Lava Jato

Cúpula do PMDB levou R$ 70 mi 

Sérgio Machado afirmou em delação ter repassado dinheiro a Renan, Sarney, Jucá, Lobão e Jáder

Sáb, 04/06/16 - 03h00

Brasília. O ex-senador e ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse aos investigadores da operação Lava Jato que arrecadou mais de R$ 70 milhões na companhia e que os recursos foram destinados à cúpula do PMDB. Em uma série de depoimentos após fechar seu acordo de delação premiada, ele afirmou que as verbas oriundas de propina foram repassadas ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao senador Romero Jucá (PMDB-RR), ao ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) e a outros líderes da legenda da qual faz parte desde 2002. As informações são do site do jornal O Globo.

De acordo com a reportagem, Machado apontou que a soma mais expressiva, de cerca de R$ 30 milhões, foi destinada a Renan, o principal responsável pela indicação dele para a presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras e maior empresa de transporte de combustível do país.

Na última quinta-feira o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, relator da Lava Jato na Corte máxima do Judiciário brasileiro, homologou a delação do ex-presidente da Transpetro. Para conseguir obter seu acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e com a força-tarefa da Lava Jato, Sérgio Machado gravou diversas conversas com os colegas peemedebistas. A partir da divulgação delas, dois ministros do governo interino de Michel Temer (PMDB) acabaram perdendo os cargos.

O primeiro a cair foi o então titular do Ministério do Planejamento, Romero Jucá. Ao retornar ao Senado, o peemedebista foi exaltado por Temer, que apontou que seus trabalhos seriam fundamentais para a articulação do governo no Congresso.

Segundo Sérgio Machado, Jucá foi destinatário de quantia de cerca de R$ 20 milhões. A mesma quantia teria sido repassada a José Sarney, amigo de longa data de Sérgio Machado.

Machado também disse que abasteceu as contas dos senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Jáder Barbalho (PMDB-PR). As acusações de Machado são consideradas devastadoras. O ex-presidente da Transpetro falou sobre as somas repassadas aos padrinhos políticos dele e, como se não bastasse, indicou os contratos e os caminhos percorridos pelo dinheiro até chegar aos destinatários finais.

Padrinho. No caso de Renan Calheiros, a denúncia coloca ainda mais pressão sobre o presidente do Senado. Nos bastidores, já discute-se a possibilidade de a procuradoria geral da República pedir o afastamento dele do cargo, como foi feito com o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-J).

Renan indicou Machado para a presidência da Transpetro em 2003, no início do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o manteve apoio para a permanência dele no cargo até ano passado, mesmo depois de ter sido acusado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, de receber propina.

Além de Sérgio Machado, seu filho Expedido Machado também assinou acordo de delação premiada. Morando em Londres, ele seria o operador internacional da cúpula do PMDB no esquema.

Conversa

Indiscreta. Foi Sérgio Machado o autor do áudio que derrubou o então ministro da Transparência Fabiano Silveira, flagrado discutindo estratégias para salvar Renan Calheiros no STF.

Eletronuclear

Novas prisões. O Ministério Público Federal vai recomendar à Justiça que José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, e Flávio David Barra, ex-presidente da Andrade Gutierrez Energia, ambos réus na ação que investiga suposto esquema de corrupção nas obras da usina nuclear de Angra 3 no âmbito da operação Lava Jato, sejam presos novamente.

Risco. Os dois haviam conseguido liberdade provisória em 17 de dezembro, após decisão em caráter liminar proferida pelo desembargador Antônio Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF2). Os procuradores veem riscos de que, em liberdade, Sobrinho e Barra pratiquem novos crimes ou atrapalhem as investigações sobre o suposto esquema de desvio de recursos e pagamento de propinas, que envolveria a Eletronuclear, responsável pelas usinas.

Incomum. Para o Ministério Público, medidas como o afastamento da administração de suas empresas e a ordem de recolhimento domiciliar são insuficientes para preservar a ordem pública e o processo de apuração dos crimes. A permissão para Sobrinho e Barra cumprirem prisão domiciliar dada pelo magistrado foi precedida de um expediente considerado “incomum” pelos procuradores.

Delator pagou para empresa de Lulinha

Curitiba. O delator da operação Lava Jato Roberto Trombeta afirmou, em termo de colaboração, que fez pagamentos de R$ 300 mil do Grupo Caoa para a empresa Gamecorp S/A, que tem Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como um dos sócios. O depoimento foi dado à força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, no Ministério Público Federal, no dia 29 de abril. O termo de colaboração entrou nos autos da Justiça Federal do Paraná na última quarta-feira. O juiz Sergio Moro colocou o processo em sigilo.

Trombeta menciona o pagamento durante oitiva sobre sociedades offshores criadas para o Grupo Caoa. Ele foi contador de todas as empresas pertencentes ao grupo.

O grupo é investigado na operação Acrônimo, que apura um suposto esquema de lavagem de dinheiro por meio de sobrepreço e inexecução de contratos com o governo de Minas. As irregularidades começaram em 2005.

Os investigadores perguntaram a Trombeta e ao sócio dele, Rodrigo Morales (também delator na Lava Jato), sobre outros pagamentos “questionáveis”. Nesse contexto, eles revelaram que fizeram pagamentos de R$ 300 mil para a Gamecorp S/A.

O advogado de Lulinha afirmou que a Gamecorp recebeu pagamento do Grupo Caoa em virtude de publicitária, contratada pela agência que prestava serviços ao Grupo Caoa. Disse também que Lulinha é acionista indireto da Gamecorp e que os valores recebidos foram contabilizados e os impostos pagos.

Teori é o campeão de ações ocultas

Brasília. O gabinete do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, é o que reúne o maior número de procedimentos ocultos no tribunal, aqueles com o mais alto grau de sigilo adotado para a tramitação de apurações envolvendo autoridades.

São 121 processos que receberam essa classificação e estão sob os cuidados de Teori, mas segundo informações do tribunal, não é possível afirmar que todos são ligados ao esquema de corrupção da Petrobras.

O STF informou ontem que tramitavam na Corte 194 processos ocultos até a edição da resolução, na semana passada, que colocou fim ao uso da classificação oculto para a tramitação de inquéritos. Com os chamados ocultos, apenas o ministro relator e a Procuradoria Geral da República tinham acesso ao material.

Requerimento

Sigilos. Pela nova resolução, requerimentos de prisão, busca e apreensão e quebra de sigilo telefônico e fiscal serão processados e apreciados em autos separados e sob sigilo.

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