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Críticas de bolsonaristas não isolam Zema na eleição de 2022

Em 2018, o então candidato colou na imagem de Jair Bolsonaro para obter projeção e votos. Especialista afirma que governador “subiu no muro e evita conflitos

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 19 de abril de 2021 | 06:00
 
 
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador Romeu Zema (Novo) Foto: Pedro Gontijo / Imprensa MG

O governador Romeu Zema (Novo) tem sido repreendido nas redes sociais por bolsonaristas decepcionados com as críticas recentes que ele fez à condução do presidente Jair Bolsonaro na pandemia e também pela instituição da Onda Roxa em Minas Gerais.

Embora à primeira vista possa parecer que a reação desses eleitores bolsonaristas afeta as chances de reeleição de Zema, já que ele foi eleito em 2018 na onda de Bolsonaro, a avaliação do cientista político da UFMG Carlos Ranulfo é que o governador adquiriu força política para não depender eleitoralmente dos apoiadores mais fanáticos do presidente.

Em março, Zema decretou a Onda Roxa, que restringiu o funcionamento do comércio a somente serviços essenciais, inclusive com toque de recolher em algumas regiões do Estado. Ele também passou a criticar a velocidade da chegada de vacinas e a falta de coordenação central e a dizer que faltou uma condução adequada do enfrentamento da pandemia, referindo-se ao governo federal.

Por outro lado, o governador de Minas não assinou diversas cartas de repúdio a Bolsonaro e já saiu em defesa dele em diversas ocasiões, como quando disse que o presidente tem erros e acertos, mas é uma pessoa bem-intencionada.

Para Ranulfo, Zema tenta se equilibrar politicamente, mantendo pontes com o bolsonarismo ao mesmo tempo em que evita assumir a postura negacionista do presidente. “O governador subiu no muro e dali não sai. [...]Ele não tem por que se associar ao desgaste do Bolsonaro. Ele não ganha nada com isso. Mas também não ganha nada comprando briga com o presidente”, avalia.

O cientista político considera, que se não fosse a associação com Bolsonaro, Zema não teria sido eleito em 2018. Porém, para ele, o cenário agora é outro, e o governador não precisa do apoio do presidente em 2022.
Carlos Ranulfo argumenta que desde as eleições Zema passou de um “ilustre desconhecido” a governador e que, se não vem fazendo uma gestão brilhante, por outro lado também não acumulou desgaste, o que é um ponto positivo para quem busca a reeleição.

“O Zema já tem uma faixa própria. Em 2018 ele era um ilustre desconhecido, mas atualmente ele é o governador do Estado e já adquiriu capital político. E os governadores, de forma geral, têm uma avaliação bem melhor do que a do Bolsonaro. Isso significa que ele vai chegar a 2022 como um candidato competitivo, sem dúvida nenhuma, com ou sem o (apoio do ) bolsonarismo”, afirma o cientista político da UFMG.

Ranulfo levanta ainda dois outros pontos: o governador de Minas não pode evitar que o bolsonarismo lance um candidato ao governo estadual nem consegue impedir ataques feitos a ele pela base bolsonarista e por políticos apoiadores do presidente, como o deputado estadual Bruno Engler (PRTB). 

Em discurso recente durante reunião da Assembleia Legislativa, Engler disse que as críticas de Zema a Bolsonaro “beiram a canalhice” e demonstram “profunda ingratidão”. A reportagem tentou entrevistar Bruno Engler para esta matéria, mas a assessoria do deputado disse que ele não tinha disponibilidade.

“Não é refém”, diz deputado sobre correligionário

O deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG) defende que Zema faz um governo independente, de acordo com suas convicções do que é melhor para Minas e que, por isso, não é “refém” de qualquer grupo político, como o bolsonarismo.

“O Zema nunca foi refém disso. E nunca governou buscando aprovação do público bolsonarista ou mesmo aprovação dos eleitores dele. Ele sempre governou cumprindo seus compromissos de campanha com os eleitores e buscando fazer o que era melhor para Minas”, avaliou.

“Essa característica do Zema de não agir para criar embate ou amizades políticas ou agradar ou desagradar a determinado grupo eleitoral é o que faz dele o governador que ele é”, acrescentou o deputado.

Mitraud considera difícil avaliar se as críticas de Zema a Bolsonaro pela condução na pandemia farão com que os bolsonaristas deixem de votar no governador. “Pode ser que alguns fiquem vendo chifre em cabeça de cavalo, e falem: ‘não, como o Zema usa máscara ele não é patriota, e por isso vou votar contra ele’. Tem sempre esses malucos. E outros vão fazer uma avaliação específica do governo e vão querer manter ou não o Zema”, declarou.

“Melhor opção” no momento, diz Cabo Junio Amaral

Aliado do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Cabo Junio Amaral (PSL-MG) afirma que, por enquanto, o grupo apoia a reeleição do governador Romeu Zema (Novo).

“Enquanto não existir outra figura mais alinhada ao conservadorismo e ao bolsonarismo, que são coisas até próximas no contexto atual, vejo que ele é a melhor opção dentro desse cenário”, disse o deputado bolsonarista.

“Zema é a melhor figura, mesmo com essas declarações em que começa a se afastar de um alinhamento maior (com o presidente)”, completou o parlamentar.

Amaral disse lamentar as declarações recentes de Zema, mas que não dá mais peso do que elas já têm por considerar que as falas do governador não são extremas.

“Na minha opinião, ele está sendo mal orientado. Isso é possível de perceber até o dia que começou. Isso é uma orientação tanto política como também o perfil do novo Secretário de Saúde. Até mesmo a Onda Roxa coincidiu com a entrada do novo secretário”, avaliou.

Para o deputado federal, há chances remotas de o governador de Minas se tornar um inimigo do bolsonarismo, como aconteceu com aliados nas eleições de 2018 que depois se tornaram desafetos, como a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP).