Precisamos ter influência nas grandes decisões nacionais para trazer recursos federais para o Estado”.

Procurada, a assessoria de Aécio informou que os encontros dos dois candidatos continuarão sendo definidos em função da estratégia do PSDB. Por meio de nota, o deputado informou que sua agenda tem sido definida "a partir de contatos com aliados de diversas regiões do Estado, sobretudo, lideranças políticas, comunitárias e representantes da sociedade civil organizada que conhecem seu trabalho desde quando governador". 

Ainda segundo o comunicado, o parlamentar já esteve em campanha em cidades dos vales do Aço, Mucuri e Campo das Vertentes, do Norte e Sul de Minas, além da região metropolitana.  

Saiba mais

- O retorno de Aécio à cena política coincide com sua absolvição, no início do ano, pela Justiça da acusação de recebimento de R$ 2 milhões em propina de Joesley Batista, da J&F. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), entre fevereiro e maio de 2017, quando era senador, ele e sua irmã, Andrea Neves, pediram dinheiro ao empresário em troca de favores no Congresso. 

- O MPF recorreu da decisão argumentando que “não há dúvida de que Aécio e sua irmã incorreram na prática de corrupção passiva”. No início do mês, o procurador-geral da República, Augusto Aras, no entanto, pediu que o Supremo Tribunal Federal recuse uma denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral, em 2020, contra o deputado. Aras usou como argumento a Lei Anticrime, que após sofrer alteração vetou o recebimento de denúncias com base exclusivamente nas falas de delatores.

Pimentel faz trajeto contrário e busca eleição discretamente

Outro ex-governador que disputa a eleição deste ano para deputado federal é Fernando Pimentel (PT), mas, ao contrário de Aécio Neves, tenta se eleger de forma discreta, com poucas aparições públicas em eventos da chapa de Alexandre Kalil (PSD) e André Quintão (PT). Mesmo quando vai, ele não ganha destaque, como no lançamento da campanha do ex-presidente na capital, no dia 18, quando Pimentel, mesmo sendo ex-prefeito de Belo Horizonte, ex-governador e ex-ministro de Lula, ficou no fundo do palco e não foi citado. 

Em julho, ainda na pré-campanha, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, o ex-governador sequer chegou a subir no palco durante o ato conjunto de Lula e Kalil. Na ocasião, o ex-governador disse que já estava com voo de volta marcado mesmo estando na cidade mais cedo para compromissos de campanha. Pimentel tem aparecido mais frequentemente nos eventos do ex-secretário municipal de Kalil Adalclever Lopes (PSD), que tenta um posto como deputado estadual. 

Em nota, o ex-governador negou que tenha evitado eventos públicos e afirmou que tem feito campanha pedindo votos para a chapa completa do PT em Minas. Pimentel justificou ainda sua ausência nas agendas do partido argumentando que os compromissos "da campanha majoritária nem sempre coincidem com as campanhas proporcionais". 

“Estou na rua, em BH, na região metropolitana e no interior, pedindo votos para Lula/Kalil e Alexandre da Silveira. E para mim, deputado federal. O esforço é o mesmo, e na mesma direção”, explicou. 

Teto de vidro. O ex-governador tem sido reiteradamente criticado pelo governador Romeu Zema (Novo), que usa a comparação com a gestão petista, que foi mal avaliada, como um trunfo de campanha.